segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Voltar a Veneza

Rio Tejo - Lisboa




Voltar a Veneza

Por favor, clica no vídeo! Não consegui que aqui ficasse inteirinho, lol!...



Voltar a Veneza de Sophia de Mello Breyner é também um texto de memórias de viagem, mas de uma visitante ocasional.


No final de Abril deste ano cheguei a Veneza ao cair da tarde, no meio desta imprevisível Primavera, num dia de céu tempestuoso com grandes nuvens cinzentas azuladas e escuras como há nos quadros de Tintoretto (1). (…)

Pensei desconsoladamente que não íamos ver o refulgir dos palácios nem a luz sedosa, mas, quando entrámos no Gran Canale, vi como Veneza, em qualquer metamorfose, é bela e prodigiosa (2).

No barco-taxi, ao meu lado, o meu filho e o meu neto exultavam de espanto e de descobrimento. Sob o imenso tecto de nuvens a luz clara era uniforme e coada como a luz de um bom ateliê de pintura e, embora não fosse muito clara, mostrava com precisão as fachadas de cada palácio, as suas cores diversas, as formas, os estilos, os degraus mergulhados na água, as janelas, as varandas, as colunas finas, as imagens reflectidas na laguna.

Até que o barco virou à esquerda, virou e revirou no labirinto dos canais e, de súbito, parámos em frente dos degraus do hotel e num instante estávamos lá dentro. (…)

Depois de vistos os passaportes e arrumadas as malas, saímos do hotel. Cá fora era já noite fria e húmida, sem lua nem estrelas, sob o céu tapado.

Mal chegámos à Praça de San Marcos a noite tornou-se mágica – numa escuridão transparente, pontuada de pequenas luzes, onde, entre o visível e o invisível, entre nevoeiros e reflexos, no grande espaço aberto da praça, subia a altíssima torre quadrangular e se desenhavam colunas e arcadas e as grandes cúpulas da basílica. Na vasta transparência escura, onde mal se via, surgia a cidade interior à nossa alma como um mito. (…) o escuro, o nevoeiro e o invisível estavam povoados por uma multidão de vultos indistintos que davam a impressão de ser leves, desligados, soltos. Nas múltiplas línguas do seu vozear não era possível reconhecer as palavras como não era possível distinguir os seus gestos nem as suas diversas direcções em que caminhavam, nem os rostos ocultos sob as máscaras da sombra – mas todos pareciam obedecer ao espírito do lugar e da noite – era a cidade “das muitas e desvairadas gentes”.

Com eles fomos seguindo e entrámos na Piazetta onde, na fachada iluminada do Palácio dos Doges, sob o nevoeiro, aflorava o maravilhoso cor-de-rosa de pedra.

Entre arcadas, cúpulas, sombras e reflexos pairava a presença do longínquo e erguiam-se e uniam-se todas as musas do Oriente – Bizâncio, Arábia, Pérsia e Índia.

Do cais vinham pequenas névoas bailarinas que avançavam sobre o chão de pedra – a laguna irisava-se (4) de reflexos e visões. Do outro lado, a Igreja de San Giorgio, iluminada e branca, reinava entre escuridão, nuvens negras e água – o cheiro errático da maresia atravessava tudo. (…)

Na manhã seguinte estava ora sol ora ensombrado. Disse aos meus companheiros de viagem que fossem andando sem esperar por mim e marquei-lhes encontro à uma hora no café Florian. (…)

Como muitos anos antes sentei-me numa pequena mesa em frente de um minúsculo café, acendi um cigarro finíssimo para ver melhor e fiquei a cismar o que via. (…) a torre quadrangular do Campanile cor de canela pareceu tão bem situada, tão bem proporcionada, tão bem congeminada nas arestas dos ângulos rectos dos seus lados que senti simultaneamente o seu peso e a sua leveza. E, basílica, praça e torre, jogavam entre si o jogo do número perfeito. (…)


Sophia de Mello Breyner Andresen (texto com supressões)



Tintoretto: pintor veneziano que nasceu, provavelmente, em 1518 e veio a falecer em 1594. Foi aprendiz de Veronese e Schiavone, embora tenha passado pela oficina de Ticiano. O objectivo principal da sua pintura teria sido o de combinar o tratamento da cor da escola veneziana com o desenho da tradição florentina e romana. Estabeleceu a sua reputação com O Milagre de S. Marcos (1548). O ciclo de trabalhos executados para a Scuola di S. Rocco ocuparam-no durante cerca de vinte anos e testemunham o seu percurso, dando expressão a um estilo muito individual. Por vezes extremista, buscou uma tensão dramática no emprego da luz, o que o aproxima do espírito da época barroca.

2) espantosa; extraordinária.

3) alegravam-se.

4) tomava as cores do arco-íris



Este texto pode ser dividido em três partes que se sucedem cronologicamente:

1. ª parte – Chegada ao cair da tarde

2. ª parte – A descida da noite

3. ª parte – A manhã seguinte



No texto memorialístico "Voltar a Veneza" de Sophia De Mello Breyner, a descrição da cidade está construída tendo em consideração marcas linguísticas características do texto descritivo:


Sensações:


“Nas múltiplas línguas do seu vozear” – sensação auditiva

“a luz sedosa” – sensação visual e táctil

“as imagens reflectidas na laguna” - sensação visual

“noite fria e húmida” – sensação táctil

“o cheiro errático da maresia atravessava tudo” – sensação olfactiva



Na descrição, as sugestões sensoriais são essenciais, uma vez que é através delas que apreendemos a realidade que nos rodeia. Aliás, estas contribuem para a criação de sinestesias, isto é, a fusão de percepções sensoriais diferentes numa só expressão, como verificaste em “a luz sedosa”.



