sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pato, pacto, fato, facto, "impato", impacto...

O acordo ortográfico já não causa impacto




Mesmo depois do chamado acordo ortográfico (AO90), a grafia da palavra “impacto” manteve-se inalterada, uma vez que o c é pronunciado. Simples? Não necessariamente.
Depois da imposição do AO90, surgiram vários erros que raramente ocorriam, sobretudo no âmbito da grafia das chamadas consoantes mudas. Assim, é cada vez mais vulgar ver textos portugueses em que “facto” é erradamente substituído por “fato”, para além de já ter sido possível ler “pato” no lugar de “pacto”.
A ocorrência destes erros tem várias causas e é evidente que o AO90 não é a única. Correndo o risco de cair no pecado do simplismo, penso que tudo começa no facto de haver, ainda, uma iliteracia generalizada, visível em diversas dificuldades de expressão e de compreensão, mesmo entre pessoas com educação superior. No meio deste caldo, o AO90, sendo, para mais, um instrumento deficiente, veio tornar ainda mais difícil a vida de quem já tinha dificuldades em escrever com correcção.
A supressão de consoantes que não são mudas resulta, então, de uma espécie de cópiainconsciente da supressão das chamadas consoantes mudas: uma pessoa ortograficamente insegura, ao querer usar o AO90, irá, facilmente, transformar “facto” em “fato”, porque, por exemplo, “acto” passou a “ato”.
Todos estes fenómenos deveriam ter sido analisados em estudos prévios à criação do AO90, o que foi impedido por um misto de leviandade e desonestidade intelectual de quem o escreveu e de quem o aprovou.
Fernando Venâncio, a propósito deste assunto, resolveu pôr o google a registar as ocorrências de “impato”, termo que, impropriamente, tem surgido em muitos textos, substituindo “impacto”. Passo a citar a nota facebookiana de Venâncio:
Eu não queria acreditar. Mas o Tio Google anda atentíssimo, e pilhou 18.700 ocorrências de “o impato” (se procurar, não se esqueça das aspas).
Mas, dirão os cépticos, sempre saudáveis, não haverá nisto uma data de infractores brasileiros?
Não, responde o Tiozinho. Se a busca for “o impato” ajuntando .br, obtêm-se só dois (2!) resultados.
Confiram. E tremam.
João Roque Dias, ainda e sempre atento ao problema ortográfico, juntou um pormenor a essa nota: “Com o Google.com, a busca de — “impato” site:.pt — rende o fantástico número de 14 300 ocorrências…”
Aproveito para acrescentar que, entre as várias hiperligações que ficam disponíveis, podemos encontrar jornais e, pelo menos, um título provisório de uma tese universitária.
Os acordistas sempre defenderam que o AO90 não teria grande impacto. Tinham razão: o AO90 causa impato.

Com cheirinho a Natal






Aromatizador de varetas


500 ml de álcool de cereal
10 ml de óleo essencial de cedro
10 ml de óleo essencial de pinho
5 ml de óleo essencial de canela
500 ml de água aromatizada  de laranja.
 
Misturar bem todos os ingredientes e colocar em garrafas de vidro transparentes para observarmos o líquido dentro delas.
 
Colocar as varetas, virando-as de vez em quando.

Vi aqui!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Aniversário - Álvaro de Campos




Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos

Este poema apresenta uma viagem através do tempo, através da memória. A recordação da infância motiva um angustiante sentimento de perda, pois esse estádio corresponde, para o o sujeito poético, a uma época feliz, aquela em que ele tinha uma família e era visto por esta como alguém que merecia atenção.
Assim, o passado é associado à vida e o presente é conotado negativamente, correspondendo à morte; ao primeiro momento associa-se uma inconsciência feliz, que se opõe à consciência do horror do presente.

Infância / Passado = Vida = Inconsciência ("Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma")
Versus

Idade adulta / Presente = Morte = Consciência ("O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa"; "É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio..."

