terça-feira, 15 de maio de 2012

Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.




Há pessoas que acham que nos lêem  a alma, sem nunca nos terem visto, sem nunca terem falado connosco... e tecem juízos de valor a partir de qualquer coisa completamente irreal, pertencente, quiçá, ao mundo virtual.
Já ouvira muitas queixas de blogueiras sobre comentários “do outro mundo” nos seus blogues. Confesso que nunca me aconteceu nada parecido com o  que me contaram...
O comentário mais infeliz que tive, tinha sido a uma receita de coelho... A comentadora decidiu somente chamar-me assassina de coelhos. É que, animais tão ternurentos e com um olhar tão doce não podiam ser mortos, e muito menos comidos. Pois, mas eu nem matara o bichinho, tinha-o adquirido no supermercado já bem mortinho e enfiado num saco de plástico, os seus olhos não eram bonitos nem ternurentos, pareciam de vidro... Ora bem, na altura, fiquei incomodada, não sou assassina de coisa nenhuma, sou toda paz e amor. A comentadora não disse nada em relação aos porquinhos, às galinhas, aos patos, aos perus... que também são criaturas de Deus e que, se calhar, também têm um olhar ternurento... Confesso a minha culpa, nunca reparei nisso!

Agora, alguém achou por bem deixar-me um comentário completamente despropositado, e para tal, baseou-se em quê?, conhece-me de onde?, o que é que sabe acerca de mim? Nada, nada mesmo! Pensei, pensei... Decidi ignorar...

E lembrei-me dos equívocos que surgem muitas vezes por puro desconhecimento ou apenas falta de atenção...
Acabei de leccionar o texto poético aos meus alunos, eles gostaram, alguns chegaram até a emocionar-se com as análises, interpretações que os levei a fazer e chegaram a exclamar: “Professora, quando disse que íamos dar poesia, pensámos: que grande seca vamos apanhar.” Não foi seca. Eu adoro poesia, adoro analisar poemas, gosto de entrar na alma dos poetas e levei-os a fazer o mesmo, pedi-lhes que escutassem as palavras, que as saboreassem, que lhes extraíssem o sumo, que procurassem imagens dentro das palavras... 
No início, é difícil, os alunos estão muito presos ao sentido denotativo das palavras e não vêem nada mais... Conotação, que é isso? Depois, começam a desembrulhar as palavras, a senti-las... e ficam deslumbrados e orgulhosos de si próprios... E todos querem dizer o que descobriram dentro daquelas palavras tão simples...
O passo seguinte é pô-los a escrever um poema para o concurso de poesia da Biblioteca. E não é fácil, nada fácil: não têm inspiração, não sabem rimar, não estão apaixonados... Para eles os poetas escrevem poesia porque estão seguramente muito apaixonados...
Aí, entro eu, de novo, em acção! Os poetas são uns fingidores, lembram-se do poema de Fernando Pessoa? Eles escrevem para alguém ideal, não real... Assim, como o narrador, no texto narrativo, é uma figura de papel como todas as personagens da acção, o sujeito lírico também não é o poeta. Reparem em Fernando Pessoa que se desdobrou em vários sujeitos, todos com vida própria, com sentimentos diversos...
Quando escrevemos poesia, criamos o objecto do nosso amor e escrevemos-lhe... Esse ser amado não existe, é produto da nossa imaginação, é o nosso Apolo, de olhos verdes, cabelo louro, alto, perfeito, lindo por fora e por dentro... E com esse nosso Apolo podemos fazer tudo, ele jamais reclamará, conversamos e ele responde-nos sempre ao jeito, porque somos nós que idealizamos as respostas para as questões, é um mundo à parte, é um amor platónico lindo, e envolvemo-nos também fisicamente como o nosso Apolo, e sofremos, sofremos muito, choramos até... Mas mesmo que soframos por esse amor, é fingimento, fingimos a dor, fingimos as lágrimas... E se pensarmos, enquanto escrevemos,  em alguém que conhecemos apenas por nome, por termos visto fugazmente, um cantor, um actor, um poeta... tudo o que escrevemos faz parte de um mundo ideal, virtual que jamais se transformará em realidade... Até porque a realidade não será nunca aquilo que idealizámos, e nós não queremos que a magia se desfaça, quando nos apercebermos que o “boneco” que criámos não existe a não ser na nossa “cabeça” e nos nossos poemas...
Trata-se de pura fantasia e  qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência... 

Passada esta “dificuldade”, os alunos escrevem os seus poemas. Corrijo-os. São seleccionados os melhores por um júri e afixados nas paredes da Biblioteca... Quando saírem os resultados dos poemas vencedores, mostrá-los-ei.


O que tem tudo isto a ver com o comentário que recebi? Tudo e nada. Se o que publico e escrevo incomoda alguém, tem bom remédio...
Mais, este espaço é meu e, por isso, publico o que quero e muito bem me apetece...

2 comentários:

Anónimo disse...

Só recebeste dois comentários desfavoráveis? Que sorte!
Mas gostei deste texto, ainda bem que te aconteceu isso se não não escreivia este texto.

Nilson Barcelli disse...

A ignorância é atrevida...
Mas este texto é muito esclarecedor para as pessoas que só vêem maldade no que os outros escrevem ou fazem. Espero que muitas delas o leiam...
Um beijo, querida amiga.

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