sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tempo



Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga

2 comentários:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Belo e sofrido poema.

Há tempo e tempo...magoado ou não...

Bjs.

mfc disse...

O Tempo é um impiedoso!

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