O corredor simboliza a perda no tempo - este espaço é uma metáfora do próprio tempo, que se associa ao mito de Cronos, o deus que devora os próprios filhos, ou seja, aquele que os aniquila.
A antítese entre o Passado e o Presente pode ser clarificada através das seguintes linhas isotópicas:

casa -> saúde -> família -> serões -> mesa / loiça / copo -> aparador / doces / frutas = Infância - Passado

humidade do corredor / grelado das paredes (metonimicamente ligado à casa) -> lágrimas -> fósforo (frio) -> fome = Idade adulta - Presente 

Infância - Passado ---------------- Idade adulta - Presente
=
Distância > Perda do amor e do ser:
"A que distância!... (...) O tempo em que
festejavam o dia dos meus anos!"
=
"Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal"

A passagem do tempo significa, para o sujeito poético, a perda do seu próprio ser, enquanto pessoa.

"Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!"

Num plano simbólico, a angústia do sujeito lírico, motivada pela perda, faz ecoar um tempo recuado, um momento de felicidade absoluta, em que, afinal, a sua identidade só existia, porque construída pela vontade e pelas esperanças dos outros, o que lhe conferia um poder messiânico, porque ele era, para eles, uma promessa.

"Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos"

e

"Eu tinha a grande saúde (...)
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim."

O amor era dado ao poeta de forma espontânea, como uma crença.

"E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer."

A idade adulta significa ausência de amor, metaforizado no pão (o corpo de Cristo a que se alia, obviamente, uma dimensão espiritual e metafísica - comer o pão significa, na liturgia cristã, absorver o Amor de Jesus).

"Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal.
(...)
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!"

A "manteiga" associa-se metonimicamente ao leite, símbolo materno; por isso, igualmente situado na constelação semântica dos vocábulos que aglutinam a ideia de amor.

A casa, metáfora do paraíso, o primeiro espaço que, segundo o livro de Génesis, foi habitado pelo Homem, é destruída pelas lágrimas do sujeito poético, ou seja, a sua perda motiva essas lágrimas, mas a sua destruição acontece na interioridade da sua alma.

"(...) (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)"


A expulsão do éden equipara-se, no poema, à perda do amor (ainda segundo o episódio bíblico, o sofrimento humano surge após essa expulsão, ou seja, se, por um lado, o sofrimento do sujeito lírico aponta para a nostalgia profunda que este sente por ter deixado de ser menino, o facto de ele conferir à infância a qualidade da Perfeição remete o leitor para as estruturas simbólicas do imaginário da nossa espécie, enraizadas, como é óbvio, na nossa tradição cultural, marcada pela religião.

No final do poema, o sujeito poético opõe os órgãos "coração" e "cabeça", ligados, respectivamente, ao sentimento e à razão.

"Pára, meu coração!

Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!"

E é a "algibeira" que, para o sujeito lírico, significa a impossibilidade de unificar sentimento e razão, isto é, o amor e a racionalidade, porque ele ficou estagnado nas dobras de um destino que é, afinal, o destino humano.


"Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."

O sujeito poético exprime, com revolta e amargura, a consciência do niilismo (a consciência do nada) que marca o Homem do século XX.

A desilusão perante a existência, a absorção do indivíduo no anonimato das massas é aqui apresentada como o contraponto de uma época associada à infância (do indivíduo ou da espécie) em que o sujeito lírico acredita ter sido feliz.

Ao nível estilístico, a comparação funciona como tradução de uma dor que trespassa a alma do sujeito lírico e o esmaga contra as suas recordações.


"O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa"

"É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio..."
"Comer o passado como pão de fome (...)"

A anáfora traduz a saudade imensa de um passado que o sujeito poético não pôde roubar e o desespero que essa incapacidade lhe causa.


"O que fui de coração e parentesco,

O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus! (...)"

A anáfora enfatiza igualmente a constatação amarga do desencanto posterior a esse tempo.


"Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida."

Os adjectivos sugerem quer a alegria da infância remota, perdida num tempo recuado, primordial, quer a distância infinita que separa o "eu" poético dessa época.


"Eu era feliz e ninguém estava morto"

"Na casa antiga (...)
"Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma"
"De ser inteligente para entre a família"

Ao nível do léxico, encontramos vocábulos que se ligam a um mesmo núcleo semântico, a casa, e que apresentam, materializando a dicotomia Passado / Presente, conotações semelhantes. A casa sugere uma simbologia de intimidade, de refúgio, associando-se, por esse facto, à protecção materna, pelo que aparece como metáfora do ventre materno (a fase de ligação à mãe através do cordão umbilical significa, ao nível do inconsciente antropológico, a impossibilidade de estar sujeito às agressões exteriores):


"Na casa antiga (...)"

