O campo em Cesário Verde simboliza a energia, a vida, a saúde, o espaço onde se retemperam as forças esgotadas no turbilhão da cidade (Nós e De Tarde).
O verso "No campo eu acho nele a musa que me anima" pode ilustrar o quanto o espaço rural é, para além de refúgio, local privilegiado de inspiração poética.
A preferência do poeta pelo campo, que ele perspectiva como espaço de fertilidade, de produção, é metaforicamente entendida como reconhecimento dum espaço propício a um outro tipo de produção: a criação poética.
O campo é regularmente evocado nos poemas de Cesário Verde, surgindo caracterizado:
- pela vitalidade
O verso "No campo eu acho nele a musa que me anima" pode ilustrar o quanto o espaço rural é, para além de refúgio, local privilegiado de inspiração poética.
A preferência do poeta pelo campo, que ele perspectiva como espaço de fertilidade, de produção, é metaforicamente entendida como reconhecimento dum espaço propício a um outro tipo de produção: a criação poética.
O campo é regularmente evocado nos poemas de Cesário Verde, surgindo caracterizado:
- pela vitalidade
" (...) Em Março,
Que mocetona e que jovem
A terra! Que amor esparso
Corre os trigos, que se movem
As vagas dum verde garço!
(...)
Fartam-se as vacas nas veigas
E um pasto orvalhado e moço
Produz as novas manteigas."
Que mocetona e que jovem
A terra! Que amor esparso
Corre os trigos, que se movem
As vagas dum verde garço!
(...)
Fartam-se as vacas nas veigas
E um pasto orvalhado e moço
Produz as novas manteigas."
Provincianas
- pela amplitude de horizontes
"E via, do outro lado, eiras, lezírias, prados
(...)
Montanhas inda mais longinquamente,
Com restevas, e combros como boças,"
Nós
(...)
Montanhas inda mais longinquamente,
Com restevas, e combros como boças,"
Nós
"Nós dávamos, os dois, um giro pelo vale:
Várzeas, povoações, pegos, silêncios vastos!"
Várzeas, povoações, pegos, silêncios vastos!"
Em Petiz
- pela lição de vida frugal que encerra
"(...) Torna-se preciso
Ter-se muito vigor, muito juízo
Para trazer a vida equilibrada!
Hoje eu sei quanto custam a criar
As cepas, desde que eu as podo e empo.
Ah! O campo não é um passatempo
Com bucolismos, rouxinóis, luar."
Nós
Ter-se muito vigor, muito juízo
Para trazer a vida equilibrada!
Hoje eu sei quanto custam a criar
As cepas, desde que eu as podo e empo.
Ah! O campo não é um passatempo
Com bucolismos, rouxinóis, luar."
Nós
- pela possibilidade do amor idílico
"Talvez já te esquecesses, ó bonina,
Que viveste no campo só comigo,
Que te osculei a boca purpurina,
E que fui o teu sol e o teu abrigo.
(...)
E no pomar, (...)
Quando ao nascer da aurora, unidos ambos
Num amor grande como um mar sem praias.
(...)
E, afastados da aldeia e dos casais,
Eu contigo, abraçados como as heras,
Escondidos nas ondas dos trigais,
Devolvia-te os beijos que me deras;
Que viveste no campo só comigo,
Que te osculei a boca purpurina,
E que fui o teu sol e o teu abrigo.
(...)
E no pomar, (...)
Quando ao nascer da aurora, unidos ambos
Num amor grande como um mar sem praias.
(...)
E, afastados da aldeia e dos casais,
Eu contigo, abraçados como as heras,
Escondidos nas ondas dos trigais,
Devolvia-te os beijos que me deras;
Setentrional
- pela sugestão de liberdade
- pela sugestão de liberdade
"Entretanto, não há maior prazer
Do que, na placidez das duas horas,
Ouvir e ver, entre o chiar das noras,
No largo tanque as bicas a correr!"
Nós
- pela fruição sensual
Do que, na placidez das duas horas,
Ouvir e ver, entre o chiar das noras,
No largo tanque as bicas a correr!"
Nós
- pela fruição sensual
"(...) As sebes de encosto Dão madressilvas cheirosas. Que entontecem como um mosto. (...) Cresce o relevo dos montes, Como seios ofegantes;"
Provincianas
"De longe o trigo em monte, e os calcadoiros,
Lembravam-me fusões de imensos oiros,
E o mar um prado verde e florescente."
De Verão
Lembravam-me fusões de imensos oiros,
E o mar um prado verde e florescente."
De Verão
"E ouvia murmurar à doce aragem
Uns delírios de amor, entristecidos;"
Setentrional
Uns delírios de amor, entristecidos;"
Setentrional
- pela possibilidade que oferece de paz familiar
"Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao camo! (...)
Nós salvámo-nos na fuga."
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao camo! (...)
Nós salvámo-nos na fuga."
Nós
- pela capacidade regeneradora que traz ao poeta, enquanto homem da cidade
"Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.
(...)
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!"
Nós
Fugiu da capital como da tempestade.
(...)
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!"
Nós
Mas a imagem que Cesário Verde nos oferece do campo não é apenas idílica. Nela, incluem-se também as fatigas próprias do trabalho árduo da época das colheitas, o fracasso dessas colheitas, a concorrência do estrangeiro, as adversidades metereológicas, ou até mesmo a doença e a morte.
Exemplos:
Exemplos:
"Mas hoje a rústica lavoura, quer
Seja o patrão, quer seja o jornaleiro,
Que inferno! Em vão o lavrador rasteiro
E a filharada lidam, e a mulher!...
(...)
A nós tudo nos rouba e nos dizima:
O rapazio, o imposto, as pardaladas,
As osgas peçomhentas, achatadas,
E as abelhas que engordam na vindima.
E o pulgão, a lagarta, os caracóis,
E há inda, além do mais com que se ateima,
As intempéries, o granizo, a queima,
E a concorrência com os espanhóis.
(...)
"Moléstia negra" nem "charbon" não era,
Como um archote incendiando as parras!
Tão-pouco as bastas e invisíveis garras,
Da enorme legião do filoxera!"
Seja o patrão, quer seja o jornaleiro,
Que inferno! Em vão o lavrador rasteiro
E a filharada lidam, e a mulher!...
(...)
A nós tudo nos rouba e nos dizima:
O rapazio, o imposto, as pardaladas,
As osgas peçomhentas, achatadas,
E as abelhas que engordam na vindima.
E o pulgão, a lagarta, os caracóis,
E há inda, além do mais com que se ateima,
As intempéries, o granizo, a queima,
E a concorrência com os espanhóis.
(...)
"Moléstia negra" nem "charbon" não era,
Como um archote incendiando as parras!
Tão-pouco as bastas e invisíveis garras,
Da enorme legião do filoxera!"
Nós
3 comentários:
Na escola, não gostava de Cesário Verde. Não me lembro se o escritor era leitura obrigatória, mas tenho uma ideia da análise dos seus poemas nalgumas aulas.
Mas só muito mais tarde, quando comecei a tentar fazer poesia (meados de 2005), é que comecei a dar valor à poesia em geral e à de Cesário Verde em particular.
A análise que fizeste ao aspecto do campo é muito interessante. Gostei.
Mena, desejo-te um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.
Olá,
Cesário Verde faz parte do programa do 11.º ano. Quando dei este poeta na escola, adorei e continuo a gostar bastante. Ainda bem que gostaste da minha análise.
Bom Domingo também para ti e, volta sempre!
Bj
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