terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Para Português Ler

Já vos falei aqui desta página do Facebook. Um dia desafiaram-me para criar uma página sobre a língua e cultura portuguesas. Levei algum tempo a pensar, pois fazer uma página temática não é a mesma coisa que ter uma página pessoal no Facebook e, além disso, via o trabalhão que o meu filho tinha para manter a página Portuguese sayings actualizada: o trabalho de pesquisa, de produção de imagem... Eram horas a fio! E o tempo não cresce! Mas, o bichinho começava a corroer-me, e dei comigo a traçar um plano, um esquema..., a pensar nos assuntos a abordar, a perguntar aos amigos "facebookianos" o que gostariam de ver publicado numa página sobre a Língua Portuguesa, a cultura e História de Portugal. Algumas pessoas não se mostraram nada receptivas, obtive respostas destas: "É um tipo de página a que não vou aderir, porque o Face, para mim, é sinónimo de diversão."; "Uma página para aprender português e história e coisas chatas, por favor! Olha, não vais ter sucesso nenhum."; "Estou farto/a de receber convites para páginas chatas!"... Outras acharam a ideia fabulosa e deram-me algumas ideias: "Gostava de saber a história das palavras, a sua etimologia."; "Podes contar curiosidades sobre a língua e a história de Portugal."; "Era giro, publicares desafios para testar os nossos conhecimentos..."; "Podias pôr exercícios de gramática, ortografia, fonologia, semântica..."
E continuei a pensar no assunto, num possível título... Queria chegar aos falantes de português, mas não só... O objectivo era criar uma página para todos os que gostam de português (língua), mas também de História, cultura...
A página surgiu, então, com o nome de Para Português Ler, não é uma página só para portugueses, é uma página para quem gosta de português, quer aprender mais, quer ler em português e aprender sobre a cultura, história, tradições, língua, poesia, poetas, escritores...
A página tem vindo a crescer devagarinho, há seguidores de todo o planeta, os mais significativos são portugueses (claro!), africanos, brasileiros, espanhóis (um número significativo de galegos)... Os brasileiros são os que participam mais e, pasme-se, querem aprender o português europeu. Até dá para perguntar: Acordos ortográficos para quê?
Todos os dias, a página é actualizada, por vezes, publico o que me é solicitado: dúvidas, explicações de termos, de expressões...
Dou a conhecer os escritores e poetas de expressão portuguesa, falo de efemérides... Vou exemplificar com o conteúdo da página de hoje, dia 7 de Janeiro.

Esta é a foto de capa actual. De vez em quando, altero.


Esta é a foto de perfil, que vai sendo actualizada, de quando em vez.


Todos os dias é apresentado um desafio, às 9 horas. Este é o de hoje.

Desafio

Assinala a alínea que contém palavras sem erros ortográficos.

a) pajem, xadrês, flecha, mixto, aconchegar
b) ebulição, tribo, pretensioso, obsecado, cansaço
c) gorjeta, sargeta, picina, florecer, consiliar 
d) xadrez, ficha, mexerico, enxame, enxurrada
e) pagem, xadrês, flexa, mecherico, enxame


Pelas 11.30, surge um destrava-línguas, uma explicação etimológica, uma curiosidade...



Às 14 horas, surge um poema, uma citação, um pensamento de um poeta ou escritor de expressão portuguesa. Normalmente, os poemas são analisados e devidamente explicados.



Cerca das 16 horas,  surge a efeméride do dia, sempre acompanhada de uma foto com um poema alusivo ou frase ou apenas a foto.




A 7 de Janeiro de 1355, o rei D. Afonso IV cede às pressões dos fidalgos da corte, seus conselheiros, e, aproveitando a ausência de seu filho D. Pedro I, que se encontrava numa caçada, enviou a Coimbra, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco para matarem D. Inês de Castro, o grande amor de D. Pedro I. 

Segundo a lenda, as lágrimas derramadas pela morte de Inês teriam feito brotar uma fonte, a Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas e a cor férrea, cor de sangue, resultado de algumas algas avermelhadas que ali crescem, simbolizam o sangue derramado (mas, as pessoas acreditavam mesmo tratar-se do sangue de Inês de Castro, ao ponto de se terem feito análise que provaram que se tratava de algas). 


