Sermão de Santo António aos Peixes
Confirmação
Como é possível isso acontecer se são da mesma Pátria, todos criados na água e sendo irmãos, "vivais de vos comer".
E vai dizer-lhes como o próprio Santo Agostinho mostrou esse escândalo que acontece nos homens, mostrando o que se revela nos peixes; numa analogia surpreendente e quase em ira, em repetições sucessivas e num visualismo bem apelativo (recorrendo ao verbo "olhar") convida os peixes a olhar para a terra. Não é para os matos que eles devem olhar, é para a cidade, é lá que o "açougue" é maior, pior do que no sertão:
"Olhai peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos."
Num discurso interpelativo, intimista, argumentativo e convincente e recorrendo à anáfora, repetição do verbo "ver" no princípio das frases, alerta os peixes para o frenesim que se apodera dos homens, sempre a tentarem explorar o outro:
"Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego. Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."
Com várias espécies de peixe, padre António Vieira continua a construir várias alegorias, várias simbologias, criticando ferozmente vários tipos de colonos que martirizavam, exploravam os índios e se opunham à sua libertação. Chama a atenção para os hábitos e a vida dos peixes. Não se parecem eles com os homens, nos seus vícios, nas suas ambições, nos seus erros, na sua traição?:
"As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia... Se está nos limos faz-se verde; se está na areia faz-se branco... E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços, de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende".
A confirmação está implícita na censura à prepotência e domínio dos grandes, que como os peixes, vivem da exploração e do sacrifício dos mais pequenos.
O próprio Deus promete vingança. Ele próprio o afirma:
"Cuidais, diz Deus, que não há-de vir tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade?"
Nem é só comerem-se uns aos outros, o pior é que os grandes comem os pequenos: "Qui devorant plebem meam, ut cibum panis." Numa hipérbole devastadora, o pregador recorre às palavras de Deus. O pior é que os comem de qualquer modo "que os engolem e devoram". Confirma ele como se processa essa mortandade, essa crueldade, através de uma oração subordinada causal:
"porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam".
Vieira interpela os peixes sobre isto, se eles acham bem? Com o movimento das cabeças, eles pasmam perante o que ouvem, pelo facto de haver assim tanta injustiça e maldade, mas faz-lhes compreender que é isso que eles fazem também. Os grandes comem cardumes inteiros:
"Pois isso mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os mais pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros."
É numa crítica felina que o nosso orador avisará os peixes que serão também castigados, como Deus castiga os homens, não ouvem eles os remeiros queixarem-se daqueles que vão para o Brasil que em vez de governarem pensam só em enriquecer, "Os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos."
Antropofagia: hábito de comer carne humana; canibalismo.
Antropofagia social: exploração do Homem pelo próprio Homem.
Padre António Vieira acusa os Homens através da primeira repreensão aos peixes: "Vós vos comeis uns aos outros". O seu objectivo é atingir os Homens que também se comem uns aos outros: Tapuias (antropofagia) / Brancos (antropofagia social) - exploram-se uns aos outros; (antropofagia do povo) - os maiores comem os mais pequenos.
Vieira denuncia um outro tipo de antropofagia através da citação latina: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis (os que devoram o meu povo, como um pedaço de pão):
- Quem devora: "(...) os (...) que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros."
- Quem é devorado: "(...) são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos."
- Como é devorado: "(...) não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; e isto é o que padecem os pequenos."
Segunda repreensão:
Os peixes são facilmente enganados pela ignorância e pela cegueira, que não os deixa perceber que o pedaço de pano atado ao anzol é um isco e que se o morderem conduzi-los-á à morte.
Os homens cometem o mesmo engano, são iscados em Portugal pela vaidade de pertencer a uma Ordem, que funciona como um indicador de uma determinada posição na hierarquia social.
Quem pesca as vidas aos homens do Maranhão?
Confirmação
Depois de louvar as virtudes dos peixes, Padre António Vieira repreende os seus vícios:
"A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros."Como é possível isso acontecer se são da mesma Pátria, todos criados na água e sendo irmãos, "vivais de vos comer".
E vai dizer-lhes como o próprio Santo Agostinho mostrou esse escândalo que acontece nos homens, mostrando o que se revela nos peixes; numa analogia surpreendente e quase em ira, em repetições sucessivas e num visualismo bem apelativo (recorrendo ao verbo "olhar") convida os peixes a olhar para a terra. Não é para os matos que eles devem olhar, é para a cidade, é lá que o "açougue" é maior, pior do que no sertão:
"Olhai peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos."