"A mesa posta com mais lugares (...)"
"O aparador com muitas coisas - doces, frutas (...)"

O verso "O que sou hoje é terem vendido a casa" enfatiza as ideias anteriormente expressas.


No âmbito da pontuação, há a salientar o ponto de exclamação e as reticências que evocam uma infância feliz e também a sua perda irremediável.


"O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui..."

"O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!"
"Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui..."

O "refrão", a repetição, ao longo do poema, do verso "O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!" funciona como uma espécie de refrão e atroa como um esgar nostálgico, retumbando sempre, traduzindo a revolta, a não aceitação do irremediável, a saudade profunda de um tempo perfeito.


Ao nível das sonoridades, predominam, ao longo do poema, os sons fechados e nasais, e numa expressão da melancolia perante a perda do passado.


Sons nasais - tempo, ninguém, antiga, uma, grande, inteligente, esperanças, mim, vim, serões, província, distância, vendido, sobrevivente, viagem, pão, manteiga.


Sons fechados - dia, feliz, antiga, tradição, séculos, religião, tinha, nenhuma, quando, fui, frio, vida, ali, metafísica.


A vogal aberta (a) enfatiza o valor de determinados vocábulos-chave, ao nível semântico, pela intensidade da sua sonoridade (casa; humidade; nada; raiva; roubado).







quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Hoje foi assim, no teatro!








Companhia de Teatro Arte D'Encantar, associação cultural sem fins lucrativos, tem como principal objectivo incentivar a aproximação das crianças/jovens ao teatro.
 
De forma a colmatar uma grande lacuna existente no que respeita à qualidade do teatro direccionado ao público infanto-juvenil, e tendo por base a fortíssima e muito importante vertente pedagógica que este tipo de arte exerce sobre o seu público-alvo, resolveu apostar na representação de obras recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura (PNL) que fazem parte integral do plano curricular da disciplina de Língua Portuguesa das nossas escolas.
 
Aliando encenações atractivas e interactivas com apontamentos de comédia, pretende oferecer às  crianças/jovens, uma ilustração viva da obra que vão abordar dentro da sala de aula, tornando-a assim mais apelativa e mais facilmente compreensível.
Aos professores, uma vez que terão ao seu dispor a obra por eles leccionada posta em cena, oferece uma importante ferramenta de trabalho, como complemento à análise e exploração dos textos contemplados no programa da disciplina que leccionam.
 
A companhia Arte D'Encantar tem acima de tudo presente que Teatro é Arte, mas também sempre foi Educação!











segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Hummmm!... Que cheirinho!


rodelas de laranja + canela + cravo + anis estrelado

galhos de pinheiro + folhas de louro + noz noscada


rodelas de limão + raminhos de alecrim
rodelas de limão + cravinho + estrelas de anis + pau de canela
rodelas de lima + raminhos de tomilho
raminhos de pinheiro + folhas de louro 
rodelas de laranja + rodelas de gengibre


Como fazer águas aromatizadas? 
(vi aqui!)

Colocar num frasco de vidro com tampa, várias ervas, frutos e condimentos que combinem entre si; deitar  3 colheres de vinagre e completar com água filtrada.
Tapar e reservar de 5 a 7 dias.

