O tempo dramático
A acção decorre no ano de 1599, durante o domínio filipino, 21 anos após a batalha de Alcácer-Quibir.
Segundo as falas de D. Madalena, D. João desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir que ocorreu em 1578. Durante sete anos procurou-se por ele (1578+7=1585), sobre esses sete anos mais catorze se passaram (1585+14=1599), possibilitando, assim, a localização da acção em 1599:
· "A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena 11).
· "Vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos" (1, cena 11).
· "Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (Il. cena X).
Tal facto é também confirmado pelo Romeiro:
· "Morei lá vinte anos cumpridos" (…) "faz hoje um ano… quando me libertaram", diz o Romeiro (Il. cena XIV).
Segundo as falas de Maria no início do segundo acto, passaram-se oito dias desde o incêndio. Tendo em conta o desenrolar da peça a partir deste momento, conclui-se que a acção decorre durante nove dias.
Sabendo que a Batalha de Alcácer Quibir se deu a 4 de Agosto de 1578, que o Romeiro regressa nesse mesmo dia (passados vinte anos) a 4 de Agosto de 1599 e que já se tinham passado oito dias, podemos concluir que a acção desta peça começou a 28 de Julho de 1599 (oito dias antes) e terminou a 5 de Agosto de 1599 (mais um dia), na madrugada em que Madalena e Manuel de Sousa Coutinho ingressam na vida religiosa, tendo uma duração de nove dias.
Ao longo de toda a obra, há, portanto, inúmeras referências cronológicas que nos permitem situá-la num determinado período histórico - o século XVI:
- o casamento de D. Madalena com D. João de Portugal antes de 1578;
- o desaparecimento de D. João de Portugal a 4 de Agosto de 1578, na Batalha de
Alcácer Quibir;
- a busca de D. João por D. Madalena durante sete anos (de 1578 a 1585);
- o casamento de D. Madalena com Manuel de Sousa Coutinho, em 1585;
- o nascimento de Maria de Noronha, fruto dessa união, um ano mais tarde.
Assim, é possível situar a acção desta peça em 1599, pois sabemos que D. João regressa 14 anos após o segundo casamento de D. Madalena e 21 anos depois do seu desaparecimento na Batalha de Alcácer Quibir. Mais concretamente, a acção de Frei Luís de Sousa desenrola-se entre os dias 28 de Julho e 5 de Agosto de 1599, portanto durante pouco mais de uma semana.
É de salientar que a acção começa a uma sexta-feira (28 de Julho) e o segundo acto decorre novamente a uma sexta-feira (dia 4 de Agosto).
A sexta-feira assume um importante simbolismo na obra, estando conotada com a tragédia. Vários eventos ocorrem a uma sexta-feira:
· D. Madalena casa-se com D. João de Portugal;
· D. Madalena conhece Manuel de Sousa Coutinho;
· Manuel de Sousa Coutinho incendeia o seu palácio;
· D. João desaparece na Batalha de Alcácer Quibir;
· D. João regressa encoberto na figura do Romeiro.
Apesar de Garrett não respeitar as regras rígidas da unidade de tempo clássica (a acção deveria decorrer em 24 horas), a estruturação do tempo assenta na concentração e no afunilamento progressivo.
1.º dia, 28 de Julho de 1599, sexta-feira, fim da tarde – 1.º acto
Passa uma semana, de 29 de Julho a 3 de Agosto.
8.º dia, 4 de Agosto de 1599, sexta-feira, tarde – 2.º acto
4-5 de Agosto de 1599, alta noite – 3.º acto
A acção reporta-se ao final do século XVI, embora a descrição do cenário do Acto I se refira à "elegância" portuguesa dos princípios do século XVII.
O texto é, porém, escrito no século XIX, acontecendo a primeira representação em 1843.
Lei das três unidades da tragédia clássica
A tragédia clássica obedece a uma estrutura fixa na medida em que a acção é só uma, decorre num só dia e num só espaço. A acção de Frei Luís de Sousa não respeita esta lei porque a acção decorre durante nove dias e em vários espaços.
Simbologia do número 9
O número nove procura simbolizar a passagem para um outro nível de existência, neste caso representa a passagem de uma vida mundana para uma vida religiosa.
Concentração dramática
· Antes de 1578 (casamento de D. Madalena com D. João)
· De 1578 a 1585 (procura de D. João por D. Madalena)
· De 1585 a 1599 (D. Madalena casa-se com Manuel de Sousa Coutinho e têm uma filha)
· De 1598 a 1599 (D. João é libertado e regressa)
· De 28 de Julho a 4 de Agosto (estada da família de Manuel de Sousa Coutinho na casa de D. João)
· 4 de Agosto (Chegada do Romeiro - Clímax)
· 5 de Agosto (Incursão dos esposos na vida religiosa)
Podemos verificar pela natureza trágica da obra uma certa tendência para a concentração temporal. De períodos de tempo relativamente prolongados, passa-se a períodos mais curtos de dias e horas.
Tempo histórico e tempo psicológico
O tempo histórico diz respeito às informações que situam uma obra numa determinada época.
O tempo psicológico refere-se aos sentimentos das personagens perante a passagem do tempo.
Frei Luís de Sousa é perpassado por algumas referências históricas, das quais se destacam:
· a Batalha de Alcácer Quibir;
· a conjuntura nacional, após a perda da independência de Portugal e consequente anexação a Espanha;
· as alusões a Camões, feitas por D. Madalena e Telmo;
· as referências a Bernardim Ribeiro, feitas por Maria;
· o mito sebastianista, cuja génese se encontra enraizada na época histórica aqui retratada.
O tempo psicológico é o tempo interior das personagens; a forma como estas sentem a passagem do tempo. Em Frei Luís de Sousa, as personagens vivem, antecipadamente, um clima de medo, devido aos presságios de desgraça que as invadem. À medida que os seus receios e ansiedades aumentam e que o seu sofrimento se agudiza, as personagens tornam-se gradualmente mais frágeis.
Encontramos evidências do tempo psicológico sobretudo em D. Madalena - Tenho este medo, este horror de ficar só... de vir a achar-me só no mundo! - e em Maria: a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa (...)”, “E há... oh! Há grande desgraça a cair sobre meu pai decerto! E sobre minha mãe também, que é o mesmo.”
Por vezes, o tempo psicológico parece coincidir com o tempo dramático; exemplo disso são as palavras de D. Madalena, que faz várias alusões ao terror pela sexta-feira e refere repetidamente o advérbio adjunto de tempo “hoje”, anunciador de desgraça, fatalidade e solidão.
Trabalhinho:
2 tomates maduros
2 dentes de alho
1 cebola
1/2 pimento verde
1/2 pimento vermelho
1 dl de vinho branco
sal
pimenta
azeite
Bom apetite!
1 comentário:
Olá Mena
As tuas fotos estão fabulosas.
Gostei imenso do marcador.
Ainda cheguei a horas do jantar.
Servi-me!
Beijos.
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