segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Mena na cozinha


Tortilha campestre

1 dente de alho
1 cebola pequena
azeite
1 embalagem de cogumelos frescos
1 curgete pequena
1 caixa de milho pequena
espinafres
5 ovos
sal
pimenta
margarina para untar
queijo ralado

Corte a cebola e os alhos às rodelas e refogue em azeite até a cebola ficar transparente. Corte a curgete às rodelas e junte ao preparado anterior juntamente com os cogumelos laminados. Tempere com sal e pimenta. Deixe cozinhar um pouco.


Unte uma frigideira ou uma forma com margarina. Bata os ovos e junte o milho e os espinafres e mexa bem. Tempere e deite na frigideira.


Deite também o preparado dos cogumelos na frigideira e envolva.



Salpique com queijo ralado e leve ao forno.
Sirva com salada.

Bom apetite!


Coragem de ensinar



Testemunhos de professores que enfrentam as dificuldades que decorrem da experiência de trabalhar com alunos que lhes transformam a vida num inferno...

domingo, 29 de abril de 2012

Killing Us Softly - Advertising's Image of Women




Limão + bicarbonato de sódio = +SAÚDE




Tomar limonada todos os dias, acrescentando uma colher (pequena) de bicarbonato é melhor.

... O Limão (Citrus limonun Risso, Citrus limon (L.) Burm., Citrus medica) é um produto milagroso para matar as células cancerosas. É 10.000 vezes mais forte do que a quimioterapia.

Por que isto não é divulgado?
Porque há organizações interessadas em encontrar uma versão sintética que lhes permita obter lucros fabulosos.
Mas, a partir de agora você pode ajudar um amigo que precise informando-lhe que deve beber sumo de limão com bicarbonato de sódio para prevenir a doença.
Seu sabor é agradável. E, é claro, não produz os efeitos terríveis da quimioterapia.
A próxima vez que você quiser beber um sumo, peça ou faça-o de limão natural, sem conservantes.

Quantas pessoas morrem, enquanto este segredo tem sido bem guardado só para não colocar em risco as utilidades multi-bilionárias de grandes corporações?
Como você bem sabe o limoeiro é uma árvore pequena e baixa. Não ocupa muito espaço. É conhecido pelo nome de limoeiro, pé de limão, lima (em alguns lugares), llimona (cat) limoiaritz (eusk).
É uma fruta cítrica que vem em diferentes formas. Sua polpa pode ser consumida directamente ou é usada normalmente para fazer bebidas, gelados, doces e assim por diante.

O interesse desta planta é devido a seus fortes efeitos anti-cancerígenos. E embora lhe sejam atribuídas muitas outras propriedades, o mais interessante sobre ele é o efeito que produz sobre os quistos ou cistos e tumores. Esta planta é um remédio comprovado contra o câncer de todos os tipos e o bicarbonato vai mudar o pH do
seu organismo. Alguns dizem que é de grande utilidade em todas as formas de câncer.

É considerado também como um agente anti-microbiano de amplo espectro contra infecções bacterianas e fungos que vivem em lugares ácidos. Acrescentando bicarbonato de sódio em sua limonada você altera o pH do seu organismo; é eficaz contra parasitas internos e vermes, regula a pressão arterial elevada e é antidepressivo, combate a tensão e os distúrbios nervosos.

A fonte desta informação é fascinante: ela vem de um dos maiores fabricantes de remédios do mundo, que afirma que depois de mais de 20 testes de laboratório realizados desde 1970, ficou provado que o extracto:
1 - Destrói as células malignas em 12 tipos de câncer, incluindo câncer de cólon, de mama, de próstata, de pulmão e do pâncreas ...
2 - Os compostos desta árvore mostraram actuar 10.000 vezes melhor, retardando o crescimento das células cancerosas do que a adriamicina, uma droga quimioterapia, normalmente utilizada no mundo.
3 - E o que é ainda mais surpreendente: este tipo de terapia, com o extracto do limão e bicarbonato, destrói apenas as células malignas do câncer e não afecta as células saudáveis.

