domingo, 11 de abril de 2010

Às voltas com os livros



Estas fotos foram-me enviadas pela M. A M quis presentear-me com a Elmira, porque acha que, como sou professora, devo andar sempre às voltas com os livros! Pois acertaste, querida M, os livros além de fazerem parte do meu trabalho, da minha profissão, também são os meus melhores amigos. Nos livros encontro mundos fantásticos à espera que penetremos neles, que os descubramos, mil personagens, ambientes para pintarmos com as muitas cores da nossa imaginação... Ler é bom, M! Espero que continues a ler, a contar histórias e a ilustrá-las. É um bom exercício!
Eu vou continuar a visitar o teu cantinho para brincar contigo e para ver o que escreves e o que lês.
Obrigada pela Elmira, M, realmente identifico-me um pouco com ela!

A lírica camoniana

A mulher


Um mover d’olhos, brando e piadoso


Um mover d'olhos, brando e piadoso,

sem ver de quê; um riso brando e honesto,

quase forçado; um doce e humilde gesto,

de qualquer alegria duvidoso;


um despejo quieto e vergonhoso;

um repouso gravíssimo e modesto;

üa pura bondade, manifesto

indício da alma, limpo e gracioso;


um encolhido ousar; üa brandura;

um medo sem ter culpa; um ar sereno;

um longo e obediente sofrimento;


esta foi a celeste fermosura

da minha Circe, e o mágico veneno

que pôde transformar meu pensamento.

Luís de Camões


Circe é uma feiticeira que aparece na Odisseia, poema épico de Homero. Para reter Ulisses na sua ilha, deu aos companheiros do herói uma bebida mágica que os transformou em animais. Auxiliado por Hermes, Ulisses obrigou Circe a devolver aos seus homens a sua forma primitiva. Depois, amou-a apaixonadamente durante um ano e teve dela um filho, Telégono.

O tema deste soneto é a beleza da mulher amada e o fascínio que ela exerce sobre o sujeito poético. O sujeito lírico traça um retrato da sua amada, mais espiritual do que físico, e conclui com uma referência à transformação do seu pensamento provocada pela sua formosura, que funcionaria como um “mágico veneno”. Esta escassa referência a características físicas (situadas no mundo sensível) e a predominância das qualidades morais (que integram o mundo inteligível) remete-nos para a ideologia platónica. Todavia, é sobretudo nítida a influência petrarquista no ideal de beleza feminina (a graça, o recato, a doçura, a brandura, etc.) e nas qualidades morais atribuídas à mulher amada, expressas por uma adjectivação abundante (brando, piedoso, honesto, humilde, quieto e vergonhoso, modesto, etc.) e por nomes abstractos (“bondade”, “brandura”, “medo sem ter culpa”,). As qualidades morais predominam sobre as físicas e o fascínio resulta, portanto, da beleza espiritual (“celeste formosura”): “…a celeste formosura (…) pôde transformar meu pensamento”.

O soneto pode dividir-se em três momentos:

1.º momento – as duas primeiras quadras e o primeiro terceto, em que o sujeito poético faz uma enumeração dos atributos físicos e morais da mulher amada.

A unidade da primeira parte deriva da repetição da mesma estrutura frásica: sucessão de frases nominais: determinante artigo indefinido (um ou uma) + nome + adjectivo.

O fim da enumeração coincide com a utilização do pronome demonstrativo esta, sujeito da primeira e única frase verbal que ocupa o segundo terceto e constitui a explicitação do objecto do discurso anterior – a mulher amada, referida pela palavra Circe (realidade mitológica).

As três primeiras estrofes são a descrição dessa mulher amada. É um retrato feito de um somatório de determinados aspectos, todos eles qualificados:

- mover de olhos = brando; piedoso; sem ver de quê

- riso = honesto; quase forçado

- gesto = doce, humilde; duvidoso de qualquer alegria

- despejo = quieto; vergonhoso

- repouso = gravíssimo; modesto

- bondade = pura; indicio manifesto da alma limpo; gracioso

- ousar = encolhido

- brandura

- medo = sem ter culpa

- ar = sereno

- sofrimento = longo; obediente


Os aspectos focados têm um elevado nível de abstracção (reforçado pela utilização do determinante artigo indefinido) e constituem dois conjuntos: um que aparece na primeira quadra e que se refere a aspectos mais exteriores (olhar, riso, rosto); um outro que engloba os restantes (atitudes, qualidades, estados).


A qualificação (presente quer nos adjectivos, quer em alguns dos nomes), aponta para dois tipos de características:

- morais: piedoso, honesto, humilde, vergonhoso; modesto; bondade; puro; limpo sem ter culpa; obediente;

- psicológicas: brando, quase forçado; doce; duvidoso de qualquer alegria; quieto; gravíssimo; gracioso; encolhido; brandura; sereno; longo.


