segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Já venho!... Deixo-vos, no entanto, com muito amor...




Noite fechada


Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carícias leitosas do luar?

Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos nós percorremos de mãos dadas:
Às janelas palravam as vizinhas;
Tinham lívidas luzes as fachadas.

Não me esqueço das cousas que disseste,
Ante um pesado tempo com recortes;
E os cemitérios ricos, e o cipreste
Que vive de gorduras e de mortes!

Nós saíramos próximo ao sol-posto,
Mas seguíamos cheios de demoras;
Não me esqueceu ainda o meu desgosto
Nem o sino rachado que deu horas.


(...)

A Lua dava trêmulas brancuras,
Eu ia cada vez mais magoado;
Vi um jardim com árvores escuras,
Como uma jaula todo gradeado!

E para te seguir entrei contigo
Num pátio velho que era dum canteiro,
E onde, talvez, se faça inda o jazigo
Em que eu irei apodrecer primeiro!

Eu sinto ainda a flor da tua pele,
Tua luva, teu véu, o que tu és!
Não sei que tentação é que te impele
Os pequeninos e cansados pés.

(...)

Tu sorrias de tudo: os carvoeiros,
Que aparecem ao fundo dumas minas,
E à crua luz os pálidos barbeiros
Com óleos e maneiras femininas!

(...)

De súbito, na volta de uma esquina,
Sob um bico de gás que abria em leque,
Vimos um militar, de barretina
E galões marciais de pechisbeque,

E enquanto ela falava ao seu namoro,
Que morava num prédio de azulejo,
Nos nossos lábios retiniu sonoro
Um vigoroso e formidável beijo!

E assim ao meu capricho abandonada,
Erramos por travessas, por vielas,
E passamos por pé duma tapada
E um palácio real com sentinelas.

E eu que busco a moderna e fina arte,
Sobre a umbrosa calçada sepulcral,
Tive a rude intenção de violentar-te
Imbecilmente, como um animal!

(...)

E através a imortal cidadezinha,
Nós fomos ter às portas, às barreiras,
Em que uma negra multidão se apinha
De tecelões, de fumos, de caldeiras.

Mas a noite dormente e esbranquiçada
Era uma esteira lúcida de amor;
Ó jovial senhora perfumada,
Ó terrível criança! Que esplendor!

E ali começaria o meu desterro!...
Lodoso o rio, e glacial, corria;
Sentamo-nos, os dois, num novo aterro
Na muralha dos cais de cantaria.

Nunca mais amarei, já que não amas,
E é preciso, decerto, que me deixes!
Toda a maré luzia como escamas,
Como alguidar de prateados peixes.

E como é necessário que eu me afoite
A perder-me de ti por quem existo,
Eu fui passar ao campo aquela noite
E andei léguas a pé, pensando nisto.

E tu que não serás somente minha,
Às carícias leitosas do luar,
Recolheste-te, pálida e sozinha,
À gaiola do teu terceiro andar!

Cesário Verde


O sujeito poético e a "jovial senhora" passeiam pelas ruas da cidade, desde o entardecer, o pôr-do-sol, até ser "noite fechada".
Saíram "próximo ao sol posto", percorrendo "altas ruazinhas", tendo por companhia (a iluminação típica do final do século XIX) um "gás amarelado", "um bico de gás que abria em leque" e a lua que "dava trémulas brancuras", terminando já noite "dormente e esbranquiçada".
Podemos deduzir que o sujeito lírico nutria um sentimento de amor, de atracção, de desejo por esta mulher/criança, típica da cidade. Toda a sua aparência, a "flor" da sua pele, a sua luva, o seu véu atraem-no (perigosamente) como um íman. Esta mulher fatal, "pálida" e "perfumada" é, contudo, uma mulher distante e impassível, provocando uma certa humilhação ao homem que lhe segue os passos.
O sujeito poético não esqueceu as coisas que ela lhe disse ("Não me esqueço das coisas que disseste"), assim como o seu desgosto, ficando "cada vez mais magoado" à medida que erravam por travessas e vielas. Ela não é capaz de amar, é distante e indiferente aos sentimentos do sujeito lírico, por isso, é capaz de sorrir (ironicamente) de tudo o que vê, não conseguindo retribuir o amor que ele sente por ela. Portanto, há que fugir desta lúbrica mulher, deixando de a amar já que ela não o ama ("Nunca mais amarei, já que não amas").
O passeio efectua-se no espaço citadino, espaço privilegiado para a crítica do poeta. Deste modo, a referência à iluminação típica da época ("gás amarelado", "bico de gás que abria em leque"), às ruazinhas" e " cidadezinha" (de notar o diminutivo sarcástico, irónico), às vizinhas que "às janelas palravam" (note-se a expressividade do verbo), aos "cemitérios ricos, e o cipreste / Que vive de gorduras e de mortes!" (devido à grande quantidade de mortos, vítimas da peste que assolou a cidade de Lisboa, no final do século XIX), assim como a indiferença desta mulher citadina (que vive numa "gaiola" de um terceiro andar) são exemplos de manifestação crítica em relação ao espaço onde se encontra.
As apóstrofes presentes na estrofe catorze referem-se à presença feminina neste poema. A expressividade resulta da adjectivação anteposta e posposta e da antítese senhora/criança. Inicialmente, surge a "jovial senhora perfumada" que encanta e atrai o sujeito poético, com o seu aspecto de mulher fatal; por outro lado, ela revela-se uma "terrível criança", na medida em que parece "brincar" com os sentimentos do sujeito poético.
A passagem do momento presente para o passado recente ("Lembras-te tu do sábado passado") é feita através da memória, da lembrança do sujeito lírico. Qualquer coisa aconteceu que o faz relembrar, de um modo triste, os momentos passados com uma mulher distante e fria. Ele não esquece as coisas que ela lhe disse, não esquece o seu desgosto (estrofes três e quatro), mas não esquece também a atracção que ela lhe provocou ("E sinto ainda a flor da tua pele, tua luva, teu véu, o que tu és!"). A sua indiferença provoca uma revolta no poeta, que decide deixar de amar esta mulher-demónio que não será só dele.
O recurso ao campo surge, aqui, como salvação das suas mágoas, humilhações vividas na cidade, a nível sentimental. Após a frustração amorosa vivida naquele sábado e na cidade, o sujeito poético tenta abafar as suas mágoas num espaço limpo, puro e saudável como as pessoas que dele fazem parte. Escolhe, assim, o campo para se livrar das tentações perigosas da cidade.

