sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Nuno Álvares Pereira



Nun' Álvares Pereira

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.


Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.


Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!




Este poema surge na primeira parte do livro “a mensagem” - O “Brasão” - a primeira das três partes do livro Mensagem, de Fernando Pessoa. O título “Brasão” não foi escolhido por acaso, sendo brasão uma representação que se utiliza de símbolos a fim de identificar famílias, indivíduos ou regiões pelos seus actos de nobreza e heroísmo. Neste título, Pessoa busca identificar de onde vem a nobreza de Portugal.



“Brasão” inicia-se com a expressão em latim “Bellum sine Belo”, que significa “guerra sem armas”. É dividido em cinco partes: I. Os Campos; II. Os Castelos; III. As Quinas; IV. A Coroa e V. O Timbre. O poema acima transcrito está na quarta parte, “A Coroa”.

A coroa é o símbolo de poder e autoridade dos governantes, desde os tempos pré-históricos. Mas a coroa também era dada ou posta em indivíduos que não eram monarcas, sendo, neste caso, o símbolo de grandes feitos heróicos ou conquistas de coragem. Por esta razão, Pessoa deu a coroa a Nuno Álvares e não a um rei ou príncipe.




Neste poema, Fernando Pessoa fala de uma auréola. A auréola que cerca Nuno Álvares Pereira é, ao mesmo tempo, uma auréola de santidade (do guerreiro tornado monge) e uma auréola de combate (“é a espada (…) volteando”). Quer ele dizer que a santidade que ele alcançou resultou também dos seus actos de guerreiro, pois é a sua espada que desenha o círculo diáfano por cima da sua cabeça, destacando-o – santo – do comum dos homens.



Conhecendo-se a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira - a espada - na segunda estrofe, Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada, dizendo-nos que a espada “que, erguida / Faz esse halo no céu” não é uma espada qualquer, não é a espada de um comum cavaleiro, mas “é Excalibur, a ungida”, a espada do “Rei Artur”.

Pessoa pede a Nuno Alves Pereira, nos dois últimos versos, que erga a luz da sua espada “para a estrada se ver”, para sabermos que caminho devemos seguir no futuro.





Na primeira parte da obra, “Brasão”, Fernando Pessoa faz referência a personagens históricas e mitícas, daí a presença de Nuno Álvares Pereira como líder preparado para a batalha, o guerreiro perfeito.

Por isso, na Mensagem, Pessoa exalta o valor incomparável de Nuno Álvares Pereira. O facto de existir uma parte no “Brasão”, que é “ A Coroa”, destinada apenas ao poema de Nuno Álvares Pereira, enaltece ainda mais a sua pessoa. Também Camões faz referência, explicita ou implicitamente, a Nuno Álvares Pereira 14 vezes em “Os Lusíadas”.



Pessoa começa o poema com uma interrogação retórica acerca daquilo de que é feito Nuno Álvares Pereira. Os restantes versos da primeira estrofe são como que as respostas à questão inicial. Nesta estrofe, Fernando Pessoa chega a afirmar que o valor de Nuno Álvares Pereira é maior que o do rei Artur, já que o primeiro passou de realidade a mito (foi beatificado), o último é apenas um mito que muitos afirmam ter sido realidade. Para além disso, assim como o Rei Artur foi predestinado para empunhar a Excalibur, também Nuno Álvares Pereira o foi para içar a espada, que o guiou na batalha, a ungida.


Os dois últimos versos do poema podem ser vistos como um conselho dado aos portugueses: se se querem sagrar vitoriosos devem seguir o exemplo de Nuno Álvares Pereira. A exclamação final é um pedido para que Nuno Álvares nos indique o caminho a seguir para o império que há-de vir.

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