Apesar da abundância de vocábulos utilizados na descrição, ela não é, nem exaustiva, nem precisa, dado o seu carácter repetitivo (estrutura da frase, utilização de sinónimos, repetição de palavras).



2.º momento – os versos 12 e 13, em que se sintetizam esses atributos:

“Esta foi a celeste fermosura (…) e o mágico veneno”



3.º momento – o último verso, em que se confessa o fascínio sentido pelo poeta:

“… pôde transformar meu pensamento”.



O carácter descritivo do poema, constituído por uma enumeração de qualidades e seus efeitos no sujeito poético, determina a utilização de certos recursos estilísticos:

- o encavalgamento (continuação do sentido de um verso no verso seguinte), que acentua a naturalidade e fluidez do ritmo da enumeração;

- a anáfora, conseguida aqui pela repetição do determinante artigo indefinido em inicio de verso, e que marca a passagem de uma qualidade para a outra;

- a conjugação do encavalgamento com as pausas (assinaladas por ponto e virgula) é também utilizada para delimitar uma qualidade da seguinte;

- a predominância de sons fechados (ô, ê) e vogais brandas ou doces (u, i) coaduna-se também com a caracterização petrarquista da mulher amada;

- a utilização do discurso valorativo, que traduz o juízo de valor que o sujeito poético faz da mulher amada, e assenta, sobretudo, em adjectivos e expressões que contêm uma apreciação subjectiva das suas qualidades;

- a abundância de adjectivos e nomes abstractos e a quase inexistência de verbos;

- a derivação imprópria: “ um mover de olhos”; “um encolhido ousar”;

- o uso do determinante artigo indefinido, que sugere proximidade afectiva entre o sujeito poético e a mulher amada;

- o aproveitamento das figuras da contradição (a antítese e o oxímoro), que deixam ao leitor a tarefa de determinar o valor sugerido entre duas ideias contraditórias e contribuem para a caracterização de um tipo de mulher quase indefinível:

· A antítese: “celeste fermosura” / “mágico veneno”; “um mover de olhos (…)” / “sem ver de quê”

· O oxímoro: “um despejo quieto e vergonhoso”; um encolhido ousar”; “um medo sem ter culpa

- no último terceto, em que se referem os efeitos da beleza da mulher amada no sujeito poético, o sujeito lírico usa o discurso pessoal, visível na utilização dos determinantes possessivos de primeira pessoa “minha” e “meu”;

- a enumeração assindética, que consiste na acumulação de segmentos da frase, separados por ponto e virgula, e sem recorrer à copulativa e;

- a metáfora (“mágico veneno”; “ a minha Circe”).


Resumindo, o soneto desenvolve-se segundo uma sequencia lógica, visualizável num esquema:

1. Enumeração de qualidades / causas (análise) – onze versos;

2. Síntese dessas qualidades / causas (metáforas – “veneno”; “Circe” e antítese – “celeste fermosura / mágico veneno”) – dois versos;

3. Efeitos no sujeito poético (transformação do eu).



A Mena na cozinha

Solha em papelote

8 postas de solha
1 limão
sal
pimenta
orégãos
batatas
1 dente de alho
azeite
papel de alumínio

Ligue o forno e regule-o para os 220 °C.
Tempere a solha com sal, pimenta, o sumo de limão e uma pitada de orégãos. Deixe marinar durante pelo menos uma hora.

Descasque as batatas, corte-as às rodelas e salteie-as numa frigideira larga com o azeite e o dente de alho.

Quando as batatas estiverem quase prontas, corte o resto do limão em gomos finos, junte-os às batatas e dê-lhes uma entaladela.

Corte quatro quadrados de papel de alumínio (ou um grande), escorra a solha e ponha dois pedaços de peixe no centro de cada um.

Junte a marinada às batatas. Distribua por cima do peixe as batatinhas salteadas com os gomos de limão.

Feche os papelotes (ou o papelote grande) e leve ao forno, cerca de 20 minutos.

Sirva com salada mista.
Bom apetite!

Trabalhinho:



Caixa forrada a tecido e com aplicações em feltro e feltragem. Na tampa, découpage com areia.

2 comentários:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Adorei o poema de Camões.

Hoje não jantei, pois já é tarde, mas fiquei com água na boca.

Gostei muito da caixinha.
Imagino-a com amêndoas.

Bjs.

Lisa

Nile e Richard disse...

Oi Nena.
Parabéns pelo livro.Também gosto muito de ler.
Sua cozinha está muiiitíssimo saborosa.Os trabalhinhos uma gracinha.
Obrigado pela explicação da flor.
Boa semaninha para voce.
bjtos.Nile.

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