A Rita frequenta o 11.º ano, foi minha aluna no 9.º e era uma das minhas melhores alunas.
Ontem, veio até mim com o teste de Português na mão, o primeiro deste período, queria que eu lhe desse uma vista de olhos. Olhei e fiquei estupefacta com a grande mancha vermelha que se estendia ao longo das quatro páginas que compunham a prova. Perguntei:
- Rita, tu não costumavas dar erros, que se passa? Que mar vermelho é este?
- Mar, professora? Só se for um mar de sangue!
- Bem, ambas as metáforas são más!
- Pois, a sua é bem mais um eufemismo, professora!
Peguei no teste e percebi logo o que se passava.
- Professora, o professor sublinhou a vermelho os erros e as palavras que não escrevi, segundo o novo AO. A minha mãe deu-me o maior raspanete da minha vida, pois acha que isto tudo são erros. Este período, o professor disse que temos de escrever segundo as novas regras, mas não as sabemos nem concordamos com elas...
Falei com mais alguns alunos daquela escola e todos, mas todos os alunos, andam baralhados, pois os professores de Português querem, porque querem, que se passe a cumprir o AO e os professores das outras disciplinas querem que eles escrevam como sempre escreveram, pois não sabem “com que linhas se cose a nova ortografia.”
Na minha escola, há quem exija aos alunos que escrevam o estabelecido no novo AO e há quem, como eu, o não faça. Não penalizo quem escreve de uma ou de outra maneira nem sublinho a vermelho tudo e mais alguma coisa.
Causa-me urticária a nova escrita que vejo afixada na sala de professores em tudo o que é documento e tenho vontade de pegar numa caneta vermelha e corrigir tudo... Fico indisposta quando tenho de ler circulares aos alunos com a nova ortografia, vinda da Direcção, mas com erros de pontuação e outros... Fico revoltada, quando exigem que se reescrevam as actas, por estarem escritas, como dizem, no português antigo, “do tempo dos dinossauros”. Fico zangada, quando me chamam “Velho do Restelo”...
Enfim! Que bom era acordar deste pesadelo, deste sonho mau!
2 comentários:
Como eu concordo contigo.
E acho uma estupidez inundar de vermelho ou tirar pontos (como fazem a uma aluna a quem a minha mãe, professora há mais de 40 anos) dá apoio escolar...
até porque, se há um período de transição, não se pode exigir às pessoas que esqueçam de um dia para outro os anos de ensino que levam....
é terrível perdermos a nossa identidade e escrita... e a favor de quê?
beijinhos
É revoltante, Nuvem!
Bj
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