O espaço citadino é retratado como sufocante, aprisionador, destruidor, verificando-se, até, a necessidade de evasão, trazendo para a cidade alguns aspectos que se relacionam com o campo. Cesário Verde nutria uma enorme preferência pelo campo, não como cenário propiciador do devaneio poético, mas como um espaço concreto, de trabalho e de canseiras, onde lhe era possível mover-se livremente e respirar um ar saudável.

Se a cidade é um local onde se sente oprimido, é natural que os seres femininos que aí se encontram sejam apresentados sob uma imagem denegrida e em contraste com as figuras femininas que se deslocam no campo. É por isso, também, que este local gera grandes paixões e exerce uma forte atracção no sujeito poético, enquanto a cidade lhe desencadeia náuseas, tormentos e doenças.





Trabalhinhos:






A Mena na cozinha

Bolo do Amor

Ingredientes:

  • 1 cama quente
  • 2 corpos diferentes previamente lavados
  • 500g de carícias
  • 1 banana, não muito madura
  • 2 tomates com pele
  • 2 marmelos
  • 1 forno devidamente aquecido e bem lavado
  • Beijos (quantidade escolhida).


Tempo mínimo de cozedura

- 15 minutos


Confecção:

Introduzir delicadamente os 2 corpos na cama, adicionando 50g de beijos ou mais, conforme a sua preferência.

Cobrir a superfície dos corpos com 500g de carícias (pode adicionar mel ou açúcar).
Agitar com as mãos os marmelos até estes ficarem ligeiramente rijos mas de forma a não machucarem.
Meter a banana previamente aquecida com a ponta dos dedos, no forno, à temperatura ambiente.

Recomendações:
Deixar os dois tomates com pele no exterior.
Manobrar a banana delicadamente em sentido vai e vem.
Fazê-la sair de tempos em tempos e voltar a metê-la, controlando assim a cozedura e com a preocupação de esta não perder o sumo antes do tempo.

Atenção especial:
Não bata as claras em castelo.

Nota: O tempo de cozedura pode variar com a marca e tipo de forno utilizado.
Deixe arrefecer se não usou nenhum produto, desenforme nove meses depois.
Se usou, lave bem a forma e a banana e estão prontos para outro bolo.



As férias estão aí e, ao deparar-me com esta receita que recebi hoje por correio electrónico, decidi publicá-la e incentivar-vos até a confeccioná-la com mais frequência neste período de lazer e de descontracção em que é preciso retemperar energias. Este bolo, além de ser bem saboroso, faz bem à saúde e ao espírito. Logo, usem e abusem dos ingredientes, pois cada vez que se prova é mais e mais gostoso e não há o perigo de enjoarem!

Estou de férias e vou andar por aí, publicarei quando me apetecer ou quando tiver algo para vos contar. Andarei, pois, de portátil à tiracolo!

Boas férias e descansem bastante. Não deixem de passar por aqui, pois sentirei a vossa falta.


3 comentários:

Marilú disse...

Olá Mena!!!
Vim dar uma espiadinha por aqui e te desejar um lindo dia.
Bjssssss
Marilú

Chocolate disse...

boas férias! beijinhos

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Tb estou de férias, na praia.
Fico por aqui enquanto me apetecer, pois a casa é da minha irmã.
Como trouxe o pc, embora mais lentamente, venho visitar os amigos.

Gostei imenso do poema que desconhecia.

Ao som canção saboreei uma fatia de bolo.

Boas férias.

Bjs.

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