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chá, chá, chá e mais chá... quente, morno, frio, gelado...Gostei da maquilhagem que a M me fez, mas sou adepta de algo mais simples e natural. Pronto, como era para uma festa, enfim...
Conheceram-se na faculdade e tornaram-se amigos inseparáveis: Maria, Deolinda, Filipa, Paula e Francisco. E foram cinco anos de loucura total: iam às aulas juntos, estudavam juntos, faziam cábulas juntos, copiavam juntos, dividiam a matéria pelos cinco..., iam almoçar juntos, faltavam às aulas juntos para uma bela tarde de cinema, compras ou só pelo prazer de ficarem à conversa, num qualquer jardim da capital... Passavam as férias grandes juntos, na praia, acampados, com os irmãos da Maria. Os pais da Maria apareciam todos os dias com o almoço e o jantar preparados, com o pão fresco e mais alguns mimos... O namorado da Maria aparecia no fim-de-semana. E todos os anos, eram três meses de sol, de jogos, de discoteca, de passeios à beira-mar, de noitadas à roda da fogueira a cantar, a bebericar café quentinho...
Depois, findo o curso, separaram-se, nunca mais souberam uns dos outros. Tinham dito: se tivermos de nos cruzar um dia...
Maria casou e todos apareceram para seu grande espanto, não enviara convite, mas o destino encarregou-se de os juntar. Estavam todos tão felizes, fizeram uma roda com a Maria, riram a bom rir, recordaram o tempo da faculdade, contaram as aventuras e desventuras... Separaram-se com mais um se tiver de acontecer, encontramo-nos por aí!
Passaram anos... Volvidos cerca de vinte anos, surgiu, não por acaso, no café, o Francisco. Maria estava com uma colega a lanchar e sentiu um olhar insistente, incomodativo... Levantou os olhos do croissant e buscou o olhar persistente, encarou-o interrogativamente e soltou um: eu conheço aqueles olhos. A colega virou-se e seguiu o olhar da Maria. Conheces? Não me parece que seja de cá, nunca o vi! Conheço, tenho a certeza que conheço aquele olhar. Ele levantou-se e saiu. Quando decidiram pagar, o empregado anunciou que a conta estava paga. Olharam uma para a outra interrogativamente, encolheram os ombros e saíram. Despediram-se. A Ana atravessou a praça e a Maria seguiu para o estacionamento... A meio do caminho, Maria sentiu que estava a ser seguida e virou-se, nada de especial, só pessoas que caminhavam para o parque de estacionamento, como ela. Pagou e dirigiu-se para o carro, tirou a chave, abriu a porta, colocou a mala e os sacos no banco detrás e, quando ia para fechar a porta, estava ao seu lado o sujeito do café.
- Não te lembras de mim?
Aquela voz, aqueles olhos, aquela maneira de olhar...
- Francisco?
- Estava a ver que não me reconhecias.
- Que fazes por aqui?
- Fui colocado aqui, no liceu. Já te procurei vezes sem fim e agora, de repente, ali estavas tu no café.
- E reconheceste-me logo?
- Estás igual, os mesmos olhos verdes grandes, a mesma boca, o mesmo sorriso, não mudaste muito, continuas tão bonita...
- Gostava de continuar aqui na conversa, saber mais de ti, mas não posso, tenho de ir buscar os miúdos à escola.
- Encontramo-nos amanhã, Maria? No café?
Encontraram-se. Tinha casado, tinha dois filhos, tinha-se divorciado, tinha tido um caso que correu muito, mas muito mal. Mudou de cidade. Deixou o Alentejo... Estava um bocado desiludido. Tinha concorrido para aquela zona na esperança de a encontrar, chegou mesmo a pensar que ela não estivesse mais ali... Finalmente, quando estava já a desistir, viu-a a entrar no café, a rir, como só ela ria...
- Maria, eu estive muito apaixonado por ti, mas tu só tinhas olhos para o Jorge. Eu acho que todos sabiam da minha paixão por ti, menos tu. Até os teus pais perceberam...
- Ora, Francisco, estás a fazer confusão, éramos amigos, os melhores amigos do mundo, só isso.
- Só queria que soubesses que sonhei muitas vezes contigo, perguntei-me muitas vezes como teria sido se eu te tivesse dito que te amava...
- Não teria acontecido nada, Francisco, eu casei-me pouco tempo depois das últimas férias que passámos juntos, lembras-te?
E os encontros entre a Maria e o Francisco continuaram, almoçaram algumas vezes juntos, lancharam muitas vezes juntos, passearam umas tantas vezes, riram muitas vezes juntos, relembraram tempos idos juntos... Parecia que a velha amizade tinha renascido...
Um dia, Francisco agarrou a mão de Maria e perguntou de supetão:
- Já alguma vez traíste o teu marido?
Ela fixou-o com uns olhos do tamanho do mundo, inquisidores, atónitos, e respondeu:
- Não, nunca.
- E queres trair?
Maria não queria acreditar no que ouvia, os olhos dele suspensos nos seus, enormes, tão grandes de perplexidade, como a enormidade daquelas palavras.
- Mas que pergunta é essa agora?
- Eu amo-te, tu sabes, sonho todos os dias contigo, quero fazer amor contigo, quero-te, desejo-te como nunca desejei ninguém. Fico louco só de pensar que fazes amor com o teu marido...
- Por amor de Deus, Francisco, tu amaste uma menina de vinte anos que já não existe, somos só amigos. Eu não vou trair o meu marido, eu amo-o e não te amo, gosto de estar contigo, de conversar contigo, de rir contigo... mas, não me imagino a ser outra coisa para ti...
- Eu não te quero como amiga, será que ainda não percebeste? Eu quero que sejas minha amante.
- Não. Nunca. Estás parvo?
- Foi um erro procurar-te. Nunca mais te quero ver.
Nem se despediram. Nunca mais falaram. Nunca mais de encontraram.
Mas doeu, doeu a desilusão, doeu a amizade desfeita, doeu, doeu... dói.
E, por fim, delicie-se com as imagens, acedendo ao link:
http://www.airpano.ru/files/Manhattan-New-York-USA/start_e.html
2 comentários:
Hummm... mas que bom gosto!
Obrigada, mfc!
bj
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