sexta-feira, 25 de abril de 2008

"É a hora!"


GRÂNDOLA, VILA MORENA


O 25 de Abril

(explicado pela M.)

O golpe de estado de 25 de Abril de 1974 ficou conhecido para sempre como a "Revolução dos Cravos", porque não houve a violência habitual das revoluções (manchada de sangue inocente), porque o povo ofereceu cravos aos militares. Assim, em vez de balas, havia flores por todo o lado, já que os militares os enfiaram nos canos das armas, significando o renascer da vida e a mudança.
O povo português fez este golpe de estado, porque não estava contente com o governo de Marcelo Caetano, que seguiu a política de Salazar (o Estado Novo), que era uma ditadura, uma forma de governo sem liberdade que durou cerca de 48 anos.
Enquanto os outros países da Europa avançavam e progrediam em democracia, o regime português mantinha o nosso país atrasado e fechado a novas ideias.
Todos os homens eram obrigados a ir à tropa (na altura estava a acontecer a Guerra Colonial) e a censura, conhecida como "lápis azul", é que escolhia o que as pessoas liam, viam e ouviam nos jornais, na rádio e na televisão.
Antes do 25 de Abril, todos se mostravam descontentes, mas não podiam dizê-lo abertamente (podiam ir presos) e as manifestações dos estudantes deram muitas preocupações ao governo. Os estudantes queriam que todos pudessem aceder igualmente ao ensino,
(na altura a escola só era obrigatória até à 4ª classe), à liberdade de expressão e queriam também o fim da Guerra Colonial, que consideravam inútil.
Os países estrangeiros, que no início apoiavam Salazar e a sua política, começaram a fazer pressão contra Portugal. Por isso, o governante dizia que o nosso País estava "orgulhosamente só".
Quando Salazar morreu, foi substituído por Marcelo Caetano, mas este não mudou nada na política e a ditadura continuou.
A solução acabou por vir do lado dos que faziam a guerra: os militares. Cansados desse conflito e da falta de liberdade, criaram o Movimento das Forças Armadas (MFA), conhecido como o "Movimento dos Capitães".
Depois de um golpe falhado a 16 de Março de 1974, o MFA decidiu avançar.
O major Otelo Saraiva de Carvalho fez o plano militar e, na madrugada de 25 de Abril, a operação "Fim-regime" tomou conta dos pontos mais importantes da cidade de Lisboa: o aeroporto, a rádio e a televisão.
As forças do MFA, lideradas pelo capitão Salgueiro Maia, cercaram e tomaram o quartel do Carmo, onde se refugiara Marcelo Caetano. Rapidamente, o golpe de estado militar foi bem recebido pelos portugueses, que vieram para as ruas sem medo.
Foram lançadas duas "senhas" na rádio para os militares saberem quando avançar: a primeira foi a música "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho e a segunda foi "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, que ficou ligada para sempre ao 25 de Abril.
Depois de afastados todos os responsáveis pela ditadura em Portugal, o MFA libertou os presos políticos e acabou com a censura sobre a Imprensa. E, assim, começou um novo período da nossa História: a democracia. Hoje, temos liberdade, todas as crianças podem ir à escola e o País juntou-se ao resto da Europa. Mas...

E depois do Adeus


Portugal, Lisboa. Revolução de 25 de Abril de 1974


Os poetas de outrora continuam actuais

(infelizmente)

Lamentação de Camões e de Pessoa

Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida,
O favor com quem mais se acenda o engenho

Não no dá a pátria, não, que está metida

no gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Os Lusíadas, Canto X, 145

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Fernando Pessoa, Mensagem.

Os Lusíadas e a Mensagem

Luís de Camões e Fernando Pessoa foram dois poetas que exaltaram o povo português, através de duas obras distintas (Os Lusíadas – poema épico e a Mensagem – poema lírico). Ambas nos remetem para a época dos Descobrimentos, divulgando também as raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva: o povo português.
Embora escritas em épocas distintas, revelam os antepassados e os fundadores da personalidade e perfil dos portugueses. Há nestas obras o relato do nascimento de uma pátria, da sua vida (crescimento) e do seu adormecimento. Os navegadores cumpriram a missão de alargar o império e depois surgiu a estagnação, a desilusão geral.
Estes Poetas dão-nos uma imagem negativa de Portugal, uma nação apagada e mergulhada em tristeza.
Camões revela ter "descoberto" um Portugal ignorante, rude, ambicioso e ruim - " a pátria (...) está metida / No gosto da cobiça e na rudeza/ Dhua austera, apagada e vil tristeza." - cuja população se recusa a escutar a " voz que canta" as acções passadas que elevaram Portugal.
Fernando Pessoa embora o que constate seja uma penumbra e dispersão de ideias incertas - Ninguém sabe que coisa quer", "Tudo é disperso, nada é inteiro" - ainda vê um possível rumo para o renascer de um Portugal glorioso, terminando a obra com uma
nota de esperança, um incentivo – " É a hora!"
Os dois poetas elogiam os Portugueses com o exemplo mais glorioso dos feitos de Portugal – os Descobrimentos – ambos revelam o seu grande amor pela pátria, criticam a falta de iniciativa, mas não deixam de estimular o povo português a evoluir e a criar novos sonhos que deverão ser concretizados.
A esperança de Camões residia na liderança de D. Sebastião que encaminharia novamente Portugal para um futuro glorioso, conforme revela nas três últimas estrofes da sua epopeia. Para Fernando Pessoa era chegada a hora da construção de um novo império, agora de carácter espiritual, o Quinto Império, e com condições para perdurar mais do que o anterior.