Instituto de Ciências da Saúde, L.L.C. 819 N. Charles Street
Baltimore, MD 1201

sábado, 28 de abril de 2012

A ditadura chegou ao campo




Neste momento, a nível mundial e no seio da União Europeia já estão aprovadas patentes para sementes e produtos hortícolas. Estas sementes são transgénicas e possuem códigos que o nosso corpo e ADN não reconhecem como alimento.
Isto afecta também a polinização, pois o vento, as abelhas e outros insectos vão transportar esses mesmo códigos e espalhá-los por esse mundo fora. 



As consequências destes produtos transgénicos no nosso organismo são desconhecidas na sua totalidade, mas do que se sabe agora não trazem nada de bom. As mutações de tais organismos são imprevisíveis e já há bebés a nascerem com os marcadores de tais códigos.

Estamos perante a mais vil tentativa do homem se colocar no lugar do nosso Criador! No maior e total desrespeito pela nossa Mãe! 



 Sei que é difícil atrair a atenção dos leitores para um assunto como este: "sementes". Mas das sementes e da liberdade de as plantar depende uma boa parte do nosso futuro porque 75% da biodiversidade agrícola foi extinta no século XX e as coisas não vão ficar por aqui. O esmagador poder financeiro da indústria química quer multiplicar leis, por todo o Mundo, para impedir os agricultores de serem livres de usar as sementes não certificadas nas colheitas seguintes. A espiral é terrível: quanto menor produção agrícola com sementes ancestrais, pior comeremos.

Num filme notável chamado "Food Inc." (Comida, Lda.), os autores mostram, por exemplo, como a multinacional Monsanto consegue perseguir e levar à falência vários produtores rurais. O argumento é simples: se no campo deste agricultor houver plantas cultivadas com sementes Monsanto e ele não for cliente da empresa, é processado por estar a usar sementes patenteadas, mesmo que elas tenham sido propagadas pelo vento e estejam misturadas com as suas. A natureza passou a ter 'dono'.

A Monsanto é a mais importante empresa mundial produtora de transgénicos. Atrai os agricultores através de um marketing aliciador de melhores colheitas. Mas os alimentos obtidos a partir de sementes alteradas laboratorialmente, cujo ADN não é compreendido pelos organismos humano ou animal, arrastam interrogações que não compreendemos antecipadamente. Foi assim que se alimentaram herbívoros com rações à base de carne e se rompeu uma lei da natureza. Esta experiência foi um dos motivos apontados para o surto da doença das vacas loucas.

As culturas transgénicas estão já na mesa de pessoas de todo o Mundo. Surgem em coisas tão importantes como a alimentação dos bovinos (por exemplo, na carne importada do Brasil ou da Argentina), na soja, arroz, milho ou em algo tão simples como o mel produzido por abelhas próximas de campos transgénicos. Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) dizia recentemente que a maioria dos alimentos consumidos no mundo ocidental provém apenas de 12 espécies de plantas e cinco espécies de animais, apesar de terem sido catalogadas milhares de espécies comestíveis. Pior: arroz, trigo e milho constituem 60 por cento da alimentação humana, sendo estes, na sua esmagadora maioria, provenientes de sementes tão apuradas que o nosso corpo já não 'lê' estes alimentos como "arroz", "trigo" ou "milho". Obviamente nem vale a pena falar da 'fast-food' ou da comida industrial.

Cristina Sales, uma médica que o Porto tem a sorte de ter por perto, escreve há vários anos sobre o caos da alimentação moderna e percorre o Mundo como oradora em conferências com este tema. E o que diz? "O nosso corpo tem um histórico de milhões de anos na absorção dos alimentos e está cada vez mais incapaz de reconhecer o que come. Não tem as enzimas necessárias à sua digestão e metabolismo. Por isso, gera uma reacção inflamatória contra os alimentos porque os considera 'elementos estranhos', como se fossem tóxicos. Essa é uma das razões porque tanta gente aumenta de peso ou de volume: porque retém líquidos nesse processo inflamatório. E isso afecta todas as pessoas, incluindo as magras".