A morte de Inês de Castro

D. Inês de Castro era uma fidalga galega, que fazia parte da comitiva da infanta D. Constança de Castela, quando esta se deslocou a Portugal para casar com o príncipe D. Pedro.
A beleza singular de D. Inês despertou desde logo a atenção do príncipe, que veio a apaixonar-se profundamente por ela e a tornar-se seu amante. Esta ligação amorosa provocou um escândalo na Corte portuguesa e o rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, interveio expulsando D. Inês.
D. Constança morreu de parto em 1345 e D. Pedro mandou que D. Inês regressasse a Portugal e instalou-a na sua própria casa, onde passaram a viver uma vida de marido e mulher. Deste relacionamento nasceram quatro filhos.
D. Afonso IV e os seus conselheiros aperceberam-se que a ligação do futuro monarca com D. Inês poderia trazer graves consequências para a coroa portuguesa pela forte influência castelhana. Por isso, ouvido o Conselho, D. Afonso condenou D. Inês à morte: era necessário eliminá-la para salvar o Estado. Quando D. Inês teve conhecimento da decisão do rei, implorou-lhe misericórdia, apresentando como argumento os seus quatro filhos, netos do monarca. O rei apiedou-se de D. Inês, mas o interesse do Estado foi mais forte e D. Inês foi assassinada em 1355. Só depois do assassinato é que D. Pedro soube do sucedido, jurando vingança aos homens que mataram D. Inês.
Este episódio narrado n'Os Lusíadas é considerado um episódio lírico pela importância dada ao tema do amor, pela forma como esse sentimento é vivido, e tornou-se num dos casos mais conhecidos no mundo e numa das histórias mais celebradas. Trata-se de uma das mais belas histórias de amor.


A VERDADE HISTÓRICA

. 0 casamento do Infante D. Pedro com D. Constança de Castela, em 1340.

· Inês de Castro, o “colo de garça", pertencia a uma das famílias mais nobres e poderosas de Castela e era uma das damas que integravam o séquito de D. Constança.

· D. Pedro apaixona-se por Inês.

· Inês torna-se madrinha do príncipe D. Fernando, estabelecendo-se, assim laços de parentesco moral (compadrio) entre ela e D. Pedro, se bem que fossem já primos em 2º grau.

· D. Inês é expulsa de Portugal mas regressa depois da morte de D. Constança, em 1345.

· Inês e Pedro passam a viver juntos nos Paços de Santa Clara, em Coimbra.

· 0 Príncipe é aconselhado por sua mãe e alguns fidalgos a desposar Inês, mas recusa.

· Nascem bastardos e D. Pedro imiscui-se na política castelhana e os fidalgos portugueses temem a ambição e influência da família Castro que podia levar ao trono português um dos filhos da ligação ilegítima de Pedro, em detrimento do herdeiro legítimo, D. Fernando, o filho de D. Pedro e D. Constança.

· 0 Rei D Afonso IV e seus conselheiros analisam a situação e concluem da necessidade de matar Inês.

· Num dia em que D. Pedro anda à caça, D. Afonso IV chega a Coimbra com alguns fidalgos.

· Sabedora das intenções do Rei, Inês vai ao seu encontro, rodeada dos filhos, e, banhada em lágrimas, implora misericórdia e perdão.

· D. Afonso IV comove-se e hesita. Pressionado pelos conselheiros Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco, autoriza a execução de Inês.

· Inês é decapitada em 7 de Janeiro de 1355.


Como Camões "viu" a morte de Inês de Castro
ALTERAÇÕES RESULTANTES DA POETIZAÇÃO

· A morte de Inês é apresentada como o “assassinato” de uma inocente, um crime hediondo.

· Não há referências à expulsão do país e à tensão das relações com D. Afonso IV.

· Inês é apresentada, sobretudo, como vítima do amor e não das razões de Estado.

· Os cavaleiros arrancam das suas espadas e trespassam-lhe o peito.

· Dir-se-ia que o coração, como grande culpado, é o primeiro a sentir o castigo. Pretende Camões, também vítima do amor, dar a Inês uma “morte nobre”, isto é, à espada e de frente para os algozes.

· Camões segue de perto a tradição oral e popular, que já havia inspirado as “Trovas à Morte de Inês de Castro”, de Garcia de Resende e cuja grandeza poética, tipicamente portuguesa, saberá aproveitar.

.......

A vingança de D. Pedro 

Ao saber que Inês de Castro tinha sido assassinada a mando do seu pai, Afonso IV, D. Pedro ficou destroçado e, ao mesmo tempo, revoltado. Então, chamou os irmãos de Inês, formou um exército com o apoio da nobreza de Entre Douro e Minho e declarou guerra ao pai. Foi assinada a paz após vários meses de conflito, e D. Pedro jurou perdoar todos os que estiveram envolvidos na morte de Inês. 
Aclamado rei em 8 de Março de 1357, D. Pedro anunciou em Cantanhede, em Junho de 1360, o casamento com D. Inês, realizado em segredo antes da sua morte, manifestando a sua intenção de a ver lembrada como Rainha de Portugal. Dois dos assassinos de Inês, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados e executados. A um foi arrancado o coração pelo peito e ao outro pelas costas, daí que D. Pedro I tenha recebido o cognome de “O Justiceiro”. 