domingo, 25 de novembro de 2012

Os fantasmas



Esta coisa de escrever crónicas “é um jogo permanente entre o estilo e a substância”. Uma luta entre “o deboche estilístico” do gozo da escrita e “a frieza analítica” do pensamento do cronista. Por isso, enquanto cidadão, só posso ver este governo como uma verdadeira praga bíblica que caiu sobre um povo que o não merecia. Mas, enquanto cronista, encaro-o como uma dádiva dos céus, um maná dos deuses, “um harém de metáforas”, uma verdadeira girândola de piruetas estilísticas.
Tomemos como exemplo o ministro Gaspar. Licenciado e doutorado em Economia, fez parte da carreira em Bruxelas onde foi director do Departamento de Estudos do BCE. Por cá, passou pelo Banco de Portugal, foi chefe de gabinete de Miguel Beleza e colaborador de Braga de Macedo. É o actual ministro das Finanças. Pois bem. O cronista olha para este “talento” e que vê nele? Um retardado mental? Uma rábula com olheiras? Um pantomineiro idiota? Não me compete, enquanto cidadão, dar a resposta. Mas não posso deixar de referir a reacção ministerial à manifestação de 15 de Setembro que, repito, adjectivava os governantes onde se inclui o soporífero Gaspar, como “gatunos, mafiosos, carteiristas, chulos, chupistas, vigaristas, filhos da puta”. Pois bem. Gaspar afirmou na Assembleia da República que o povo português, este mesmo povo português que assim se referia ao seu governo, “revelou-se o melhor povo do mundo e o melhor activo de Portugal”! Assumpção autocrítica de alguém que também é capaz de, lucidamente, se entender, por exemplo, como um “chulo” do país? Incapacidade congénita de interpretar o designativo metafórico de “filhos da puta”? Não me parece. Parece-­me sim um exercício de cinismo, sarcástico e obsceno, de quem se está simplesmente “a cagar” para o povo que protesta. A ser assim, julgo como perfeitamente adequado repetir aqui uma passagem de um texto em forma de requerimento “poético” de 1934. Assim: “A Nação confiou-lhe os seus destinos?... / Então, comprima, aperte os intestinos. / Se lhe escapar um traque, não se importe... / Quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte? / Quantos porão as suas esperanças / Num traque do ministro das Finanças?... / E quem viver aflito, sem recursos / Já não distingue os traques dos discursos.” Provavelmente o sr. ministro desconhecerá a história daquele gajo que era tão feio, tão feio, que os gases andavam sempre num vaivém constante para cima e para baixo, sem saber se sair pela boca se pelo ânus, dado que os dois orifícios esteticamente se confundiam. Pois bem. O sr. ministro é o primeiro, honra lhe seja concedida, que já confunde os traques com os discursos. Os seus. Desta vez, o traque saiu-lhe pelo local de onde deveria ter saído o discurso! Ou seja e desculpar-me-ão a grosseria linguística, em vez de falar, “cagou-se”. Para o povo português. Lamentavelmente.
Outro exemplar destes políticos que fazem as delícias de um cronista é Cavaco Silva. Cavaco está politicamente senil. Soletra umas solenidades de circunstância, meiadúzia de banalidades e, limitado intelectualmente como é, permanece “amarrado à âncora da sua ignorância”. Só neste contexto se compreende o espanto expresso publicamente com “o sorriso das vacas”, as lamúrias por uma reforma insuficiente de 10 mil euros mensais, a constante repetição do “estou muito preocupado” e outros lugares-­comuns que fazem deste parolo de Boliqueime uma fotocópia histórica de Américo Tomás, o almirante de Salazar. Já o escrevi aqui várias vezes. Na cabeça de Cavaco reina um vácuo absoluto. Pelo que, quando fala, balbucia algumas baboseiras lapalicianas reveladoras de quem não pode falar do mundo complexo em que vivemos com a inteligência de um homem de Estado. Simplesmente porque não a tem. Cavaco é uma irrelevância de quem nada há a esperar, a não ser afirmações como a recentemente proferida aquando das comemorações do 5 de Outubro de que “o futuro são os jovens deste país”! Pudera! Cavaco não surpreenderia ninguém se subscrevesse por exemplo a afirmação do Tomás ao referir-se à promulgação de um qualquer despacho número cem dizendo que lhe fora dado esse número “não por acaso, mas porque ele vem na sequência de outros noventa e nove anteriores...” Tal e qual.
Termino esta crónica socorrendo-me da adaptação feliz de um aforismo do comendador Marques de Correia e que diz assim: “Faz de Gaspar um novo Salazar, faz de Cavaco um novo Tomás e canta ó tempo volta para trás”. É que só falta mesmo isso. Que o tempo volte para trás. Porque Salazar e Tomás já os temos por cá.
P.S.: Permitam-me a assumpção da mea culpa. Critiquei aqui violentamente José Sócrates. Mantenho o que disse. Mas hoje, comparando-o com esse garotelho sem qualquer arcaboiço para governar chamado Passos Coelho, reconheço que é como comparar merda com pudim. Para Sócrates, obviamente, a metáfora do pudim. Sinceramente, nunca pensei ter de escrever isto.
Luís Manuel Cunha Professor In “Jornal de Barcelos” de 10.10.2012