terça-feira, 12 de junho de 2012

O Tesouro - Eça de Queirós




Espaço
 Não se deve encarar o espaço de uma narrativa apenas como o lugar físico onde decorre a acção. De facto, o espaço pode também referir-se ao ambiente social e cultural onde se inserem as personagens. O espaço físico e geográfico refere-se ao lugar ou lugares onde decorre a acção. Pode definir-se como um espaço aberto ou fechado, interior ou exterior, público ou privado, etc.. O espaço social e cultural refere-se ao meio e à situação económica, cultural ou social das personagens. Através deste tipo de espaço podem ser definidos grupos sociais, conjuntos de valores e crenças desses grupos, posição que ocupam na sociedade, referência às tradições e costumes culturais, etc..

Espaço físico – Astúrias - > serra   - > Paço de Medranhos  - > Mata de Roquelanes

Paço de Medranhos – cozinha, pátio, estrebaria

Mata de Roquelanes – moita dos espinheiros, clareira, cova na rocha, silvados, fonte

Espaço psicológico – pensamento de Rui após a morte dos irmãos – pensa em Medranhos e no tesouro só para si.



A acção localiza-se nas Astúrias e decorre, a parte inicial, nos "Paços de Medranhos" e, a parte central, na mata de Roquelanes.


O paço dos Medranhos é descrito negativamente, por exclusão (“...a que o vento da serra levara vidraça e telha...”), e os três irmãos circulam entre a cozinha (sem luz, nem comida) e a estrebaria, onde dormem, para aproveitar o calor das três éguas lazarentas.

O facto de três fidalgos passarem os seus dias entre a cozinha e a estrebaria, os lugares menos nobres de um palácio, é significativo: caracteriza bem o grau de decadência económica em que vivem. A miséria em que vivem é acompanhada por uma degradação moral que o narrador não esconde (E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.).

De igual modo, o espaço exterior, a mata de Roquelanes, não é um simples cenário onde decorre a acção. As descrições da natureza têm também um carácter significativo. A "relva nova de Abril", manifestação visível do renascimento da natureza, sugere o renascimento espiritual que as personagens, como veremos, não são capazes de concretizar. Do mesmo modo, a "moita de espinheiros" e a "cova de rocha" simbolizam as dificuldades, os sacrifícios, que é necessário enfrentar para alcançar o objecto pretendido — são obstáculos que é necessário ultrapassar.

A natureza, calma, pacífica, renascente ("...um fio de água, brotando entre rochas, caía sobre uma vasta laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas."), contrasta com o espaço interior das personagens, que facilmente imaginamos inquietas, agitadas, perturbadas pela visão do ouro e ansiosas por dele se apoderarem, com exclusão dos demais. Enquanto isso, as duas éguas retouçavam a boa erva pintalgada de papoulas e botões-de-ouro. Esse contraste tinha já sido posto em evidência antes, depois dos três terem contemplado o ouro ("... estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam..."). E, quando Rui e Rostabal esperam, emboscados, o irmão, um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos, como se a natureza sentisse o horror do crime que estava para ser cometido. Depois de assassinado Guanes, os dois regressam à clareira onde o sol já não dourava as folhas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Professora, consegue pôr tudo até sexta-feira?

Please, please!

Beijinhos, até amanhã no apoio.

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