Segundo a lenda, D. Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-o como Rainha de Portugal e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob ameaça de pena de morte. Depois, mandou esculpir dois túmulos, uma para Inês, outro para ele, obras-primas da escultura gótica em Portugal, os quais foram assentes no transepto da Igreja do Mosteiro de Alcobaça, frente a frente, para que no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam.


Pelas 19 horas, explica-se uma expressão idiomática ou um provérbio.


A pior das situações é não compreender as dificuldades e, por isso, não lhes fazer frente.

Este provérbio tem uma história. Tudo aconteceu em 1647, em França, numa universidade localizada em Nimes. O Dr. Vincent de Paul Argent fez o primeiro transplante de córnea com sucesso num doente que sempre tinha sido cego. Esse doente chamava-se Angel. Na altura, foi um feito incrível, um verdadeiro milagre, até, porque só por volta de 1950 é que se começou a fazer transplantes deste género com sucesso.
Na época, toda a gente ficou maravilhada com o feito. Toda a gente?! Não. Angel ficou horrorizado ao ver o mundo pela primeira vez. Angel dizia que o mundo que tinha imaginado era muito melhor e que preferia voltar a ser cego. Angel pediu ao cirurgião para lhe arrancar os olhos. O Dr. Vincent não queria acreditar no que estava a ouvir, nunca pensou que lhe fizessem tal pedido. No início disse que nunca faria tal coisa. Angel levou o caso para o tribunal de Paris e para o Vaticano. No final, os tribunais deram razão a Angel e este ficou conhecido como o primeiro cego que não quis ver. Angel pôde assim voltar ao seu mundo imaginado, protegendo-se do mundo verdadeiro.
É realmente uma história fantástica! E nós ficamos, mesmo, com vontade de saber como seria esse tal mundo em que vivia Angel. 


E, finalmente, pelas 22 horas, conta-se uma anedota:

A terça-feira está quase no fim!... O riso, esse nunca termina!

Uma loira ouviu dizer que a diversão, que estava na "berra", era a pesca no gelo e que em Nova Iorque "é que era". Chegada à "Big Apple", ela dirigiu-se, então, a uma casa da especialidade e comprou todo o equipamento e livros sobre esta actividade e tratou de escolher um bom lugar para começar a grande pescaria.
Depois de se instalar, ela começou a fazer um buraco no gelo. De repente, uma voz vinda do céu avisou:
- "NÃO HÁ PEIXES DEBAIXO DO GELO".
Estupefacta, a loira deslocou-se um pouco para o lado e começou a fazer outro buraco.
E mais uma vez se ouviu:
- "NÃO HÁ PEIXES DEBAIXO DO GELO".
Preocupada, a loira levantou-se, foi para o lado oposto do local onde se encontrava e começou a fazer outro buraco. E, mais uma vez, uma voz vinda do céu avisou:
- "NÃO HÁ PEIXES DEBAIXO DO GELO".
Ela parou, olhou para o céu e perguntou:
- É o Senhor, meu Deus?
A voz respondeu:
- Não, daqui é o gerente do rinque de patinagem.

(Já agora, aproveito para explicar o seguinte: rinque (do inglês rink) é o recinto para a prática da patinagem, e ringue (do inglês ring) é o lugar onde se pratica boxe).


Esta é a página de hoje, há publicações fixas (desafio, poema/citação/frase, efeméride, explicação do provérbio..., anedota) e há outras que surgem alternadas (destrava-línguas, etimologia, adivinha, tradições, lendas, contos...)

Dá trabalho? Dá. Mas, até agora as críticas são todas positivas!

2 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Estou banzado...!!!
Esse projecto é intenso e profissional. E devia ser financiado pelo ministério da cultura.
Mas também fiquei meio embasbacado ao deparar com um poema meu... Obrigado, mas baixou o nível...
Parabéns pela ideia, que é genial. Mas a execução é bem trabalhosa...
Rita, querida amiga, tem um bom resto de semana.
Beijos.

Nilson Barcelli disse...

PS:
Pela primeira vez, lamento não usar o facebook. Questão de tempo, porque já me vejo grego com o blogue...
Beijinhos.

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