Jude Fanton, da organização "Seed saver (Salvar as Sementes)" disse há meses ao programa Biosfera, da RTP2 (com o qual trabalho) uma coisa simples: "Se nos recordarmos do sabor da comida dos nossos avós - as maçãs, os vegetais, etc. - eles tinham um sabor verdadeiramente forte e intenso. Isso significa mais nutrição. Essa é talvez a razão pela qual estamos a engordar. Temos de comer cada vez mais para conseguir os nutrientes de que precisamos".


A ditadura agrícola e alimentar é este louco processo de quebrar as regras da natureza em busca de mais rentabilidade. Se fecharmos os olhos à origem dos alimentos, contribuímos gradualmente para uma vida cada vez mais tóxica. Essa perda de 'liberdade de escolha' e 'biodiversidade essencial' afecta o ADN humano que não deveríamos alienar numa só geração. Além disso, replica o modelo económico que supostamente queremos combater: os lucros ficam com as grandes multinacionais e as doenças em cada um de nós.

Daniel Deusdado

Fonte - JN Online

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O VALOR DOS PAIS



 LEIA  E MEDITE.



Um jovem de nível acadêmico excelente, candidatou-se à posição de gerente de uma grande empresa.

Passou a primeira entrevista e o diretor fez a última entrevista e tomou a última decisão.

O diretor descobriu através do currículo que as suas realizações acadêmicas eram excelentes em todo o percurso, desde o secundário até à pesquisa da pós-graduação e não havia um ano em que não tivesse pontuado com nota máxima.

O diretor perguntou, "Tiveste alguma bolsa na escola?" o jovem respondeu, "nenhuma".

O diretor perguntou, "Foi o teu pai que pagou as tuas mensalidades ?" o jovem respondeu, "O meu pai faleceu quando tinha apenas um ano, foi a minha mãe quem pagou as minhas mensalidades."

O diretor perguntou, "Onde trabalha a tua mãe?" e o jovem respondeu, "A minha mãe lava roupa."

O diretor pediu que o jovem lhe mostrasse as suas mãos. O jovem mostrou um par de mãos macias e perfeitas.

O diretor perguntou, "Alguma vez ajudaste a tua mãe a lavar as roupas?", o jovem respondeu, "Nunca, a minha mãe sempre quis que eu estudasse e lesse mais livros. Além disso, a minha mãe lava a roupa mais depressa do que eu."

O diretor disse, "Eu tenho um pedido. Hoje, quando voltares, vais e limpas as mãos da tua mãe, e depois vens ver-me amanhã de manhã."

O jovem sentiu que a hipótese de obter o emprego era alta. Quando chegou a casa, pediu feliz à mãe que o deixasse limpar as suas mãos. A mãe achou estranho, estava feliz mas com um misto de sentimentos e mostrou as suas mãos ao filho.

O jovem limpou lentamente as mãos da mãe. Uma lágrima escorreu-lhe enquanto o fazia. Era a primeira vez que reparava que as mãos da mãe estavam muito enrugadas, e havia demasiadas contusões nas suas mãos. Algumas eram tão dolorosas que a mãe se queixava quando limpava com água.

Esta era a primeira vez que o jovem percebia que este par de mãos que lavavam roupa todo o dia tinham-lhe pago as mensalidades. As contusões nas mãos da mãe eram o preço a pagar pela sua graduação, excelência acadêmica e o seu futuro.
Após acabar de limpar as mãos da mãe, o jovem silenciosamente lavou as restantes roupas pela sua mãe.

Nessa noite, mãe e filho falaram por um longo tempo.

Na manhã seguinte, o jovem foi ao gabinete do diretor.
O diretor percebeu as lágrimas nos olhos do jovem e perguntou, "Diz-me, o que fizeste e aprendeste ontem em tua casa?"

O jovem respondeu, "Eu limpei as mãos da minha mãe, e ainda acabei de lavar as roupas que sobraram."

O diretor pediu, "Por favor diz-me o que sentiste."

O jovem disse "Primeiro, agora sei o que é dar valor. Sem a minha mãe, não haveria um eu com sucesso hoje. Segundo, ao trabalhar e ajudar a minha mãe, só agora percebi a dificuldade e dureza que é ter algo pronto. Em terceiro, agora aprecio a importância e valor de uma relação familiar."