Outras visões

“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...”

Guerra Junqueiro escrito em 1886

Luís Vaz de Camões.
Poeta infortunado e tutelar.
Fez o milagre de ressuscitar
A pátria em que nasceu.
Quando, vidente, a viu
A caminho da negra sepultura,
Num poema de amor e de aventura,
Deu-lhe vida
Perdida.
E agora,
Nesta segunda hora
De vil tristeza,
Imortal,
É ele ainda a única certeza
De Portugal.

Miguel Torga

"Não tenho a certeza de que Portugal exista dentro de 50 anos. Vivemos num lento processo de decadência, com alguns focos de entusiasmo, como a República ou a Revolução dos cravos. Isso revela a uma incapacidade para manter alta a nossa tensão de viver. A nossa mentalidade é de uma tristeza apagada e civil, que pode não ser suficiente para nos mantermos. Pode ser que existam os portugueses, enquanto comunidade de gente que fala esta língua, mas o estado português pode desaparecer. Não há muito tempo, desapareceu um país que se chamava Jugoslávia. Nós continuaremos aqui, claro, mas as mudanças geoestratégicas e económicas podem conduzir-nos a um grau de subalternidade inédito. Ainda que isto não venha a suceder amanhã, tem que ver com o papel pujante da Espanha como Estado, um país vivo e em progressão. É lógico que Portugal seja atraído por ela e se integre – com um altíssimo grau de governo, entenda-se – num novo Estado Ibérico. Especulo, porque pessoalmente não estou a favor nem contra, mas digo-vos que até poderia ocorrer que, como Estado federado ao lado de Espanha, o país adquirisse uma importância que agora não tem."

Saramago e a Ibéria unida; Courrier International, nº 42 de 20 a 26 de Janeiro de 2006


"É a hora!".

Clama o poeta com um grito lancinante: "É a Hora" de acordarem, de se unirem, e de fazerem voltar tudo de novo. Quem sabe, D. Sebastião, fulgurante e montado no seu cavalo branco, não surgirá do espesso nevoeiro em que se sumiu e, então, o mito e a glória de Portugal ressurgirão das cinzas, como Fénix renascida.


O 25 de Abril foi mais uma vez o querer dum povo que saiu à rua no intuito de fazer renascer uma nova vida para Portugal e para os portugueses, uma mudança. Mas, passados 34 anos, sinto o mesmo desalento que os meus poetas preferidos, Luís de Camões e Fernando Pessoa, e é com tristeza que digo que continuam actuais (infelizmente).

Trabalhitos:

anel com pérola e cobre.

caixinha

Bom fim-de-semana!

14 comentários:

APO (Bem-Trapilho) disse...

pois parece que estamos mesmo em consonância! :) mas este tema hj era incontornável!

"Apanhaste-me" no meio de um post novo lá para o Bom Feeling. E tenho novidades tb no Bem-Trapilho.

belo "postal" esse video do "E Depois do Adeus".

as manualidades tb estao girissimas!

bjo grande,Mena!

SabriIsabel disse...

Hola querida Mena,gracias por visitarme y por tus elogios a mi hija.Isa es mi nombre asi que la gallina tiene mi nombre!!!!jaja Besos Amiga y que tengas lindo fin de semana!!!!

Anónimo disse...

Interesante reportagem sobre o dia.
Os trabalho e moito bom, gustame.
Parabeins

Beijinhos e bom fin de semana

Anónimo disse...

Então como passaste o teu feriado do 25 de Abril?

Um fim-de-semana prolongado sabe sempre bem.

Mas é importante não esquecer a causa deste feriado!!

Gostei do anel, está muito fino :)

*Continuação de um óptimo fim-de-semana,
Joanita

Habiba disse...

muito bonitos os teus novos trabalhinhos... beijinhos

Chocolate disse...

Sempre em sintonia com as datas ;)adorei os trabalhinhos novos! :)
beijinhos e bom fim de semana!

D. disse...

Olá...
Adorei o seu anel...
Beijinhos e bom fim de semana!
Passe no meu blog, há coisas novas...

Diana.

Tânia e Liliana Vale disse...

É sempre bom passar por aqui e ler estes lindos textos! Têm sempre palavras muito sábias! Parabéns por todos os trabalhos. Bjo***

Néa Souza disse...

oi linda!!!passei aqui p/ te convidar a participar de minha troquinha, o motivo é legal, espero por vc!!!!passa no meu blog e se inscreve!!!

Anónimo disse...

Olá Mena!obrigada pelas tuas visitas e comentário,desculpa de ainda não ter passado aqui,gostei muito dos teus novos trabalhos,quanto aos bubbles é uma tinta,que se vende nas casas onde se compra os materiais,tem uma boa semana bjinhos

Nile e Richard disse...

Oi amiga.Adorei saber sobre os herois que lutaram pela liberdade.As poesias estão divinas e foi muito bom para lembrarme de tão famosos Poetas.bjitos.nile.

orgusepetii disse...

merhaba arkadaşım ziyaretine teşekkür ederim,iyi haftalar sevgiler....from turkey

Feltro em casa disse...

Oi Mena, Lindo Anel de p�rolas!!!
Voce como sempre muito profunda em seus pensamentos...� uma delicia de ler. Um beijo da Mal�

Maria Bettencourt Lemos disse...

Espectacular o que escreveste e espectaculares tos trabalhos aqui apresentados, muitos parabens!

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