Num discurso interpelativo, intimista, argumentativo e convincente e recorrendo à anáfora, repetição do verbo "ver" no princípio das frases, alerta os peixes para o frenesim que se apodera dos homens, sempre a tentarem explorar o outro:
"Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego. Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."
Com várias espécies de peixe, padre António Vieira continua a construir várias alegorias, várias simbologias, criticando ferozmente vários tipos de colonos que martirizavam, exploravam os índios e se opunham à sua libertação. Chama a atenção para os hábitos e a vida dos peixes. Não se parecem eles com os homens, nos seus vícios, nas suas ambições, nos seus erros, na sua traição?:
"As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia... Se está nos limos faz-se verde; se está na areia faz-se branco... E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços, de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende".
A confirmação está implícita na censura à prepotência e domínio dos grandes, que como os peixes, vivem da exploração e do sacrifício dos mais pequenos.
O próprio Deus promete vingança. Ele próprio o afirma:
"Cuidais, diz Deus, que não há-de vir tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade?"
Nem é só comerem-se uns aos outros, o pior é que os grandes comem os pequenos: "Qui devorant plebem meam, ut cibum panis." Numa hipérbole devastadora, o pregador recorre às palavras de Deus. O pior é que os comem de qualquer modo "que os engolem e devoram". Confirma ele como se processa essa mortandade, essa crueldade, através de uma oração subordinada causal:
"porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam".
Vieira interpela os peixes sobre isto, se eles acham bem? Com o movimento das cabeças, eles pasmam perante o que ouvem, pelo facto de haver assim tanta injustiça e maldade, mas faz-lhes compreender que é isso que eles fazem também. Os grandes comem cardumes inteiros:
"Pois isso mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os mais pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros."
É numa crítica felina que o nosso orador avisará os peixes que serão também castigados, como Deus castiga os homens, não ouvem eles os remeiros queixarem-se daqueles que vão para o Brasil que em vez de governarem pensam só em enriquecer, "Os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos."
Antropofagia: hábito de comer carne humana; canibalismo.
Antropofagia social: exploração do Homem pelo próprio Homem.
Padre António Vieira acusa os Homens através da primeira repreensão aos peixes: "Vós vos comeis uns aos outros". O seu objectivo é atingir os Homens que também se comem uns aos outros: Tapuias (antropofagia) / Brancos (antropofagia social) - exploram-se uns aos outros; (antropofagia do povo) - os maiores comem os mais pequenos.
Vieira denuncia um outro tipo de antropofagia através da citação latina: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis (os que devoram o meu povo, como um pedaço de pão):
- Quem devora: "(...) os (...) que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros."
- Quem é devorado: "(...) são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos."
- Como é devorado: "(...) não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; e isto é o que padecem os pequenos."
Segunda repreensão:
Os peixes são facilmente enganados pela ignorância e pela cegueira, que não os deixa perceber que o pedaço de pano atado ao anzol é um isco e que se o morderem conduzi-los-á à morte.
Os homens cometem o mesmo engano, são iscados em Portugal pela vaidade de pertencer a uma Ordem, que funciona como um indicador de uma determinada posição na hierarquia social.
Quem pesca as vidas aos homens do Maranhão?
- O comerciante que vende tecidos vindos de Portugal.
Com o quê?
- Tecidos fora de moda e de má qualidade.
Como?
- Aumentando os preços dos tecidos, como se tivessem grande qualidade.
Quais são os homens desta terra que se deixam enganar?
- Os cegos pela vaidade.
Qual é a consequência?
- Endividam-se e todo o trabalho de um ano é levado.
Com o quê?
- Tecidos fora de moda e de má qualidade.
Como?
- Aumentando os preços dos tecidos, como se tivessem grande qualidade.
Quais são os homens desta terra que se deixam enganar?
- Os cegos pela vaidade.
Qual é a consequência?
- Endividam-se e todo o trabalho de um ano é levado.
A Mena na cozinha
Frango assado com limão
Frango assado com limão
1 frango
sumo de 3 limões
sal
manteiga
pimenta
Corte o frango ao meio ou aos pedaços e coloque-o num pirex untado com manteiga. Tempere com o sumo de limão, sal e pimenta. Deixe de um dia para o outro. No dia seguinte, espalhe bocados de manteiga por cima do frango e leve-o a assar em forno quente durante 45 minutos. Desligue o forno e deixe ficar mais 10 minutos. Sirva o molho à parte.
Sirva com legumes cozidos.
Bom apetite!
Trabalhinho:
1 comentário:
Olá Mena
Sigo atentamente a tua "aula" sobre o Sermão de Santo António aos Peixes.
Já é tarde para jantar, mas ouvi Beethoven enquanto apreciava os brincos.
Bjs.
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