O diretor disse, "Isto é o que eu procuro para um gerente. Eu quero recrutar alguém que saiba apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conheça o sofrimento dos outros para terem as coisas feitas, e uma pessoa que não coloque o dinheiro como o seu único objetivo na vida. Estás contratado."

Mais tarde, este jovem trabalhou arduamente e recebeu o respeito dos seus subordinados. Todos os empregados trabalhavam diligentemente e como equipa. O desempenho da empresa melhorou tremendamente.

Uma criança que foi protegida e teve habitualmente tudo o que quis, vai desenvolver- se mentalmente e vai sempre colocar-se em primeiro. Vai ignorar os esforços dos seus pais, e quando começar a trabalhar, vai assumir que toda a gente o deve ouvir e quando se tornar gerente, nunca vai saber o sofrimento dos seus empregados e vai sempre culpar os outros. Para este tipo de pessoas, que podem ser boas academicamente, podem ser bem sucedidas por um bocado, mas eventualmente não vão sentir a sensação de objetivo atingido. Vão resmungar, estar cheios de ódio e lutar por mais. Se somos esse tipo de pais, estamos realmente a mostrar amor ou estamos a destruir o nosso filho?

Pode deixar o seu filho viver numa grande casa, comer boas refeições, aprender piano e ver televisão num grande plasma. Mas quando cortar a grama, por favor deixe-o experienciar isso. Depois da refeição, deixe-o lavar o seu prato juntamente com os seus irmãos e irmãs.Deixe-o guardar seus brinquedos e arrumar sua própria cama. Isto não é porque não tem dinheiro para contratar uma empregada, mas porque o quer amar como deve de ser. Quer que ele entenda que não interessa o quão ricos os seus pais são, um dia ele vai envelhecer, tal como a mãe daquele jovem. A coisa mais importante que os seus filhos devem entender é a apreciar o esforço e experiência da dificuldade e aprendizagem da habilidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.



Quais são as pessoas que ficaram com mãos enrugadas por mim?



O valor de nossos pais ...

Um dos mais bonitos textos sobre educação familiar que já li...leitura obrigatória para nós pais e, principalmente, para os filhos.







Nota: Não aderi ao novo AO, o texto foi escrito em português do Brasil, o seu autor é brasileiro...

Ricardo Reis - O epicurismo e o estoicismo



Ricardo Reis foi quem melhor traduziu a evidência da tragédia humana. Existir é nada ter, é nada poder.
Este poeta não acredita na obtenção de verdades e a sua única certeza é que não fugiremos ao nosso fado, ao nosso destino, que culminará, inevitavelmente, na morte. Então, propõe a anulação da vontade, a aceitação passiva de todas as coisas, a recusa da emoção e do prazer exagerado. Para Ricardo Reis, o homem é um ser que está preso na sua própria condição.


"(...)
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?"



A renúncia é a única coisa que nos resta perante uma vontade divina que nos transcende, perante Cronos (o Tempo), que devora os seus próprios filhos. Assim, Ricardo Reis propõe o gozo do momento, o carpe diem, pois o futuro é incógnito e a vida é efémera. O poeta prefere viver numa aurea mediocritas, com a tranquilidade que se adquire através da recusa dos prazeres violentos e das emoções fortes.

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
    Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassossegos grandes.

(...)"

A imitação da Antiguidade não esconde uma preocupação que caracteriza os tempos modernos: a angústia perante a morte, o horror do nada, preocupações igualmente presentes, na poesia ortónima e na prática de Álvaro de Campos.
Ricardo Reis cultiva o individualismo. o que o leva a afastar-se dos outros. Seguindo a lição epicurista, abdica dos prazeres violentos a favor da tranquilidade, renuncia a qualquer acção inútil e evita a dor. Para este heterónimo, a liberdade (que os próprios deuses não detêm, pois acima deles existe uma entidade superior, uma Lei, um Fado) e a felicidade (apagada pela consciência da morte inevitável) são ilusórias. Assim, como afirma Fernando Pessoa, a sua obra "profundamente triste" constitui uma forma lúcida, uma disciplina que leva o poeta a perseguir "uma calma qualquer":

    "Segue o teu destino,
    Rega as tuas plantas,
    Ama as tuas rosas.
    O resto é a sombra
    De árvores alheias.



