Camões despede-se da Musa e dirige-se a D. Sebastião
"Camões encerra o poema, despedindo-se das musas e apelando a D. Sebastião para que tome a chefia dos fortes portugueses que o quiserem seguir em novos grandes feitos, dando início a um novo ciclo épico de que ele (o poeta) seria também o cantor".
Na primeira parte do texto (estrofe 145 e os quatro primeiros versos da estrofe 146), o poeta despede-se da musa, declarando-se cansado não do canto, mas de ver uma pátria de gente endurecida no gosto da cobiça, vivendo numa apagada e vil tristeza. A segunda parte (dos últimos quatro versos da estrofe 146 ao final da estrofe 153) contém um veemente apelo do poeta a D. Sebastião para que o jovem rei congregue à volta do seu comando os vassalos excelentes, ainda capazes de grandes sacrifícios, para maiores cometimentos. Nesta segunda parte do texto, há uma progressão do plano geral para planos particulares, voltando-se depois ao plano geral: o poeta refere-se primeiro aos vassalos excelentes, quais rompantes leais e bravos touros (plano geral), para depois se referir aos religiosos e aos cavaleiros (planos particulares) e finalmente aos mais experimentados (plano geral). Na última parte do texto (154, 155, 156), o poeta, de maneira humilde, mas já credenciado de experiência e engenho poético, oferece-se a D. Sebastião para o servir nas armas e para cantar os seus feitos numa nova epopeia.
O poeta deixa transparecer claramente um certo desencanto nas estrofes 145 e 146. Os Lusíadas como epopeia glorificadora dos feitos marítimos dos portugueses surgiu já com um pouco de atraso. Com efeito, quando Camões pôs nas mãos de D. Sebastião o seu poema, já pairava na nação um certo desencanto da acção ultramarina. Sobretudo tinha já arrefecido a mística gerada à volta do duplo polo fé-império. O baixo gosto da cobiça tinha obnubilado essa mística cavaleiresca. Esboçava-se já a crise nacional que atingiria o auge com a derrota de Alcácer-Quibir. Daí o desencanto do poeta claramente expresso na estrofe 145.
O desencanto, ou pessimismo, revelado serve, no entanto, para exaltar a figura do jovem rei D. Sebastião, chefe carismático capaz de fazer sair a nação do marasmo em que já vivia. Este veemente apelo do poeta a D. Sebastião está dentro do ideal cavaleiresco que informa a mensagem d'Os Lusíadas, mas traduz também a opinião do próprio poeta, que, como se viu atrás a propósito do Velho do Restelo, preferia a nossa expansão no norte de África em detrimento da do extremo oriente, pretensão esta perfilhada também pela velha nobreza portuguesa. D. Sebastião viria, pois, a ser o herói dessa pretendida acção épica no norte de África.
Se D. Sebastião se tornasse o herói de uma grande vitória no norte de África, começaria ali um outro ciclo épico do povo português, o jovem rei seria o herói de uma nova epopeia, e Camões o seu autor. Eis como a glória nacional surge aliada à glória literária do poeta. Note-se como no final do poema surge de novo D. Sebastião como salvador da pátria, da mesma forma que já surgira no princípio do poema - na Dedicatória - E vós, ó bem nascida segurança / Da Lusitana antiga liberdade... Vós, ó novo temor da maura lança...
Não sabemos se Camões chegou a ter conhecimento da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. O que sabemos é que o infortunado rei ficou para sempre o símbolo de um salvador nacional: o desejado. Tinha Fernando Pessoa conhecimento da derrota e morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir e, no entanto, escreveu sobre ele:
Na primeira parte do texto (estrofe 145 e os quatro primeiros versos da estrofe 146), o poeta despede-se da musa, declarando-se cansado não do canto, mas de ver uma pátria de gente endurecida no gosto da cobiça, vivendo numa apagada e vil tristeza. A segunda parte (dos últimos quatro versos da estrofe 146 ao final da estrofe 153) contém um veemente apelo do poeta a D. Sebastião para que o jovem rei congregue à volta do seu comando os vassalos excelentes, ainda capazes de grandes sacrifícios, para maiores cometimentos. Nesta segunda parte do texto, há uma progressão do plano geral para planos particulares, voltando-se depois ao plano geral: o poeta refere-se primeiro aos vassalos excelentes, quais rompantes leais e bravos touros (plano geral), para depois se referir aos religiosos e aos cavaleiros (planos particulares) e finalmente aos mais experimentados (plano geral). Na última parte do texto (154, 155, 156), o poeta, de maneira humilde, mas já credenciado de experiência e engenho poético, oferece-se a D. Sebastião para o servir nas armas e para cantar os seus feitos numa nova epopeia.
O poeta deixa transparecer claramente um certo desencanto nas estrofes 145 e 146. Os Lusíadas como epopeia glorificadora dos feitos marítimos dos portugueses surgiu já com um pouco de atraso. Com efeito, quando Camões pôs nas mãos de D. Sebastião o seu poema, já pairava na nação um certo desencanto da acção ultramarina. Sobretudo tinha já arrefecido a mística gerada à volta do duplo polo fé-império. O baixo gosto da cobiça tinha obnubilado essa mística cavaleiresca. Esboçava-se já a crise nacional que atingiria o auge com a derrota de Alcácer-Quibir. Daí o desencanto do poeta claramente expresso na estrofe 145.
O desencanto, ou pessimismo, revelado serve, no entanto, para exaltar a figura do jovem rei D. Sebastião, chefe carismático capaz de fazer sair a nação do marasmo em que já vivia. Este veemente apelo do poeta a D. Sebastião está dentro do ideal cavaleiresco que informa a mensagem d'Os Lusíadas, mas traduz também a opinião do próprio poeta, que, como se viu atrás a propósito do Velho do Restelo, preferia a nossa expansão no norte de África em detrimento da do extremo oriente, pretensão esta perfilhada também pela velha nobreza portuguesa. D. Sebastião viria, pois, a ser o herói dessa pretendida acção épica no norte de África.
Se D. Sebastião se tornasse o herói de uma grande vitória no norte de África, começaria ali um outro ciclo épico do povo português, o jovem rei seria o herói de uma nova epopeia, e Camões o seu autor. Eis como a glória nacional surge aliada à glória literária do poeta. Note-se como no final do poema surge de novo D. Sebastião como salvador da pátria, da mesma forma que já surgira no princípio do poema - na Dedicatória - E vós, ó bem nascida segurança / Da Lusitana antiga liberdade... Vós, ó novo temor da maura lança...
Não sabemos se Camões chegou a ter conhecimento da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. O que sabemos é que o infortunado rei ficou para sempre o símbolo de um salvador nacional: o desejado. Tinha Fernando Pessoa conhecimento da derrota e morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir e, no entanto, escreveu sobre ele:
D. SEBASTIÃO
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Fernando Pessoa
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