Há pessoas que acham que nos lêem a alma, sem nunca nos terem visto, sem nunca
terem falado connosco... e tecem juízos de valor a partir de qualquer coisa
completamente irreal, pertencente, quiçá, ao mundo virtual.
Já ouvira muitas queixas de blogueiras sobre
comentários “do outro mundo” nos seus blogues. Confesso que nunca me aconteceu
nada parecido com o que me contaram...
O
comentário mais infeliz que tive, tinha sido a uma receita de coelho... A
comentadora decidiu somente chamar-me assassina de coelhos. É que, animais tão
ternurentos e com um olhar tão doce não podiam ser mortos, e muito menos
comidos. Pois, mas eu nem matara o bichinho, tinha-o adquirido no supermercado
já bem mortinho e enfiado num saco de plástico, os seus olhos não eram bonitos
nem ternurentos, pareciam de vidro... Ora bem, na altura, fiquei incomodada,
não sou assassina de coisa nenhuma, sou toda paz e amor. A comentadora não
disse nada em relação aos porquinhos, às galinhas, aos patos, aos perus... que
também são criaturas de Deus e que, se calhar, também têm um olhar
ternurento... Confesso a minha culpa, nunca reparei nisso!
Agora, alguém achou por bem deixar-me um comentário
completamente despropositado, e para tal, baseou-se em quê?, conhece-me de
onde?, o que é que sabe acerca de mim? Nada, nada mesmo! Pensei, pensei...
Decidi ignorar...
E lembrei-me dos equívocos que surgem muitas vezes
por puro desconhecimento ou apenas falta de atenção...
Acabei de leccionar o texto poético aos meus alunos,
eles gostaram, alguns chegaram até a emocionar-se com as análises,
interpretações que os levei a fazer e chegaram a exclamar: “Professora, quando
disse que íamos dar poesia, pensámos: que grande seca vamos apanhar.” Não foi seca.
Eu adoro poesia, adoro analisar poemas, gosto de entrar na alma dos poetas e
levei-os a fazer o mesmo, pedi-lhes que escutassem as palavras, que as
saboreassem, que lhes extraíssem o sumo, que procurassem imagens dentro das
palavras...
No início, é difícil, os alunos estão muito presos ao sentido
denotativo das palavras e não vêem nada mais... Conotação, que é isso? Depois,
começam a desembrulhar as palavras, a senti-las... e ficam deslumbrados e
orgulhosos de si próprios... E todos querem dizer o que descobriram dentro
daquelas palavras tão simples...
O passo seguinte é pô-los a escrever um poema para o
concurso de poesia da Biblioteca. E não é fácil, nada fácil: não têm inspiração,
não sabem rimar, não estão apaixonados... Para eles os poetas escrevem poesia
porque estão seguramente muito apaixonados...
Aí, entro eu, de novo, em acção! Os poetas são uns
fingidores, lembram-se do poema de Fernando Pessoa? Eles escrevem para alguém
ideal, não real... Assim, como o narrador, no texto narrativo, é uma figura de
papel como todas as personagens da acção, o sujeito lírico também não é o
poeta. Reparem em Fernando Pessoa que se desdobrou em vários sujeitos, todos
com vida própria, com sentimentos diversos...
Quando escrevemos poesia, criamos o objecto do nosso
amor e escrevemos-lhe... Esse ser amado não existe, é produto da nossa
imaginação, é o nosso Apolo, de olhos verdes, cabelo louro, alto, perfeito, lindo por
fora e por dentro... E com esse nosso Apolo podemos fazer tudo, ele jamais
reclamará, conversamos e ele responde-nos sempre ao jeito, porque somos nós que
idealizamos as respostas para as questões, é um mundo à parte, é um amor
platónico lindo, e envolvemo-nos também fisicamente como o nosso Apolo, e
sofremos, sofremos muito, choramos até... Mas mesmo que soframos por esse amor,
é fingimento, fingimos a dor, fingimos as lágrimas... E se pensarmos, enquanto
escrevemos, em alguém que conhecemos
apenas por nome, por termos visto fugazmente, um cantor, um actor, um poeta...
tudo o que escrevemos faz parte de um mundo ideal, virtual que jamais se
transformará em realidade... Até porque a realidade não será nunca aquilo que
idealizámos, e nós não queremos que a magia se desfaça, quando nos apercebermos
que o “boneco” que criámos não existe a não ser na nossa “cabeça” e nos nossos
poemas...
Trata-se de pura fantasia e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência...
Trata-se de pura fantasia e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência...
Passada esta “dificuldade”, os alunos escrevem os
seus poemas. Corrijo-os. São seleccionados os melhores por um júri e afixados
nas paredes da Biblioteca... Quando saírem os resultados dos poemas vencedores,
mostrá-los-ei.
O que tem tudo isto a ver com o comentário que
recebi? Tudo e nada. Se o que publico e escrevo incomoda alguém, tem bom remédio...
Mais, este espaço é meu e, por isso, publico o que quero e muito bem me apetece...
Mais, este espaço é meu e, por isso, publico o que quero e muito bem me apetece...
2 comentários:
Só recebeste dois comentários desfavoráveis? Que sorte!
Mas gostei deste texto, ainda bem que te aconteceu isso se não não escreivia este texto.
A ignorância é atrevida...
Mas este texto é muito esclarecedor para as pessoas que só vêem maldade no que os outros escrevem ou fazem. Espero que muitas delas o leiam...
Um beijo, querida amiga.
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