    A realidade
    Sempre é mais ou menos
    Do que nós queremos.
    Só nós somos sempre
    Iguais a nós-próprios.
(...)

    Vê de longe a vida.
    Nunca a interrogues.
    Ela nada pode
    Dizer-te. A resposta
    Está além dos deuses.



    Mas serenamente
    Imita o Olimpo
    No teu coração.
    Os deuses são deuses
    Porque não se pensam."
Ricardo Reis renuncia ao Conhecimento, porque não acredita na possibilidade de o alcançar. A resposta à questão "Qual é o sentido da vida?" jamais seria conseguida.

Rafael Baldaya, um semi-heterónimo menos conhecido de Fernando Pessoa, é o filósofo que espelha o tecido social e moral do séc. XX. Com efeito, este século caracteriza-se por uma profunda crise de valores, pois estes tornaram-se lógicos; era necessário inventar outros, que traduzissem a essência da espécie humana.
Baldaya significa a única certeza, pessimista, mas real, do Homem desta era - a ideia do nada, o niilismo, que, inevitavelmente, absorverá a existência.
Esta consciência perpassa na poesia de Ricardo Reis, marcada pela ideia de que a vida não é mais do que a condenação à morte, uma espera mais ou menos longa do nada.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Look of today



Blusão - Cheyenne
Túnica - My Story

 

Leggings - Calzdonia


Mala - Charles
Botas  Pablo Fuster
Pasta - Charles

Olha o mar!




Olha o mar ali tão longe. Não! Não o sentes longe?
Eu sinto-o longínquo, como tu, distante.
Olha, vê as ondas brancas de espuma
Vê como beijam as rochas fugaz e ruidosamente,
E se estendem sobre o corpo nu da areia dourada...
Oh! Aproximam-se e vêm acariciar-me os pés
Enlearem-se-me nas pernas...
Como tu? Quando me abraças, me enlaças?
Quando me prendes com as tuas pernas?
A espuma é dócil e toca-me tão suavemente...
Como a tua boca? Quando procura a minha?
Quando os nossos lábios se roçam?

Repara! A maré sobe, trepa pelas minhas pernas,
Agarra-me pela cintura, faz-me estremecer...
Olha! Está fria a água, mas cintila ao sol!
O dia raia, traz o calor, a manhã está bela
E o mar debruça-se já sobre o meu peito
Salpica-me o rosto. E eu? Cerro os olhos...
Que vejo? Que sinto?
Vejo os teus olhos cheios de mar presos nos meus.
Sinto a tua pele doce e salgada a queimar-me
O teu corpo em brasa a puxar-me para o abismo
E eu a deixar-me ir, a tombar, a cair...
Num êxtase feito de mar e de espuma.


Mena


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Carta aberta sobre o AO90 dirigida ao Primeiro-Ministro, ao Ministro da Educação e Ciência e ao Secretário de Estado da Cultura


Braga, 24 de Abril de 2012

Ex.mos Srs. Primeiro-Ministro, Ministro da Educação e Ciência e Secretário de Estado da Cultura,

Passamos a citar a declaração final emanada da VII reunião de Ministros da Educação da CPLP, datada de 30 de Março de 2012, assinada por todos os ministros ou seus legítimos representantes (realces nossos em maiúsculas):

«Os MINISTROS DA EDUCAÇÃO, ou os seus representantes, DE Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, PORTUGAL, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste, reunidos na cidade de Luanda, no dia 30 de Março de 2012 […] DECIDEM […] INCUMBIR o Secretariado Técnico Permanente (Portugal/Angola/Moçambique) PARA, junto e com o apoio do Conselho Científico do IILP e de instituições académicas dos Estados Membros, PROCEDER A […]
3.1. Um diagnóstico relativo aos constrangimentos e estrangulamentos na aplicação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990;

3.2. ACÇÕES CONDUCENTES À APRESENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE AJUSTAMENTO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990, na sequência da apresentação do referido diagnóstico.

[…]
Luanda, 30 de Março de 2012.

