sábado, 2 de janeiro de 2016

2015/2016




Mais um ano se diluiu e outro nasceu imerso numa bruma acinzentada que vamos desvelando a pouco e pouco, esperando que dessa sombra misteriosa surjam arco-íris pintados com as cores da alegria, da paz, da fraternidade, da solidariedade...

Nunca ano nenhum me deixou saudades!
Mas tenho saudades de mil momentos mágicos da minha vida! 
Sinto saudades do tempo em que os meus filhos eram pequeninos e dependiam de mim para tudo ou quase tudo. Mas... Não! Não é por este facto! Eu tinha-os ali bem debaixo das minhas grandes asas e estava tudo controlado. Eu sabia onde estavam e com quem estavam e estava tranquila, vivia numa paz cheia de serenidade, num castelo construído por mim, onde reinava o amor, o carinho. Ali, partilhavam-se quilos de ternura e dos rostos rosados brotavam sorrisos meigos, olhares cúmplices.
Tenho saudades dos grandes passeios em família, da juventude dos meus pais, das brincadeiras com os meus irmãos, das guerras com as almofadas, da varicela “em família” e das janelas tapadas com papel celofane vermelho, de quando faltávamos à missa para estarmos no café com os amigos a contar e a ouvir histórias... Depois, a nossa consciência acusava-nos e nos dois ou três Domingos seguintes, lá estávamos na igreja muito bem comportados, muito direitinhos, mas, logo, logo, sofríamos nova recaída e voltávamos ao primeiro andar do café e, entre histórias, gargalhadas e goles  de sumo de laranja, lá surgia uma ou outra conversa mais séria de adolescentes que teciam com fios mais ou menos coloridos mil sonhos...

Todos os anos, fazemos promessas, pedimos desejos... Este ano, não pedi nenhum desejo. Nada. Não comprei as tradicionais passas. Não comprei nem ofereci nenhumas cuequinhas azuis. Não subi para uma cadeira!... Não beijei meio mundo!...
Bebi unicamente meia taça de champanhe e falei ao telefone com os meus pais e com os meus filhos. Não enviei carradas de mensagem aos amigos, colegas, conhecidos, “amigos”...
Ah, e não fingi estar mais feliz!

Eu sou uma pessoa feliz!

Todos os anos, nesta altura, as pessoas fazem promessas, pedem desejos...
Todos os anos, peço três coisas que repito até perfazer os doze ou treze pedidos/desejos: sorte, saúde e juízo para mim e para os meus. Há quem peça amor, amizade, dinheiro... Não é que eu não queira dinheiro, amizade, amor... Acho que toda a gente quer. Eu prefiro merecer tudo isso, fazer por merecer... Não quero nada de graça!
Se me aparecesse uma lâmpada mágica com um génio lá dentro que me quisesse conceder três desejos, não pediria nada para mim, não pediria um carro desportivo, nem um veleiro, nem uma viagem à volta do mundo... Pediria tão-somente que as pessoas fossem boas, generosas, simpáticas, compreensivas... O mundo precisa de boas pessoas, de pessoas boas! O mundo precisa de pessoas generosas!...

Chá!... Chá? Sim. Chá. Isso mesmo que ouviram: CHÁ.
A quantidade de gente que precisa de tomar chá, litros de chá...
Dezasseis horas, um supermercado à pinha. Gente sorridente. Eu. Gente carrancuda. Gente apressada. Gente mal formada, gente mal educada. Compras. Bichas. Tiro as compras do carro, vais à volta, apanhas-me e às compras do outro lado. Quatro artigos. Chegas, apanhas as compras, viras-te para as colocares no carrinho. O carrinho? Olhamos à volta. O carro eclipsou-se. A moeda, a minha única moedinha escarlate voou com o carrinho. Não acredito. Não cremos que alguém nos tenha levado o carro. Quatro pacotes. Dois para mim, dois para ti. Nas informações, pedimos uma “moeda”. Chegados ao balcão, boa tarde. Silêncio. Aguardo. Esperamos. Olho. Entreolhamo-nos. A funcionária, imersa em papelada, com cara de Segunda-feira ao Sábado, rabisca papéis. Depois. Depois... Depois, arruma os documentos e de cabeça enterrada pelos ombros abaixo e os olhos sepultados no chão, enfiou-se por uma abertura que a levou certamente a uma caverna ou covil... Desisto de pedir a moeda. Comento a pouca educação da funcionária. Teve um dia mau! Coitada!

Depois de andar todo o mundo imbuído do espírito de Natal, de ter feito mil promessas, da época de se ser bom, de, de, de... As máscaras vão caindo uma a uma. Os bons continuarão a ser bons sem sacrifício algum. Os maus prosseguirão como até aqui. E haverá alguns que vão cumprir à risca o que juraram, custe a quem custar e os que prometeram num segundo para esquecer, logo a seguir, no segundo segundo, TUDO.

E ainda é só dia 2 de Janeiro!