Recursos expressivos:


"(...) Veneza (...) é bela e prodigiosa (...)” - dupla adjectivação

"Sob o imenso tecto de nuvens (...)" - adjectivação anteposta

"(...) mostrava com precisão as fachadas de cada palácio, as suas cores diversas, as formas, os estilos, os degraus mergulhados na água, as janelas, as varandas, as colunas finas, as imagens reflectidas na laguna (...)" - enumeração assindética

"Do cais vinham pequenas névoas bailarinas que avançavam sobre o chão de pedra – a laguna irisava-se de reflexos e visões (...)" – animismo

"Entre arcadas, cúpulas, sombras e reflexos pairava a presença do longínquo e erguiam-se e uniam-se todas as musas do Oriente – Bizâncio, Arábia, Pérsia e Índia." - enumeração sindética

"(...) surgia a cidade interior à nossa alma como um mito (...)" - Comparação

"(...) uniam-se todas as musas do Oriente (...)" – Metáfora



Na descrição verifica-se uma multiplicidade de recursos expressivos:


Adjectivação anteposta – quando o adjectivo é colocado antes do nome, valorizando-se assim mais a qualidade do que o sujeito em si.

Dupla adjectivação – dois adjectivos qualificam o nome, tornando a descrição mais expressiva e completa.

Adjectivação expressiva – profusão de adjectivos e/ou adjectivos que não esperamos encontrar a qualificar determinados nomes (um poema delicioso).



Figuras de estilo como a comparação e a metáfora, cujo efeito é aproximarem realidades; o animismo e a enumeração de vários elementos, sindética (com a conjunção coordenativa expressa) ou assindética (sem conjunção expressa, por meio de vírgulas) que atribuem movimento à descrição.



O uso de construções paralelísticas, através da repetição de uma construção sintáctica semelhante, enriquece a descrição.


“(…) o escuro, o nevoeiro e o invisível estavam povoados por uma multidão de vultos indistintos que davam a impressão de ser leves, desligados, soltos.”

Entre arcadas, cúpulas, sombras e reflexos pairava a presença do longínquo e erguiam-se e uniam-se todas as musas do Oriente – Bizâncio, Arábia, Pérsia e Índia.



A descrição, elemento que suspende a narração da acção propriamente dita, constitui um texto em que se representa verbalmente um objecto, um animal, um lugar, uma paisagem, um estado psicológico, etc.



A Mena na cozinha

Tarte de limão

200 g pacote de bolacha Maria
150 g de margarina derretida
1 lata de leite condensado
4 ovos
1 limão grande
5 colheres de sopa de açúcar

Amasse as bolachas com a margarina até formar uma bola consistente. Forre com a massa a forma de tarte.

Junte ao leite condensado, as 4 gemas, o sumo e a raspa do limão. Mexa bem esta mistura e coloque sobre a base de bolacha. Leve ao forno cerca de 30 minutos.

Bata as claras em castelo com 4 colheres de açúcar e disponha-as, com uma colher, sobre o preparado anterior. Polvilhe com açúcar e leve, novamente, ao forno, até alourar.

Delicie-se!


Trabalhito:

Porta-chaves



Miminho da Lisa

Aqui fica para quem o quiser levar!



M, esta história é para ti! Espero que gostes!




6 comentários:

artes_romao disse...

boa tarde,td bem?
mais uma viagem muito interessante.
esta tarte deve ser deliciosa,heheh.
e o porta-chaves está super giro.
fica bem,jinhos****

APO (Bem-Trapilho) disse...

olá Mena! Que linda história! Adorámos! mal vi o teu mail vim cá logo com a M. para a lermos. muito obrigada pela dedicatória. ela adorou e eu tb, claro! :)
importas-te que ela a leve para o blog dela?
agora falando de outras coisas que gostámos por aqui: a M. adorou o visual da tua tarte! :) deve ter ficado muito apetitosa. e tb gostámos do porta-chaves. ela disse-me logo que era parecido com o meu (aquele que me enviaste). :)
bjinhos grandes :)))

Mona Lisa disse...

Olá Mena

É sempre com agrado que releio Sophia de Mello Breyner.

Os porta chaves estão um amor!

Aaaaaah...como deves calcular a minha sobremesa foi tarte.

Hummmmmmmmmmm...uma delícia!

Bjs.

Lisa

Anónimo disse...

Mena, esta tartezinha deve ser pouco boa deve! hehehe:)
Sou louca por doces de limão...pudesse eu furar o ecrã!lol
E ficava muito bem no Beige Day:)

Sonia Facion disse...

Oi Mena!!!

Passei para convidá-la para participar de uma promoção no blog www.santapatricia07.blogspot.com

Prá variar tô levando o selinho, hehehe...

Bjks

Sonia

Maria Oliveira - FazendoArte disse...

hummm
esse tarte é uma maravilha!
combinado com seu lindo chaveirinho que é um doce!
obrigada pelo selinho,
estou levando

:)

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