[…]
Nuno Crato, Ministro da Educação e Ciência da República Portuguesa […]»

Reiteramos: os Ministros da Educação da CPLP, representando os estados-membros da CPLP declararam UNANIMEMENTE que deverão ser empreendidas acções conducentes à apresentação de uma proposta de ajustamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

Estas palavras contrastam gritantemente com as declarações proferidas a 24 de Abril de 2012 pelo Sr. Secretário de Estado da Cultura na abertura da 82.ª Feira do Livro de Lisboa (realces nossos em maiúsculas):

«[…] “Portugal subscreveu o acordo ortográfico, é um dos signatários, ele está em vigor. Neste momento só dois países, Angola e Moçambique, ainda não o rectificaram [sic]. As indicações que temos das cimeiras de Luanda, é que a posição de Angola e Moçambique será definida agora. Isto é: será definido o modo como vão rectificar [sic] o acordo. Mas a indicação que temos é de que o vão rectificar [sic]”, afirmou o secretário de Estado da Cultura. “NÂO HÁ REVISÃO. O acordo é um instrumento legal e foi rectificado [sic] por parlamentos de diferentes países. O que pode haver, e isso está consignado na lei, é a possibilidade de se fazerem acertos no Vocabulário Ortográfico Comum. Será apresentada uma versão beta, ainda durante este ano, e até 2014 estará encerrado. Repare, ainda nem sequer estão incluídas no Vocabulário Ortográfico Comum as contribuições de Angola e Moçambique. Nessa matéria é que há abertura. Agora o AO está em vigor.” […]»

– Francisco José Viegas, “Público”, 24 de Abril de 2012

(Fonte: http://www.publico.pt/Cultura/a-crise-a-pirataria-e-o-acordo-ortografico-discutidas-na-abertura-da-feira-do-livro-de-lisboa--1543433?all=1)

               Por sua vez, estas declarações do Secretário de Estado da Cultura contrastam com estas outras:

«O facto de [o Acordo Ortográfico] ser irreversível não quer dizer que não seja corrigível»

– Francisco José Viegas, “Correio da Manhã”, 30 de Outubro de 2011

Ex.mos Srs.,

Esta situação é intolerável. A descoordenação subjacente às acções dos membros do Governo responsáveis por este tema é gritante. O conteúdo da declaração de Luanda e as declarações do Secretário de Estado da cultura são incompatíveis. Havendo os estados-membros da CPLP declarado UNANIMEMENTE que deverão ser empreendidas acções conducentes à apresentação de uma proposta de ajustamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) – doravante AOLP90 –, não pode o Secretário de estado da Cultura de Portugal vir agora dizer que não haverá revisão do mesmo acordo.

A rejeição do AOLP90 pela sociedade portuguesa é visível e palpável. Creio que não passará despercebida a Vossas Excelências a verdadeira torrente de artigos e colunas de opinião versando este tema veiculados pela imprensa nacional, a esmagadora maioria dos quais manifestando opiniões fortemente contrárias ao dito acordo. Essa é apenas a ponta do iceberg… Percorressem Vossas Excelências o espaço cibernáutico e deparar-se-iam com um verdadeiro dilúvio de textos dedicados à temática do AOLP90, escritos por pessoas das mais variadas proveniências, a vastíssima maioria manifestando feroz oposição. Raras vezes se viu ou se vê uma questão despertar tão intensa e tão extensa discussão no nosso país. O facto de se dedicar tanta atenção a este tema numa altura em que o país vive tantas dificuldades, diz muito acerca do quão importantes são a língua portuguesa e a sua ortografia para os Portugueses.

Fazemos nossas as palavras de António Emiliano (A CPLP E A CONSAGRAÇÃO DO DESACORDO ORTOGRÁFICO in Público, 19 de Abril de 2012):

