sábado, 14 de dezembro de 2013

No meu mundo


Os alunos e muitos encarregados de educação, já para não dizer os nossos (des)governantes, acham que o trabalho do professor  começa e acaba na sala de aula, nas horas marcadas no horário de cada um. Esquecem-se ou não sabem que há todo um trabalho anterior a cada aula e posterior que leva horas: os professores estudam, investigam, elaboram testes e corrigem-nos, corrigem trabalhos, preparam todo o género de actividades e as aulas, para que a matéria seja servida "de bandeja" aos alunos da forma mais clara e acessível possível. Mas, para além do que foi dito atrás, ainda vão a reuniões, a reuniões e a reuniões, preenchem um sem número de relatórios, papelada e mais papelada..., fazem de pais, de psicólogos, dão conselhos, dão o pequeno-almoço a quem não o tomou (cada vez chegam mais alunos à escola sem terem comido, sentem-se mal nas aulas, e é o professor que tem de se inteirar e de resolver o problema). Os pais, alertados, para esta e outras situações consideradas "anormais", desculpam-se com "ele/ela agora anda com a mania das dietas", "tente a senhora fazer alguma coisa dele(a), porque eu não consigo" e outras que nem exponho aqui, porque também sou mãe e teria vergonha de proferir muitas das expressões e frases que oiço sobre garotos de 12, 13, 14, 15, 16 anos. Este mundo é totalmente diferente daquele em que vivi, quando era da idade dos meus alunos, claro!, é também bastante diferente do tempo em que os meus filhos frequentavam estes anos de escolaridade, a minha filha está no 12.º ano, por isso, não passou assim tanto tempo!  Enfim! Abraçámos uma profissão, hoje, muito mal-amada! 
Sou professora por vocação, adoro o que faço, gosto dos alunos, desespero com os seus fracos resultados, fico desiludida com a sua falta de educação, mas o que me dói mais é a sua falta de interesse, a sua falta de objectivos, o não quererem saber... Tudo é uma seca! 
Felizmente, ainda vai havendo algumas excepções e tenho alunos que me enchem de orgulho e alegria! E, por esses vale a pena fazer todo o tipo de sacrifícios. Os seus olhinhos brilham de curiosidade, estão abertos a todo o tipo de experiências. Querem saber tudo. Pesquisam os assuntos dados na aula, tiram apontamentos para me mostrarem...  Fazem mil perguntas, são curiosos, riem e fazem-me rir com as suas ideias, as suas teorias, com as suas descobertas... E ficam felizes, quando lhes digo "É por vocês que me levanto todos os dias cedo, são vocês que alegram o meu dia, vocês são a razão de eu ser o que sou e como sou". E eles retribuem com um sorriso do tamanho do mundo e dão-me as boas-vindas e despedem-se de mim, todos os dias com um "Bom dia, professora linda!", "Até amanhã, professora linda!", e à sexta-feira "Bom fim-de-semana, professora linda!". Eles é que são lindos e espero que continuem sempre assim.
Voltando um pouco atrás, ouvimos comentários, de alguns alunos,  de alguns encarregados de educação e até  de pessoas que têm a ver com a educação, que  revelam um completo desconhecimento sobre o trabalho de um professor, sobre o seu dia-a-dia.  Não se dá qualquer valor ao trabalho  árduo e, por vezes, inglório dos professores. 
Li algures as perguntas que desesperam os professores e achei graça, porque me revi perfeitamente. No entanto, algumas das perguntas que aqui deixo foram adaptadas e outras não aparecem no estudo que li, mas enfurecem-me e, por isso, juntei-as.  
Fico furiosa quando me perguntam:

- "Deu matéria importante na última aula?"


Toda a matéria dada é importante. Se não fosse, não a dava.

- "Não percebi que o trabalho era para entregar hoje."


Só mostra a falta de atenção com que se está nas aulas.

"Podia adiar o teste, porque já temos outro marcado no mesmo dia? É que o outro professor não vai mudar de certeza."


Se já tinham um teste, porque deixaram marcar outro? Tenho cara de boazinha?

"Não percebo porque me anulou a pergunta se está igual à do meu colega"


Por isso mesmo a anulei aos dois!  

"Não consegui fazer o trabalho, porque fiquei sem internet ontem à noite"


O trabalho foi marcado há quinze dias!

"Não respondeu ao e-mail que lhe enviei ontem!"


Pois não! As perguntas fazem-se nas aulas. Primeiro preparo as aulas, vejo trabalhos... os emails ficam para quando tiver tempo. Se precisam de uma resposta rápida, é preferível abordarem-me na aula. Adoro que me façam perguntas, gosto de esclarecer dúvidas... quando o fazem nos locais próprios.

"Quais são as páginas mais importantes para o teste?"


Já dei os objectivos para o teste e ainda tenho de ir procurar as páginas?

"Eu respondi tal qual o professor disse na aula. E agora tenho mal. Está aqui no caderno..."


Tens no caderno? E os teus colegas? Enganaste-te a passar.
"Esta resposta está igualzinha à que a professora escreveu na correcção."
Lê bem a tua resposta e a minha...
"O que está no quadro é para passar?"
Não. É para enfeitar o quadro.
...

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Há muita gente à volta dos professores (alunos, pais, ministros, etc., etc.) que não percebem o papel do professor.
Enfim, as coisas vão piorando, piorando, e quando parece que já nada pode piorar, piora de novo...
Rita, minha amiga querida, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.

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