sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes

SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES

Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino.

O sermão começa com o conceito predicável

· “Vos estis sal terrae” (S. Mateus, capítulo V, versículo 13) - VÓS SOIS O SAL DA TERRA diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores

Os conceitos predicáveis consistem em «figuras» ou alegorias pelas quais se pode realizar uma pretensa demonstração de fé, ou verdades morais, ou até juízos proféticos. O processo, como notou António Sérgio, deriva da interpretação do Velho Testamento como conjunto de «prefigurações» do que narra o Novo Testamento. Depois, os passos bíblicos tornaram-se pretexto para construções mentais arbitrárias, em que brilha o virtuosismo do orador.

(Jacinto do Prado Coelho, DICIONÁRIO DA LITERATURA)

O conceito predicável é uma expressão retirada das Sagradas Escrituras que encerra uma determinada verdade que vai servir de mote ao sermão.

Como qualquer texto argumentativo, o sermão divide-se em EXÓRDIO (INTRODUÇÃO), EXPOSIÇÃO E CONFIRMAÇÃO (DESENVOLVIMENTO), PERORAÇÃO (CONCLUSÃO).

No Sermão de Santo António aos peixes, o Exórdio ocupa o primeiro capítulo, a Exposição e a Confirmação surgem nos capítulos II, III, IV e V e a Peroração ocorre no VI e último capítulo.


Capítulo I

No Exórdio, o orador realça o papel do pregador e apresenta o exemplo de Santo António (modelo de pregador) que, quando, em Arimino, se viu hostilizado pelos homens, decidiu pregar aos peixes. A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra": "Santo António foi sal da terra e foi sal do mar." É aqui que o Padre António Vieira apresenta a grande ironia que está por detrás de todo o sermão: o pregador finge falar aos peixes, quando, na verdade, se dirige aos ouvintes humanos.

DESENVOLVIMENTO
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios."


EXPOSIÇÃO E CONFIRMAÇÃO (CAPÍTULOS II, III, IV E V):

Capítulo II – Louvores dos peixes em geral

Capítulo III - Louvores de peixes em particular

Capítulo IV – Repreensão dos peixes em geral

Capítulo V – Repreensão de peixes em particular

Capítulo II

O sermão é uma alegoria, porque os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são directamente metáfora dos vícios dos homens. O pregador fala aos peixes, mas quem escuta são os homens.

Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco.

O pregador argumenta de forma muito lógica. Partindo de duas propriedades do sal, divide o sermão em duas partes: o sal conserva o são, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Para que fique claro que todo o sermão é uma alegoria, o pregador refere frequentemente os homens. Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…), interrogações retóricas, anáforas, gradações crescentes, antíteses, etc. Demonstra as afirmações que faz tirando partido do contraste entre o bem e o mal, referindo palavras de S. Basílio, de Cristo, de Moisés, de Aristóteles e de Santo Ambrósio, todas referidas aos louvores dos peixes. Confirma-as com vários exemplos: o dilúvio, o de Santo António, o de Jonas e o dos animais que se domesticam.

Elogio das virtudes em geral

· "ouvem e não falam"

· "vós fostes os primeiros que Deus criou"

· "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"

· "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"

· "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"

· "aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."

· "só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"

Virtudes que dependem sobretudo de Deus:

• foram as primeiras criaturas criadas por Deus
• foram as primeiras criaturas nomeadas pelo homem
• são os mais numerosos e os maiores
• obediência, quietação, atenção, respeito e devoção com que ouviram a pregação de Santo António

Virtudes naturais dos peixes:

• não se domam
• não se domesticam
• escaparam todos do dilúvio porque não tinham pecado

Os peixes não foram castigados por Deus no dilúvio, sendo, por isso, exemplo para os homens que pouco ouvem e falam muito, pouco respeito têm pela palavra de Deus.

Evidencia-se que os animais que convivem com os homens foram castigados, estão domados e domesticados, sem liberdade.

Animais que se domesticam - cavalo, boi, bugio, leões, tigres, aves que se criam e vivem com os homens, papagaio, rouxinol, açor, aves de rapina.

Animais que vivem presos - rouxinol, papagaio, açor, bugio, cão, boi, cavalo, tigres e leões.

O discurso é pregado; por isso, envolve toda a pessoa do orador. Os gestos, a mímica, a posição do corpo, isto é, a linguagem não verbal tem um lugar importante porque completa a mensagem transmitida.