«[…] A situação presente resume-se a isto: Angola não ratificará nem aplicará o Acordo Ortográfico enquanto não houver alterações; Moçambique anunciou no ano passado que não está preparado para ratificar e aplicar o Acordo Ortográfico; nenhum dos países africanos que ratificou o Acordo Ortográfico fez qualquer esforço ou tomou qualquer medida para o aplicar; em Portugal (berço da língua portuguesa) e no Brasil impera o caos ortográfico-linguístico e usa-se uma mixórdia “acordesa”, enquanto no resto da CPLP se escreve PORTUGUÊS; no Brasil, considerado por gente pouco avisada como o “motor da lusofonia”, fala-se e escreve-se uma língua portuguesa cada vez mais distante do português euro-africano. Não há paralelo nem precedente na história de qualquer grande língua de cultura para esta situação difícil de qualificar. Onde antes havia uma natural e inevitável clivagem entre o Brasil e o bloco euro-africano da lusofonia existe hoje uma injustificável desunião entre Portugal e os PALOP (nenhum dos quais aplica o Acordo Ortográfico) e conserva-se a mesma clivagem luso-brasileira de sempre, agora disfarçada de unificação ortográfica. O facto de o AO não concitar qualquer consenso nem contribuir para unificar seja o que for, é razão suficiente para, no mínimo, se suspender a sua aplicação e fazer respeitar a Constituição (que protege explicitamente a qualidade do ensino e o uso da língua nacional) e a Lei de Bases do Património Cultural (pela qual a língua, “fundamento da soberania nacional, é um elemento essencial do património cultural português”). Tendo, ademais, o Acordo Ortográfico sido declarado ortografia deficiente e carente de revisão, logo, provisória e já obsoleta, a sua aplicação no sistema de ensino e nas instituições do Estado português deve cessar imediatamente, como releva do mais elementar bom senso e com o aval e beneplácito unânimes da CPLP.»

Fazemos nossas também as palavras de Rui Ramos (in Expresso, 24 de Março de 2012): «(…) já passou o tempo em que um governo podia mandatar meia dúzia de sábios para mudar o mundo e os arredores. (…) A resistência ao acordo tem menos a ver com brios nacionalistas e mais com essa apropriação democrática da língua. A língua é de todos, com as regras que todos aprendemos – não deles, ministros e académicos, (poucos académicos, acrescentamos nós) para a fazerem variar segundo as suas teorias e diplomacias preferidas. (…) O Estado deixou de poder sujeitar a língua portuguesa ao arbítrio de decretos e portarias soprados por uma qualquer cabala de especialistas. (de um pequeno grupo de especialistas, que ignoraram os múltiplos pareceres em sentido contrário de muitos outros mais!, acrescentamos nós) (…)».

Do exposto decorre que a única acção lógica, responsável e possível por parte do Estado Português é suspender imediatamente a aplicação do AOLP90, até à sua revisão. Insistir e persistir na sua aplicação seria um erro de proporções insustentáveis e consequências por demais nefandas.

Vossas Excelências não foram responsáveis pela ratificação deste Acordo, nem tão-pouco do 2.º Protocolo modificativo, que eliminou a exigência da unanimidade dos Estados da lusofonia para que o AOLP90 entrasse em vigor. Têm, porém, vindo a ser responsáveis pela sua implementação.

Vossas Excelências têm a possibilidade de entrar para a história de Portugal com saldo positivo ou com saldo negativo. O resultado dependerá de uma miríade de variáveis, a maioria das quais escapa ao controlo de cada um de vós. Vossas Excelências controlarão apenas as vossas acções. Entrai para a história de Portugal com saldo positivo.

Como governantes da nação, é vosso dever actuar na defesa dos interesses nacionais. Solicitamos-vos, pois, que envidem esforços no sentido de suspender a aplicação deste instrumento por demais imperfeito e daninho e, assim, reponham o alto valor da estabilidade ortográfica em Portugal.


Gratos pela vossa atenção.


Subscrevem-se respeitosamente,

Feliciano Veiga Coelho
[...]
Maria José Quintas da Silva Coelho
[...]
Pedro Miguel Quintas da Silva Coelho
[...]
André Feliciano Quintas da Silva Coelho
[...]


