Partilho o testemunho de uma docente, recebido por
e-mail. A sua divulgação foi autorizada pela própria. Para todos lerem e
reflectirem:
"Bom dia, colega,
Trata-se de facto de um grupo com grande poder. Lembro
que, na altura da compra do GPS, na reunião de tomada de posse vieram à escola
indivíduos do topo da hierarquia. E se não me falha a memória, o próprio
António Calvete (cujo pai fora amigo da fundadora do Externato, primeira mulher
em Portugal a formar-se em medicina veterinária). A opção pelo grupo GPS partiu
da parte da fundadora do Externato de duas vertentes: uma, a da ingenuidade -
quem conheceu o carácter do pai, não conhece verdadeiramente o carácter do
filho, a amizade obstruiu a visão da situação; por outro lado, e neste caso por
parte dos filhos da senhora, que são bastantes e estão internamente divididos
nos seus interesses particulares, o conhecimento de que o GPS tem dinheiro para
os salvar da "enrascada" em que estão metidos. Precisam de vender a
todo o custo. E é isso que fazem.
Na reunião a que me refiro, notei que os tais
indivíduos não se abstinham de nomear os conhecimentos políticos que tinham. E,
desconfiada pelo nosso futuro, não pude deixar de pensar, já naquela altura,
que aquilo me parecia uma ameaça velada. A mesma que, já mais descaradamente,
se fez sentir aquando do fórum anual que se realiza na D. João V, no Louriçal e
à qual todos os profs GPS devem (carácter obrigatório) comparecer. Neste fórum
esteve presente o Calvete e o presidente da Câmara de Pombal. Mais uma vez, o
Calvete salientou os seus contactos governamentais. É como se dissesse:
"escusam de nos ameaçar, podem falar mal de nós à vontade, com os nossos
conhecimentos na esfera do poder, safamo-nos sempre, temos imunidade, vejam
quem trabalha connosco e para nós!" Este último trecho nem sequer é o que
eu calculo que pensam, foi dito. Eles salientam muito quem dos ex-governos
trabalham com e para eles. O Calvete faz gáudio em salientar esse aspecto, ele
é um indivíduo sem pudores, descarado, com segurança em público.
Na reunião de antes de ontem, no Externato, sei que
houve ameaças veladas, relativamente à eventualidade da participação na
entrevista. E, mais uma vez, partiram do topo da hierarquia da D. João V, onde
tudo se decide.
A nossa escola foi, durante os anos em que lá
trabalhei uma escola familiar. Tinha espírito de escola, principalmente,
enquanto os seus fundadores foram vivos. O fundador foi um indivíduo com visão
e espírito de missão, preocupado com o nosso bem estar e o dos alunos. Tudo fez
pela escola que fundou, pagando os nossos salários com endividamento à banca,
quando já na 2ª metade dos anos 80, e muitas vezes nos anos 90, o Estado não
enviava a tempo e horas a 1ª tranche de pagamentos que cobre os meses de Agosto
a Dezembro. E nem sequer nos fazia sonhar que esse percalço acontecia. Era um
indivíduo de esquerda, que não procurava louros de vitória, não se expunha nem
se vangloriava. Era coerente com os seus princípios, rígido e firme nos seus
propósitos, mas com um fundo humano que se mostrava pelas acções. Falava pouco,
agia muito. O espírito com que criou a sua própria numerosa família foi o
espírito com que fez pagar do seu bolso os estudos a alguns filhos da terra,
carecidos financeiramente, mas com capacidades intelectuais notórias. Nunca
ouvimos da sua boca a mais leve menção a este facto. Este espírito morreu com
ele, em Fevereiro de 2002. Manteve-se no entanto a vontade de manter este
carisma que nos deixou: o de que estávamos a trabalhar para um bem comum. E se
trabalhávamos mais horas do que seria estipulado, fazíamo-lo porque gostávamos
de o fazer, não por medo ou coação. Tínhamos brio na escola que defendíamos.
Sentíamo-nos em casa, fazíamos o melhor que sabíamos. Era uma casa e causa de
todos. Era espírito de missão educativa.
Numa RG, pouco depois da compra pelo GPS, a gestora
administrativa da escola disse uma frase que não me saiu da cabeça "...não
quero dizer que, ao comprarmos esta escola, tenhamos dado um tiro no pé":
ora, todos sabemos que, em política, quando se nega uma coisa é sinal de que
ela é verdade. O que equivale a dizer que o GPS considerou que, se tivesse
podido voltar atrás, não teria comprado o Externato. Com os cortes introduzidos
pelo Estado às escolas, os lucros previstos à partida não se concretizariam.
Havia que proceder a cortes internos (as nossas cabeças), para não haver muita
discrepância entre as ambições e a realidade. Ainda assim, nesse mesmo ano,
quiseram ter "os dois pés iguais", porque compraram uma escola
profissional na Marinha Grande.
Infelizmente para todos nós, as oligarquias no poder
continuam a existir e a ser economicamente poderosas e, quaisquer que sejam as
forças partidárias que ocupem esse poder, qualquer boa vontade vai ser esmagada
pela ditadura económica que não se compadece com a dignidade humana e com as
pessoas como seres humanos que constituem de facto esta nação. Somos meros
colaboradores, ou seja peões de que o poder partidário dispõe a seu bel-prazer
no tabuleiro dos seus interesses próprios.
Infelizmente, na conjuntura actual, não creio, caro
colega, que nos possamos libertar dessa gente pelo voto. Apenas pela denúncia
sem tréguas e pela revolta activa. Pela força da palavra apartidária. O que,
temo, levará ainda muitos anos até produzir efeitos. Resta-nos não deixar cair
a voz da denúncia dessas ilegalidades e ter esperança."
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