Recursos estilísticos

  • A antítese Céu/lnferno, que repete semanticamente a antítese bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes, quer às duas finalidades globais do mesmo.
  • A apóstrofe refere directamente o destinatário da mensagem e do pregador, aproximando os dois pólos da comunicação: emissor e receptor.
  • A interrogação retórica como meio de convencer os ouvintes.
  • A personificação dos peixes associada à apóstrofe e às atitudes dos mesmos.
  • A gradação crescente na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens, mas presos.
  • A comparação, "como peixes na água", tem o carácter de um provérbio que significa viver livremente.

Santo António foi muito humilde, aceitando sem revolta o abandono a que foi votado por todos, ele que conhecia a sua sabedoria. O pregador pretende condenar os homens que possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.

Capítulo III

Elogios em particular e comparação entre os peixes e Santo António

O peixe de Tobias

• sarou a cegueira do pai de Tobias (o fel do peixe cura a cegueira)
• lançou fora os demónios (o coração expulsa os demónios)


Santo António
• alumiava e curava as cegueiras dos ouvintes
• lançava os demónios fora de casa

A Rémora

• pega-se ao leme de uma nau
• prende a nau e amarra-a (tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder)

Santo António
• a língua de S. António domou a fúria das paixões humanas: Soberba, Vingança, Cobiça, Sensualidade

O Torpedo

• faz tremer o braço do pescador (descarga eléctrica que faz tremer o braço do pescador)
• não permite pescar

Santo António
• 22 pescadores tremeram ouvindo as palavras de S. António e converteram-se

O Quatro-Olhos

• defende-se dos peixes (dois olhos voltados para baixo para se vigiarem dos peixes)
• defende-se das aves (dois olhos voltados para cima para se vigiarem das aves)

o pregador
• o peixe ensinou o pregador a olhar para o Céu (para cima) e para o Inferno (para baixo)

O pregador usa o imperativo verbal, a repetição anafórica, a exclamação, a apóstrofe, a leve ironia ("Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!").

A língua de Santo António teve a força de dominar as paixões humanas, guiando a razão pelos caminhos do bem; foi o freio do cavalo, porque impediu tantas pessoas de caírem nas mais variadas desgraças.

A língua de Santo António foi a rémora dos ouvintes enquanto estes ouviram; quando o não ouvem, são atingidos por muitos naufrágios (desgraças morais).

Recursos estilísticos:

  • Anáforas: Ah homens… Ah moradores… Quantos, correndo… Quantos, embarcados… Quantos, navegando… Quantos na nau… A interjeição visa atingir o coração dos ouvintes; a repetição do pronome indefinido realiza uma enumeração.
  • Gradações: Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça, Nau Sensualidade; "passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador." O sentido é sempre uma intensificação para mais ou para menos.
  • Antíteses: mar/terra, para cima/para baixo, Céu/Inferno. Palavras de sentido oposto indicam as duas direcções do sermão: peixes - homens, bem - mal.
  • Comparações: "… parecia um retrato marítimo de Santo António"; o peixe de Tobias, com um burel e uma corda, era uma espécie de Santo António do mar: as suas virtudes eram como as de Santo António. "… unidos como os dois vidros de um relógio de areia,": o peixe Quatro-Olhos possuía grande visão e precisão.
  • Metáforas: "… águias, que são os linces do ar; os linces, que são as águias da terra": sentido de rapidez e de visão excepcional.



Trabalhinho:



A Mena na cozinha


Kibe no forno com carne

250 g de trigo para kibe
0,5 kg de carne moída
2 cebolas
2 dentes de alho
1 caldo de galinha
1 ramo de hortelã
Pimenta
Sal, piripiri, azeite

Coloque o trigo para kibe numa tigela e cubra com água quente, deixando 2 cm de água acima do trigo. Deixe de molho durante aproximadamente 1 hora.
Pique a cebola, os alhos e a hortelã na máquina. Misture a pimenta e o piripiri e envolva.

Numa tigela grande, deite o trigo demolhado e a carne e amasse bem. Seguidamente, adicione os temperos que preparou na picadora e misture bem. Por fim, adicione o caldo de galinha dissolvido em meia chávena de água morna, misture mais um pouco e corrija os temperos, se for necessário.

Unte um tabuleiro com azeite e distribua a massa do kibe. Faça covas com o cabo de uma colher e deite um fiozinho de azeite. Leve ao forno 40 minutos aproximadamente.

Sirva com salada de rúcula.
Bom apetite!


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