segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os Maias - O espaço

15.



2. O espaço

a) ESPAÇO GEOGRÁFICO OU FÍSICO – centra-se no Ramalhete, Lisboa e seus arredores, como Olivais e Sintra. O Ramalhete é o centro, como que o coração da família onde todos os acontecimentos se vêm reflectir. O espaço alarga-se por vezes: Santa Olávia, onde Carlos é educado pelo avô na sua infância, Coimbra, onde Carlos frequentou o liceu e a universidade, e o estrangeiro (Londres, Paris, etc.), por onde Carlos andou após os seus estudos e após o desfecho da tragédia. Como espaço físico merecem referência os espaços exteriores ou extra-urbanos, como Sintra, considerada, já no tempo, como um dos melhores espaços rústicos para o lazer da alta burguesia lisboeta. Eça serve-se da descrição desses espaços não só para localizar as acções, mas também e sobretudo para revelar a sua arte extraordinária em quadros impressionistas que reflectem quase sempre o estado de espírito das personagens. Mais importantes, porém, são os espaços interiores (fechados), uma espécie de prolongamento das personagens e reflectindo o seu estado de espírito.

b) ESPAÇO SOCIAL – corresponde ao espaço em que o autor podia surpreender a alta sociedade lisboeta, que vivia de festas e reuniões. Trata-se de espaços interiores, ou fechados, abertos apenas à alta sociedade, onde o escritor focava precisamente esses ambientes sociais. Citemos alguns: o jantar no Hotel Central, onde, entre outros assuntos, a discussão anda sobretudo à volta da oposição entre duas concepções literárias antagónicas: o Romantismo simbolizado nas ideias e na linguagem declamatória de Alencar (poeta ultra-romantico) e o Naturalismo mais radical defendido por Ega; o jantar na casa dos Gouvarinhos em que se ridicularizam pessoas e ideias; as corridas no hipódromo em que se satiriza uma sociedade superficial e imitadora do que é estrangeiro; o episódio do jornal A Tarde, em que se critica o jornalismo corrupto na esfera de clientelas políticas; o sarau no teatro da Trindade, onde se põe a nu a inutilidade de uma oratória balofa, o lirismo ultra-romântico de Alencar e a falta de gosto artístico de uma sociedade que bateu palmas a isto tudo, mas não ouviu a talentosa exibição musical de Cruges.

c) ESPAÇO PSICOLÓGICO – manifesta-se sobretudo em personagens modeladas, revelado nos monólogos interiores. Mas este espaço não é relevante n’ Os Maias, em que as personagens são predominantemente planas.

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