QUAL "NOSSA DÍVIDA"? "NOSSA? O TANAS" - Por
Professor Amadeu Homem
"A esmagadora maioria dos cidadãos portugueses nada fez, ao longo
da sua vida pessoal e profissional, para produzir a crise em que nos atolamos.
Essa esmagadora maioria está em completo estado de inocência, pois não foi ela,
no caso dos funcionários públicos não-políticos, a determinar o seu nível
remuneratório; não foi ela a furtar-se ao pagamento dos impostos legalmente
previstos na lei; no caso da normal iniciativa privada, não foram estes
comerciantes ou industriais – na esmagadora maioria dos casos – a sofismar e
contornar a legislação que lhes comandou os negócios; uns e outros não
assaltaram bancos, não frequentaram off-shores, não desviaram dinheiros para
contas na Suíça, não receberam dinheiros públicos por baixo da mesa, não
traficaram influências e não se tornaram réus de evasão fiscal. Se assim foi, a
sua responsabilidade no descalabro actualmente existente, é nula. Quando alguns
políticos decarreira nos ensurdecem com frases do género de “temos de pagar o
que devemos”, há seguramente milhões e milhões de portugueses que podem
replicar, com toda a legitimidade: - “mas eu não devo nada a ninguém”. Ou
seja, há um discurso político que, pela sua insistência, se ocupa e preocupa em
enganar os concidadãos e em gerar neles um calculado e calculista sentimento de
culpa. Não foram eles que se encheram de mordomias; não são eles que compram e
utilizam automóveis topo-de-gama para as suas deslocações; não foram eles que
criaram e subsidiaram Fundações ridículas e completamente inúteis; não foram
eles que enxamearam a Administração central e local com filhos, sobrinhos,
afilhados e apaniguados; não foram eles que criaram um Parlamento com o dobro
ou o triplo de Deputados necessários ao correcto funcionamento da Democracia;
não foram eles que decidiram que cada ex-Presidente da República deveria ter ao
seu serviço uma incontável legião de funcionários e polícias; não foram eles
que criaram Conselhos de Administração em organismos públicos onde se ganha,
por Administrador, num dia, o que um português normal não ganha em seis meses;
não são eles que ocupam os lugares de mando de Empresas públicas e privadas que
funcionam completamente à margem da decência e da moral; não foram eles a
estabelecerem ordenados de nababo para os Malatos, os Rodrigues dos Santos e a
demais bicharia masculina e feminina da RTP; não foram eles a decretar
reformas muito antes do tempo normal para a politicagem; não foram eles a
privilegiar os estômagos que digerem no Restaurante da Assembleia da República
com preços irrisórios para cardápios de “gourmet”. Eles não fizeram nenhuma
destas coisas. E é a esta gente que se grita “temos de pagar a NOSSA dívida”?
A NOSSA? Qual NOSSA? Paguem-na VOCÊS, que são os verdadeiros beneficiários do
sistema."
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