terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os Lusíadas - O herói épico


Quem é o herói épico?

Camões apresenta na Proposição aquele que será o protagonista da epopeia: "o peito ilustre lusitano", ou seja, Os Lusíadas, os Portugueses que realizaram grandes feitos. É um herói colectivo, composto por um friso de heróis individuais - Vasco da Gama e os marinheiros, no plano da viagem, os Reis e os heróis que realizaram "obras valerosas", no plano da História de Portugal.


Como é mitificado o herói?

O "bicho da Terra tão pequeno", referenciado no final do Canto I, é o Homem na sua condição de fragilidade face aos perigos que permanentemente o ameaçam. Ora, os Portugueses, comandados por Vasco da Gama, levam a cabo uma luta sem tréguas contra os perigos que se colocam na frente do seu sonho e, com coragem e audácia, conseguem vencê-los. Ousam navegar por "mares nunca dantes navegados" e, face ao mais terrível de todos os perigos, o desconhecido, personificado pelo Gigante Adamastor, vencem o próprio medo, pela voz de Vasco da Gama que se ergue, apesar das terríveis ameaças.

A viagem que empreendem é a do caminho marítimo para a Índia, mas representa muito mais do que uma viagem geográfica. É a viagem do confronto com os limites, do desvendar dos segredos escondidos, a viagem do conhecimento.
Ultrapassando todos os obstáculos, os nautas ultrapassaram-se a si mesmos, ultrapassaram a sua condição de "bichos da Terra tão pequenos", concretizando o lema renascentista da crença nas capacidades do Homem. Afinal, a sua inquietação e ambição, tão condenadas pelo pessimismo do Velho do Restelo, levaram-nos a bom porto, ao porto sonhado.
Por isso, merecem o prémio devido aos heróis, aportam à Ilha dos Amores, o espaço do sonho concretizado, onde o Homem, colocado ao nível dos deuses, alcança o Amor, a Beleza, a Felicidade e a Harmonia absolutas. Espaço do Homem realizado em plenitude, do conhecimento, representado na Máquina do Mundo, a ele tem acesso apenas aqueles que, superando a sua própria condição, chegam "além do que prometia a força humana". A recompensa que recebem é de uma natureza que nenhum bem material pode igualar, é o prémio da imortalidade, venceram a "lei da morte", unindo-se às ninfas e recebendo simbolicamente as coroas de louros dos heróis divinizados.

Afinal, os portugueses realizam-se como povo predestinado, escolhido desde o milagre da Batalha de Ourique, e cujo destino é reafirmado por Júpiter no Consílio dos Deuses. A "gente ousada, mais que quantas / No mundo cometeram grandes cousas", como afirma o Gigante Adamastor, é a gente mitificada no poema de Camões.

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