Os farsolas do regime - Santana Castilho






1. Comemora-se hoje o 25 de Abril. Foi há 38 anos. “O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. O povo está na miséria. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. O tédio invadiu as almas. A ruína económica cresce. O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. O Estado tem que ser considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo”. Estas frases corridas pertencem a Eça de Queirós e foram citadas por Paulo Neves da Silva, em livro editado pela Casa das Letras. A quem revê nelas o país em que hoje vive, pergunto: e não fazemos nada?
2. A evolução dos indicadores é oficial: desemprego em dramático crescimento, PIB em queda alarmante e execução orçamental do primeiro trimestre do ano muito longe do equilíbrio prometido. Dizem os farsolas do regime que não há tempo para resultarem as políticas de extermínio dos funcionários públicos, classe média e reformados. Asseveram que é preciso esperar. Aceita-se, naturalmente, que a falta de recursos traga os custos para a primeira linha das análises e que a eficiência preocupe a governação. Mas no binómio “recursos mobilizados- resultados obtidos”, gastar menos, obtendo piores resultados, mesmo que melhore a eficiência, é inaceitável. Cortar despesas de modo cego, mantendo intocáveis os grandes sugadores do país, é inaceitável. Em Washington, Vítor Gaspar teve o topete de declarar que as medidas de austeridade não afectaram os mais vulneráveis. E a propósito dos subsídios confiscados, o decoro mínimo não impediu Paula Teixeira da Cruz de desmentir o primeiro-ministro, que já tinha desmentido Vítor Gaspar. Como se a confiança no Estado aguentasse todas as diatribes. “Não podemos viver acima das nossas possibilidades” é uma frase batida dos farsolas do regime. A dívida pública e a dívida privada têm que ser pagas, recordam-nos. Aos funcionários públicos espoliados e aos que nunca viveram acima das suas possibilidades, pergunto: e não fazemos nada?
3. Na quarta-feira passada ouvi Nuno Crato na TVI 24. Afirmou que não há razões pedagógicas para dizer que 30 alunos por turma seja mau. Perante o esboço de contraditório do entrevistador, perguntou-lhe quantos alunos tinham as turmas no tempo dele. Esta conversa não é de ministro. É de farsola, que não distingue pedagogia de demagogia. No meu Alentejo e no meu tempo, não raro se encontravam à porta de uma ou outra casa, em dias de sol, dejectos humanos a secar. Eram de um doente com icterícia, que os tomaria posteriormente, secos, diluídos e devidamente coados. Pela ministerial lógica justificativa, bem pode Sua Excelência anotar a receita para os futuros netos. Garanto-lhe, glosando Américo Tomás, pensador do mesmo jeito, que os que não morriam salvavam-se! A dimensão das turmas tem óbvia implicação no aproveitamento e na disciplina. William Gerald Golding, Nobel da literatura em 1983, foi, durante 3 décadas, professor. Interrogado uma vez por um jornalista sobre o método que usava para ensinar, respondeu que com 10 alunos na sala de aula qualquer método servia, mas com 30 nenhum resultava. A resposta de Golding retorna à minha mente cada vez que surge um econometrista moderno a tentar convencer-me de que o tamanho das turmas não tem a ver com o sucesso das aprendizagens. Não nos iludamos com a profusão de estudos sobre a relevância das variáveis que condicionam as aprendizagens e, particularmente, com as correlações especulativas estabelecidas entre elas. Imaginemos que os resultados obtidos num sistema de ensino onde as turmas têm, em média, 35 alunos, são melhores que os obtidos por turmas de 20, de outro sistema. Alguma vez permite essa constatação concluir que o tamanho da turma não importa? Que aconteceria aos resultados do primeiro sistema se as turmas passassem de 35 para 20 alunos, no pressuposto de que tudo o mais não se alterava?
Poderíamos e deveríamos discutir se temos recursos financeiros para manter a actual dimensão máxima das turmas. E poderíamos concluir que não. Poderíamos e deveríamos discutir o peso e a hierarquia, em termos de resultados, das diferentes variáveis que condicionam as aprendizagens. E poderíamos concluir que, antes da dimensão das turmas, outras se impõem pelo seu impacto e relevância. Mas não afrontemos com pseudo razões pedagógicas a experiência comprovada da sala de aula, que torna evidente que a probabilidade de sucesso aumenta se cada professor tiver menos alunos com quem repartir esforços e atenção. Aos professores adormecidos pergunto: e não fazemos nada?

As portas que Abril abriu



Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
- cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!


Ary dos Santos