terça-feira, 30 de março de 2010

A poesia não se explica...




Na última semana de aulas, decorreu a Semana da Poesia, actividade promovida pela nossa Biblioteca. Os alunos escreveram poemas que depois de avaliados serão expostos. Os melhores receberão prémios. Depois, darei a conhecer os poemas vencedores!

Lembram-se deste manequim!

Foi ele, o nosso poeta, quem "declamou" uma série de poemas escolhidos para assinalar o Dia Mundial da Poesia.

A Poesia

“ Sei que a poesia não se explica, a poesia implica, como costuma dizer a minha amiga Sophia de Mello Breyner. Sei que a energia, como diz o meu amigo Herberto Hélder, é a essência do mundo e que “os ritmos em que se exprime constituem a forma do mundo”. Sei, como o poeta russo Mandelstan que “escrever é um acontecimento cósmico”. E que cada palavra é um pedaço do universo. Ou como dizia Klebnikov: “Na natureza da palavra viva, esconde-se a matéria luminosa do universo”. Talvez tudo isto seja a poesia. Ou talvez ela não seja mais do que o primeiro verso, aquele que nos é dado, como sempre dizia Miguel Torga, porque os outros têm de ser conquistados. Talvez tudo esteja nesse primeiro verso, que é o instante da revelação e da relação mágica com o mundo através da palavra poética. Talvez o poeta, afinal, não seja muito diferente daquele sujeito que vemos nas tribos primitivas, de plumas na cabeça, repetindo palavras mágicas enquanto dança e pula ao ritmo de um tambor. O poeta é esse feiticeiro. Dança com as palavras ao som de um ritmo que só ele entende. Ou é talvez o adivinho. (…)

A poesia é, assim, antes de tudo, uma forma de medição. Um presságio do sul, como dizia o meu amigo José Manuel Mendes. Uma encantada, encantatória e desesperada tentativa de captar a essência do mundo e de, através da palavra, “mudar a vida”, como queria Rimbaud. Uma forma de alquimia, que procura o impossível. Ou seja: o verso que não há.

A poesia é também a língua. E para mim a língua começa em Camões, que tinha uma flauta mágica. A música secreta da língua. A arte e o ofício da língua e da linguagem. (…) O poeta, dizia Cioran, “ é aquele que leva a sério a linguagem”. E o que é levar a sério a linguagem? Eu creio que é estar atento aos sinais. Os sinais mágicos da palavra. Os sinais da essência do mundo que por vezes se revelam na palavra poética. (…) Isto é o que eu sei de poesia. Talvez seja muito pouco. Mas não sei se é possível saber mais.”

Manuel Alegre



“Peguem num poema e leiam-no. Não é preciso mais nada.”

Eugénio de Andrade





A corrente renascentista da lírica camoniana

O Amor


Está o lascivo e doce passarinho
Co'o biquinho as penas ordenando,
O verso sem medida, alegre e brando,
Espedindo no rústico raminho.

O cruel caçador, que do caminho
Se vem, calado e manso, desviando,
Na pronta vista a seta endireitando,
Lhe dá no Estígio lago eterno ninho.

Destarte o coração, que livre andava,
(Posto que já de longe destinado),
Onde menos temia, foi ferido.

Porque o Frecheiro cego me esperava,
Para que me tomasse descuidado,
Em vossos claros olhos escondido.

Luís de Camões

Este poema possui:

1. uma estrutura bipartida, pois pode ser dividido em duas partes. No primeiro momento, constituído pelas duas quadras, estamos perante um cenário exterior dominado por uma situação concreta, um ambiente natural em que contrastam as atitudes do passarinho alegre e despreocupado com as do caçador cruel, dissimulado e pronto a atacar. No segundo momento, constituído pelos dois tercetos, o cenário exterior transfigura-se numa situação abstracta de interiorização lírica, isto é, de expressão de sentimentos, onde contrastam as atitudes do coração, livre e despreocupado, e do Frecheiro cego, representante do Amor e do destino que, pacientemente, esperava por acertar com a flecha no coração do sujeito poético.


2. e uma estrutura comparativa

A estrutura bipartida está, igualmente, construída por meio de uma comparação que o soneto estabelece entre o que acontece ao passarinho e ao sujeito lírico. É o conector do discurso comparativo Dest’arte que constitui o elemento de ligação entre estes dois termos de comparação. Assim, tal como o passarinho, alegre, despreocupado e cantando alegremente é surpreendido e morto pelo cruel caçador (“que do caminho vem calado e manso”), também o coração do sujeito poético, que “livre andava”, é surpreendido e ferido pelas flechas de Cupido (que esperava escondido) no momento em que vislumbrou os “claros olhos da amada”.

A presença de diminutivos nas duas primeiras estrofes e do eufemismo presente no oitavo verso do poema suaviza a imagem do passarinho que é ferido fatalmente. Já a partir dos dois tercetos, o tom da confissão do novo amor que fere mortalmente o sujeito lírico é menos suavizado. Para isso contribui a ausência de diminutivos e a expressão “foi ferido” que não é atenuada de forma eufemística. Para além disso, a perífrase “Frecheiro cego”, uma expressão mais longa e mais indirecta que substitui a palavra Cupido, é empregue não com a intenção de suavizar a imagem desta figura mitológica, mas sim com a intenção de sublinhar as propriedades atribuídas a esta entidade: a propriedade que lhe permite lançar setas e a característica de o fazer indiscriminadamente, despertando nos amorosos um amor irremediável.

Perífrase - Figura de estilo que consiste em substituir uma palavra ou expressão por meio de uma expressão mais longa, indirecta e descritiva.

Eufemismo - Figura de estilo ou acção que consiste em suavizar a expressão de uma ideia, substituindo a palavra empregue normalmente por outra mais agradável.

Os processos que mais frequentemente servem esta suavização do pensamento assentam no recurso a sinónimos e metáforas, que evitam a expressão directa e clara do termo.


A Mena na cozinha

Bolo Madalena

500 g de açúcar louro

6 ovos

1 colher de margarina

Raspa de limão

1 colher de canela

2 mãos de farinha com fermento

Misture todos os ingredientes com a batedeira.



Forre uma forma com papel vegetal e leve ao forno de 10 a 15 minutos.

Delicie-se!




Trabalhinho:

Porta-chaves e respectiva embalagem.