sexta-feira, 21 de maio de 2010

Intercâmbio cultural





Esta é a Justé, uma menina da Lituânia, que esteve a viver connosco durante cinco dias. Ela tem 15 anos e veio para Portugal no âmbito de um projecto abraçado por escolas de vários países: Portugal, Turquia, Grécia, Itália, Roménia, Lituânia... A nós calhou-nos a Justé (iusté). Ela estuda no seu país e frequenta o ano equivalente aqui ao oitavo ano. Como viu que ficámos admirados por não frequentar o 10.º ano como a M, explicou-nos que na Lituânia entra-se na escola com sete anos, quase a fazer oito. Ela gostou imenso da escola da M e disse que ali se respirava arte por todos os lados. Ri-me e disse-lhe que a escola estava em obras e que, por isso, tudo estava completamente virado do avesso, mas ela respondeu-me que não se importaria nada de trocar de escola. Conversávamos em inglês e por gestos, pois a língua inglesa não era o seu forte. Aliás, a palavra que ela dizia melhor era - what?

A Justé ficou encantada com o nosso país e disse até que era mais bonito que a Lituânia. A Lituânia é plana, explicava ela por gestos e Portugal cheio de altos e baixos. A nossa comida também é bem diferente e ela queria sempre saber o que estava em cima da mesa. Tinha que lhe explicar que ingredientes tinha a sopa, porque é que o puré de batata tinha olhinhos verdes... Depois de tudo bem explicadinho, ela saboreava cuidadosamente os alimentos. Contei-lhe que os pontinhos verdes do puré eram brócolos e ela mirou-me com um enorme olhar azul, dizendo que o sabor era muito agradável, mas que não gostava nada de brócolos. Quando chegasse a casa e dissesse à mãe que tinha comido brócolos, ela não iria, de modo nenhum, acreditar.

Disse-nos que o seu país está em crise e nós perguntámos-lhe se ela conhecia algum que não estivesse, riu-se.

Depois das aulas, a Justé estuda música, violino. Aqui quis mostrar-nos que também se desenrasca bem com a viola.
A Justé trouxe-nos alguns presentes do seu país, por exemplo, uma espécie de chouriço - biovela - com que confeccionei esta receita.


Ovos rotos com biovela

biovela
5 ovos
1 lata de milho
1 lata de cogumelos laminados
salsichas
1/2 pimento vermelho
sal
pimenta
batatas fritas
azeite

Frite as batatas em azeite. Numa frigideira grande, salteie os cogumelos, o milho, as salsichas e a biovela. Junte os ovos e mexa, misturando bem os ingredientes. Corte o pimento aos quadradinhos e junte-os ao preparado anterior. Tempere com sal e pimenta. Envolva as batatas fritas com a mistura dos ovos mexidos. Se gostar, pode polvilhar com salsa picada ou com queijo ralado.
Bom apetite!


Trabalhinho:

Um dos presentes que ofereci à Justé.


A poesia do século XX

O que é a poesia?


Ver Claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade

Repara no título deste poema ("Ver claro").
Neste poema, o verbo ver significa interpretar.

O verbo ver é polissémico, na medida em que admite vários sentidos (observar, olhar, interpretar, espreitar...) de acordo com o contexto em que se insere. Neste caso, o sujeito poético encara a visão como interpretação.


O poema "Ver claro", de Eugénio de Andrade, joga com palavras que evocam o conceito de luz e claridade (a negrito no texto) e de sombra e escuridão (a vermelho).
A oposição de palavras destes dois campos semânticos revela a complexidade da poesia, que apesar de ser luminosa, implica um processo moroso de decifração, de interpretação.

“nevoeiro dentro de si.” = Por vezes, o leitor não se encontra num estado favorável à decifração da mensagem poética.

“outra vez e outra vez/ e outra vez” = O acto de leitura implica insistência, releitura, familiarização progressiva com as palavras do poema.

“ficará cego de tanta claridade” = Ao decifrar a mensagem poética, o espírito do leitor fica iluminado e esclarecido.

”Abençoado seja se lá chegar” = A decifração da mensagem poética é um feito louvável.


Atenta no tempo e modo das formas verbais do último verso do poema “Abençoado seja se lá chegar.”: seja (Presente do Conjuntivo) e chegar (Futuro do Conjuntivo).
O modo Conjuntivo exprime probabilidade, demarcando-se do Indicativo que exprime realidade. Ao empregar o Conjuntivo no último verso do poema, o sujeito poético está a reforçar a complexidade do acto de decifração poética, encarando-o como algo eventual.

1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Sempre achei o intercâmbio cultura muito interesante e instrutivo.
É uma partilha e troca de usos e costumes.

Bjs.

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