sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os Lusíadas - Canto VII


Este canto refere a chegada à Índia. Camões faz, então, um elogio ao espírito de cruzada dos Lusos, em oposição aos demais povos cristãos da Europa. Depois é o desembarque do emissário do Gama, o encontro com Monçaide, a ida deste às naus, a descrição do Malabar, a embaixada do capitão português ao palácio de Samorim (refiram-se as profecias da estância 55, à vista dos baixos-relevos do palácio). Entretanto o Catual visita as naus. O Poeta aproveita as bandeiras para fazer objectivamente mais um resumo da História de Portugal. O intérprete é Paulo da Gama. Antes de se abalançar a mais este momento de glorificação épica, faz uma nova invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego para cantar os heróis representados nas bandeiras, dignos de serem cantados, porque aventuraram a vida por seu Deus (proselitismo religioso) e por seu rei. O Canto termina com amargas considerações do Poeta à sua vida de infortúnio, seguidas de observações sobre o objectivo da sua epopeia - só cantar os que aventuraram a amada vida por seu Deus e por seu rei.


O canto VII começa com a chegada dos portugueses a Calecut, na Índia: “Já se viam chegados junto à terra, que desejada já de tantos fora”. Nas primeiras 14 estrofes, o poeta elogia o espírito de cruzada dos portugueses em relação aos restantes povos europeus, indiferentes na luta contra os infiéis. Segundo Camões, os reis e os nobres das outras nações europeias dilaceram-se em lutas fratricidas, estranhas, sem honras e injustas (estrofe 2).

A crítica de Camões prossegue, incluindo os alemães, franceses e ingleses que renegam a verdadeira fé, enfraquecendo o poder cristão (estrofes 4 - 7). Na estrofe 8, o poeta crítica também os italianos de corrupção: “Contigo, Itália, falo, já sumersa / Em vícios mil, e de ti mesma adversa.”

Camões exalta os portugueses, que com intenções nobres, lutam contras os mouros e turcos, procurando conquistar o povo imundo, dilatando a religião cristã. Na estrofe 9, o poeta faz referência a uma lenda, em que Cadmo semeou dentes de dragão e deles nasceram soldados que se mataram uns aos outros. Cadmo mandou alguns companheiros à Fonte de Ares, guardada por um dragão, que os devorou. Cadmo matou o dragão. Atena apareceu-lhe e aconselhou-o a semear os dentes do animal. Este assim fez e, imediatamente da terra brotaram homens armados. Estes homens eram ameaçadores e Cadmo imaginou-se a lançar pedras para o meio deles. Não vendo quem os feria, começaram a acusar-se reciprocamente e massacraram-se. Ficaram cinco, que ajudaram Cadmo a fundar Tebas. Camões faz referência também à Divina sepultura possuída de cães, expressão figurada dado que os dentes nasceram da terra. Aqui, Jerusalém ficou possuída pelo império Otomano (de religião islâmica), em 1517, que passou também a tomar posse da Divina sepultura (Túmulo de Cristo).

Na estrofe 12, Camões crítica de novo a Europa. Segundo ele, a civilização era maculada pela presença dos turcos, que se difundiam cada vez mais. Na estrofe 13, continua a dirigir-se aos divididos povos europeus e refere-se aos feitos desumanos do povo ignorante, que obriga gregos, trácios, arménios e georgianos a educarem seus filhos nos preceitos do alcorão.

Nas estrofes 15-22, Camões narra a entrada em Calecut e descreve a Índia. Logo nas primeiras estrofes (15 e 16), recorda a fúria dos ventos repugnantes enfrentada pelos navegantes que foram salvos por Vénus que, com a sua brandura, logo enfraqueceu a fúria dos ventos. Ao chegar à nova terra em Maio de 1498, os pescadores, em leves embarcações, mostram aos portugueses o caminho para Calecut, onde vive o rei da Índia. Na estrofe 17, o poeta descreve a Índia e critica a religião do povo local. Camões continua a descrever a geografia de Índia e apresenta os primeiros contactos com aquele povo desconhecido (estrofes 23- 27). Vasco da Gama avisa o soberano indiano (rei Samorim) da sua chegada e manda a terra o degredado João Martins. No meio deste povo, com quem não consegue falar, João Martins encontra o mouro Monçaide, que fala castelhano. Este acolhe o português e serve-lhe de tradutor. O mouro admira o espírito aventureiro dos portugueses, ao conhecer as suas aventuras e por vê-los tão longe da pátria. Monçaide acompanha-o até à frota e explica aos portugueses um pouco de geografia, história, política, religião, os costumes da Índia.

Das estrofes 28 -41, Monçaide e João Martins regressam à frota de Vasco da Gama e Monçaide fornece informações importantes acerca da Índia. Nas estrofes 37- 41, são descritos os costumes religiosos do povo local, cuja lei de “fábulas compostas se imagina”.

Algum tempo depois, Vasco da Gama recebe permissão para desembarcar com os portugueses e é recebido pelo Catual, que o leva ao Samorim (42). Na estrofe 45, Camões fala da dificuldade que os portugueses tiveram para comunicar com o povo local.

Após desembarcar, Catual e Vasco da Gama, com a ajuda da interpretação de Monçaide, iam caminhando pela cidade. Catual levou-o a um templo cristão, que não passava de um local para adoração de ídolos (46- 49).

Das estrofes 57-65, descreve-se a Visita de Vasco da Gama ao Samorim e o acolhimento aos portugueses. Então, Vasco da Gama oferece a Samorim a amizade dos portugueses em nome do rei de Portugal.

A partir da estrofe 66, enquanto os portugueses são acolhidos pelo rei, Samorim ordena ao Catual que colha mais informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e, em seguida, visita a esquadra portuguesa, onde é recebido por Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama. Catual pergunta a Paulo da Gama o significado das figuras desenhadas nas bandeiras lusas. O irmão do comandante assume a narrativa e conta os feitos dos heróis da pátria (Viriato, D. Afonso Henriques, Egas Moniz, D. Nuno Álvares Pereira e outros). Nas bandeiras, os símbolos representavam episódios históricos portugueses ao longo do tempo.

Da estrofe 78 até o final do canto, Camões faz nova inovação às Ninfas do Tejo e do Mondego, e queixa-se da sua infelicidade e pede inspiração para prosseguir o canto. O poeta conta um pouco da sua biografia e lança-se num lamento indignado pelo modo como sua pátria o tem tratado a ele que só pretende cantar a glória portuguesa. Na estrofe 79, Camões faz referência à tragédia de Éolo. Nesta lenda mitológica, Cânace foi forçada pelo seu pai a cometer suicídio como punição pelo facto de ter mantido uma relação incestuosa com o seu irmão Macareu. Em sua lamentação, o poeta faz referência ao seu naufrágio no mar da China pelos fins de 1558, relacionando-o com a história do rei judaico, que ao saber da sua morte pelo profeta Isaías, roga a Deus mais quinze anos de vida. Camões, indignado, enumera as pessoas que não merecem a glória do seu canto: os lisonjeiros; os que actuam movidos por interesses pessoais em prejuízo de um bem comum e do seu rei; os que actuam movidos pela ambição (os que sobem ao poder por influências, os que compram cargos importantes), permitindo dar vida aos seus vícios; e os que exercem despoticamente o poder.


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