Uma aluna chegou à minha aula muito revoltada, porque lhe tinham chamado vaidosa, "és uma vaidosona". Acha normal, professora, chamarem-me vaidosa só porque trago um vestido novo? Não acho, Cátia, mas não te preocupes é inveja. Também já mo chamaram e, olha, é para lado que durmo melhor! Aqueles ou aquelas que te chamaram vaidosa também o são. Toda a gente é vaidosa, uns mais, outros menos... O problema é quando a inveja também começa a falar... Olha, Cátia, sabes uma coisa, o que é insuportável na vaidade dos outros é que ela colide com a nossa. E quem diz não ter vaidade possui na realidade a maior de todas. Por isso, linda, esquece e sê como és!
Quando se fala em vaidade, lembro-me sempre das sábias palavras de António Lobo Antunes ou das de Vergílio Ferreira ou do poema de Florbela Espanca de que gosto particularmente...
Ora vejam!
"Com o passar do tempo, há dois sentimentos que desaparecem: a
vaidade e a inveja. A inveja é um sentimento horrível. Ninguém sofre tanto como
um invejoso. E a vaidade faz-me pensar no milionário Howard Hughes. Quando ele
morreu, os jornalistas perguntaram ao advogado: «Quanto é que ele deixou?» O
advogado respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos."
António Lobo Antunes
"Aquilo em
que se tem mais vaidade é o corpo. Mesmo que aleijado, há sempre um pormenor
que nos envaidece. Compô-lo. Arranjá-lo. O careca puxa o cabelo desde o cachaço
ou do olho do cú para tapar a degradação. O marreco faz peito. O espelho é para
todos o grande dialogante. Passa-se a uma vitrina e olha-se de soslaio a ver
como se vai. Uma mulher perfeita (e um homem) não inveja o intelectual, o
artista. O inverso é que é. Muitas mulheres (e homens) cultivam a
excepcionalidade do seu espírito ou engenho por complexo ou vingança. Quando se
não tem já vaidade no corpo, está-se no fim. Mas mesmo num leito de morte nos
queremos «compostos». «Não me descomponhas» — disse a marquesa de Távora ao
carrasco, uns momentos antes de ser decapitada. Tomam-se providências para como
se há-de ir no caixão. A degradação do corpo é a última coisa que se aceita.
Hoje lavei o carro e vesti um calção para me não molhar. Dei uma vista de olhos
ao espelho. Grumos, tumefacções pelas pernas. Não gostei. Não muito tempo.
Lembrou-me um certo professor. Tinha a bossa da oratória. E então contava:
escrevia um discurso e lia. Parecia-lhe péssimo. Lia outra vez e outra. E a
certa altura, sem emendar nunca uma vírgula, já lhe não parecia tão mau. A
realeza em nós é um imatismo. Como no Menon de Sócrates, o que há é que
descobri-la."
"A vaidade é uma das principais virtudes, e, no entanto, poucas pessoas admitem que a procuram e a tomam como objectivo. É na vaidade que muitos homens ou mulheres encontraram a salvação, mas, apesar disso, a maioria das pessoas arrasta-se a quatro patas em demanda da modéstia."
Oscar Wilde
"Corre por aí que sou vaidoso. Mas eu acho que a vaidade é a coisa mais bem distribuída deste mundo. Vaidosos somos todos nós. A questão está em saber se há alguma razão para o ser ou se se é vaidoso sem razão nenhuma."
José Saramago
Que reúne num verso a imensidade!
Na primeira estrofe, encontramos a presença da subjetividade, da idealização e da fantasia da poetisa. O verso “Sonho que sou a Poetisa eleita” transmite-nos o desejo que o sujeito poético (em primeira pessoa) tem em atingir a plenitude da expressão escrita, tentando afirmar-se a partir do sonho.
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
As inquietações do sujeito poético sugerem uma reflexão sobre o papel da poesia e sobre a aceitação da sua obra pelo público/leitor. E é assim que surge, então, o desejo de se sentir “alguém cá neste mundo”, confirmando o propósito de ter utilizado a palavra “Vaidade” como título:
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
Mas, depois de enumerar todos os seus sonhos, do mais simples ao mais sublime, o sujeito lírico constata a sua própria condição: o nada.
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...
Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...
Florbela Espanca
Este título, Vaidade, poderia
levar-nos a interpretar erradamente o soneto de Florbela Espanca. Ao lermos o
poema, constatamos que a vaidade é mais
um desejo que o sujeito lírico tem. O sujeito poético anseia a plenitude,
deseja ser a Poetisa eleita:
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Na primeira estrofe, encontramos a presença da subjetividade, da idealização e da fantasia da poetisa. O verso “Sonho que sou a Poetisa eleita” transmite-nos o desejo que o sujeito poético (em primeira pessoa) tem em atingir a plenitude da expressão escrita, tentando afirmar-se a partir do sonho.
A imagem do sonho continua nas
estrofes seguintes, quando o sujeito lírico almeja que os seus versos sejam
sublimes, que tenham claridade para encher todo o mundo e que emocionem e
deleitem toda a gente, mesmos os mais melancólicos e tristes:
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
As inquietações do sujeito poético sugerem uma reflexão sobre o papel da poesia e sobre a aceitação da sua obra pelo público/leitor. E é assim que surge, então, o desejo de se sentir “alguém cá neste mundo”, confirmando o propósito de ter utilizado a palavra “Vaidade” como título:
Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Mas, depois de enumerar todos os seus sonhos, do mais simples ao mais sublime, o sujeito lírico constata a sua própria condição: o nada.
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
O último verso do soneto é o acordar, que se
opõe ao sonhar tão reiterado anteriormente, e o nada, a tudo o que se queria
alcançar.
1 comentário:
A vaidade é uma coisa boa, se for em doses qb...
Beijo, querida amiga um bocadinho vaidosa...
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