Não me fecundem... porque
f-----s andamos nós!
Zé do Tijolo
resolveu fazer uma vivenda. Com as poupanças de uma vida de trabalho e uns
dinheiritos que recebeu da herança dos seus sogros satisfez o sonho compartilhado
com a mulher.
Pagou 23 % de IVA
sobre os materiais, pagou as certidões das Finanças e da Conservatória, pagou o
Imposto de Transacções, pagou o imposto de selo, pagou a Escritura e respectivo
registo, pagou a ligação da água e da electricidade, pagou à Câmara as
licenças, etc. etc. etc.
Apesar de ter
perdido tanto tempo para pagar todos estes impostos ao Estado e de ter de pagar
ainda durante toda a vida uma renda chamada IMI, ficou de sorriso rasgado ao
olhar para a sua bela casinha. O seu esforço, os muitos sacrifícios e privações
tinham valido a pena: tinha um tecto a que podia chamar seu...
Qual não é o seu
espanto quando ouve um comentador de economia na TV, sujeito engravatado e bem
falante, dizer o seguinte:
- o país está nesta
grave crise porque os portugueses gastaram demais , construíram demasiadas
moradias, por isso os sacrifícios impostos pela Troika , blá, blá, blá...
Zé do Tijolo
sentiu-se um Zé do Calhau! Sempre tinha pensado que tinha feito a sua casinha
com o seu próprio dinheiro e nem um tostão tinha pedido ao Estado! Era tão
idiota, tão imbecil que chegara mesmo a pensar, dada a enorme panóplia de
impostos que tinha liquidado ao Estado, que esse mesmo Estado devia estar
agradecido pela sua contribuição.
Este importante
catedrático de economia veio-lhe abrir os olhos. Afinal, o dinheiro que tinha
penosamente poupado ao longo da vida não era seu... nem o dinheiro da
herançazita... porque se fosse realmente seu como poderia ser responsável pela
crise do país? Zé do Tijolo sentiu uma enorme vergonha e remorso por ter feito
o imóvel e ter dado trabalho e dinheiro a ganhar a tantas artes, provocando,
segundo a tal sumidade catedrática, a bancarrota do seu país adorado.
O sorriso rasgado do
Zé do Tijolo transformou-se num esgar: era ladrão... tinha roubado a pátria
lusa e vivido acima das suas possibilidades...!?!?
O Manel Fangio
vestiu-se com primor. Pegou no filho de 18 meses ao colo e acompanhado da
mulher dirigiu-se ao Stand no centro da cidade. Ia ansioso e não via a hora de
sentar o seu fiofó naquele sonhado Renault Clio prateado. Deu um longo suspiro
de satisfação. Não mais teria que conduzir a velha e ruidosa motorizada, com a
proa empinada pelo peso dos nadegueiros roliços da companheira grávida,
obrigando-o a um equilibrismo de artista circense. O pior era o Inverno, chuva
e gelo , quando tinha de levar e trazer o rebento do infantário. Cortava-lhe o
coração sujeitar o filho a tais condições e tremia de medo só de imaginar um
acidente, que andava sempre à espreita. Águas passadas: agora tinha um popó que
poderia chamar seu. Bem, não era mesmo seu porque pedira emprestado ao banco
uma parte do dinheiro e só após 48 prestações mensais poderia ficar registado
como sua propriedade.
Manel Fangio assinou
ansioso os documentos: o ISV, o IVA, o IUC, o seguro e o registo provisório...
Agora era rodar a
chave, parar na estação de serviço e abastecer de combustível. Ufa! Achou caro:
o funcionário argumentou que sobre o preço do litro incidia um imposto para o
Estado de 58 %, repartido pelo ISP e IVA.
Bem... não havia
nada a fazer: era pagar e "não bufar" porque se bufasse estava
sujeito a acelerar a evaporação do precioso líquido. Apanhou a SCUT e escutou
nos pórticos um piar. Não, não era o chilrear de uma ave a repousar do voo. Era
a electrónica a zelar pelo erário público...
Enfim, chegou a
casa. Ligou a "caixa que mudou o mundo" e escuta o perorar papagueado
de um anafado comentador político, que dizia:
- o país está na
bancarrota porque o povo viveu acima das suas possibilidades reais , compraram-se
muitas viaturas , agora é preciso pagar a factura e aceitar a austeridade , blá
, blá , blá...
Manel Fangio
escorregou do sofá. Tinha, de facto, pedido dinheiro ao banco para pagar o
automóvel, tinha pagado do seu bolso todos os impostos inerentes ao Estado,
nunca lhe passou pela "cachimónia", nem se lembrava, de ter pedido
dinheiro ao dito Estado para comprar o veículo!!! Como poderia ser responsável
pela crise do país?
Bem... este lustroso
político, licenciado em economia ainda muito jovem, com apenas 37 anos,
possuidor de uma retórica invejável não podia estar enganado... era um
doutor...
O sorriso de
satisfação do Manel Fangio murchou: era um corrécio... tinha esbulhado a ditosa
pátria muito amada, levando com o seu escandaloso dislate rodoviário o
país à ruptura financeira...
Os pecados implicam
penitências. Manel Fangio e sua família, incluindo o rebento e o que estava
para rebentar, teriam que pagar durante décadas e com "língua de
palmo" pelo crime da exuberância de ter passado da motorizada para o Clio.
como sou burro...
como sou jumento...
como sou asno...
como sou solípede...
como sou
cavalgadura...
como sou asinino..
como sou jegue...
como sou azémola...
como sou alimária...
como sou tudo isso e
muito mais...
e com a jeriquisse
crónica de que sou feliz portador ou contemplado, pergunto:
O Zé do Tijolo e o
Manel Fangio pediram algum dinheiro ao Estado?
Viveram acima das
suas possibilidades ou viveram com as suas possibilidades?
Como podem ser
criticados ou responsabilizados pelos medias ( apetecia-me dizer merdas...)
pela crise que o país atravessa?
O dinheiro não era
deles? E não podiam fazer com o seu dinheiro o que muito bem desejassem?
Não pagaram, para
além disso, uma imensidade de impostos?
Em resumo: quando
vejo os economistas residentes e afins a justificar a austeridade com o
argumento de que o povo foi despesista (para branquear a corrupção endémica dos
políticos)
Apetece-me mandá-los
apanhar no subilatório... e só não mando porque não quero matar alguns com
mimos...
Pensem nisto e
deixem de me fecundar... porque fodidos andamos nós...!
El Jerico assanhado
Recebi por email!
1 comentário:
Jé estamos bem fecundados. E no próximo ano, seremos fecundadíssimos...
Rita, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
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