sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Uma história com flores (continuação)

Olá!
Cá estou eu, outra vez, como prometi, para dar seguimento ao conto. Espero que estejam a gostar da história. Eu gosto muito e, por isso mesmo, decidi partilhá-la convosco.




A Hera mais velha pediu às outras que se calassem e, resoluta, disse:
- Embora as leis sejam para ser sempre cumpridas, hoje vamos abrir uma excepção, porque se trata de um caso de vida ou de morte. Vamos abrir o portão e deixar sair o senhor Gladíolo para que ele possa ir ver a sua tia. - E acrescentou – não quero que ninguém saiba desta minha decisão. Não quero que pensem que agora já se pode sair, sem autorização, do jardim das mil flores.
Todos concordaram, acenando a cabeça.
Os Pirilampos correram para o portão, muito contentes, muito brilhantes e com a sua luz, agora intensa, iluminaram todo o caminho que ficava para além do velho portão e corriam sem parar para cá e para lá, à espera do Gladíolo que se deixara ficar no mesmo lugar quieto e calado, ainda sem perceber muito bem o que se estava a passar.
A Hera de cem anos, ao ver o Gladíolo ali especado sem se mexer, disse:
- Senhor Gladíolo, o portão está aberto, o senhor pode sair e ir visitar a sua tia, mas, por favor, não se demore muito.
- Sim, sim… - balbuciava o Gladíolo com os olhos muito abertos de espanto – sim… eu vou… muito obrigado por tudo… eu não vou demorar, não senhor…
O Gladíolo avançou e com três passos alcançou o portão verde do pequeno mundo em que sempre viveu e de onde nunca tinha saído. Estava verdadeiramente feliz e ansioso por conhecer tudo o que ficava para além daquele belo jardim florido. Agora que estava do lado de fora daqueles quatro muros de pedra e que o portão se fechava de novo, deixando-o do outro lado daquele pequeno mundo colorido e perfumado, cheio de pequenos seres que iam agora viver sem a sua presença, ele começava já a sentir medo da solidão.
- Será que se vão esquecer de mim? – interrogava-se o Gladíolo já com saudades dos seus amigos.
- Não… ninguém me esquecerá. Tenho a certeza! Todos irão sentir a minha falta e desejar que eu volte rapidamente – afirmava baixinho o Gladíolo, muito convicto.
O Gladíolo começou a caminhar lentamente entre as velhas árvores de grandes e frondosas copas que ladeavam aquele longo caminho desconhecido e sentia-se realmente muito só.
- Não devia ter vindo sozinho, devia ter trazido alguém para me fazer companhia, para conversar… - pensava ele, caminhando sempre sem olhar para trás.
O dia clareava, o sol debruçava-se sobre a terra iluminando-a e aquecendo-a. Os pássaros deixavam os seus ninhos, voando à doida num chilreado constante e ruidoso. Mil borboletas coloridas esvoaçavam sobre as papoilas de um campo de trigo loiro. Vários insectos zumbiam perto de uma fonte de água clara e fresca que corria em fio.
O Gladíolo observava tudo com muita atenção. Afinal, tudo aquilo era novo para ele!
- Que flores tão estranhas, com pétalas tão finas que se machucam até com a leve brisa que se faz sentir! – pensava o Gladíolo, admirado, olhando insistentemente para as papoilas.
As Papoilas, quando se aperceberam do olhar indiscreto do Gladíolo, curvaram-se um pouco envergonhadas, escondendo as suas pétalas vermelhas, maculadas de negro, entre as suas folhas verdes recortadas.
O Gladíolo, muito intrigado e cheio de curiosidade, decidiu meter conversa com aquelas flores que lhe pareciam vulgares, mas ao mesmo tempo tão frágeis, de pé fino e peloso.
- Olá! Como se chamam? – perguntou.
- Somos Papoilas! – exclamaram elas todas em coro, com voz fina. – Somos flores do campo espontâneas e nascemos nos trigais. Como vês enfeitamos qualquer campo com os nossos vestidos de seda vermelha.
- E tu, de onde vens? – perguntaram as Papoilas já mais à vontade.
- Eu venho do jardim das mil flores e ando a viajar. Quero conhecer o mundo e todas as flores que o povoam – respondeu muito animado, o Gladíolo, com voz cantante.
- Se quiseres… nós podemos apresentar-te outras flores do campo! – disse entusiasmada uma papoila que parecia muito nova, pois tinha ainda a sua saia de pétalas vermelhas muito amarrotada.
O Gladíolo não pareceu ficar muito satisfeito com a ideia, ele preferia conhecer flores mais chiques, daquelas que se vestem de veludos e de sedas finas, lisas e brilhantes, de boa qualidade, sem manchas nem rugas. Antes de responder, pensou… pensou… e concluiu que não perdia nada em conhecer as tais flores do campo.
- Está bem… as senhoras podem apresentar-me a todas as flores do campo – decidiu, contente por ter encontrado novas amigas, embora continuasse a achá-las um pouco vulgares e sem graça com aqueles vestidos de seda barata e amarrotada.
O Gladíolo avançou pelo campo de trigo e juntou-se às papoilas que tentavam alisar as saias dos seus vestidos escarlates.
- Vamos! – ordenou o Gladíolo muito direito, muito bonito, com as suas pétalas muito frescas e brilhantes e apontando, com as suas folhas finas e longas, o caminho.
E lá foram todos pelo campo fora, em procissão, conversando e rindo.
- Lá estão eles! – disse uma Papoila, indicando um recinto povoado de flores pequenas com caules pequeninos.
- Como se chamam? - indagou o Gladíolo, quando as avistou.
- São Malmequeres do campo – respondeu a Papoila mais nova.



Continua

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