"Holocausto" é uma palavra de origem grega que significa "sacrifício pelo fogo". O significado moderno do Holocausto é o da perseguição e extermínio sistemático, apoiado pelo governo nazista, de cerca de seis milhões de judeus. Os nazistas, que chegaram ao poder na Alemanha em janeiro de 1933, acreditavam que os alemães eram "racialmente superiores" e que os judeus eram "inferiores", sendo uma ameaça à auto-entitulada comunidade racial alemã.
Durante o Holocausto as autoridades alemãs também destruíram grandes partes de outros grupos considerados "racialmente inferiores": os ciganos, os deficientes físicos e mentais, e eslavos (poloneses, russos e de outros países do leste europeu). Outros grupos eram perseguidos por seu comportamento político, ideológico ou comportamental, tais como os comunistas, os socialistas, as Testemunhas de Jeová e os homossexuais.
Lei para a Proteção do Sangue e da Honra Alemães
de 15 de setembro de 1935
Firmemente persuadido de que a pureza do sangue alemão é a condição primordial da duração futura do Povo Alemão, e animado da vontade inabalável de garantir a existência da Nação Alemã nos séculos seguintes, o Reichstag aprovou por unanimidade a seguinte lei, agora promulgada:
Art. 2º - As relações extra-matrimoniais entre Judeus e cidadãos de sangue alemão ou aparentado são proibidas.
Art. 3º - Os Judeus são proibidos de terem como criados em sua casa cidadãos de sangue alemão ou aparentado com menos de 45 anos...
O exercício dessa autorização é protegido pelo Estado.
Art. 5º - 1) Quem infrigir o artigo 1º será condenado a trabalhos forçados.
3) Quem infrigir os arts. 3º e 4º será condenado á prisão que poderá ir até um ano e multa, ou a uma ou outra destas duas penas.
Art. 6º - O Ministro do Interior do Reich, com o assentimento do representante do Führer e do Ministro da Justiça, publicarão as disposições jurídicas e administrativas necessárias à aplicação desta lei.
Nürnberg, 15 de setembro de 1935
Os poemas aqui escolhidos, alguns com tradução inédita, reportam três contextos distintos: peças escritas durante o holocausto por quem o viveu, enquanto o vivia; peças escritas por sobreviventes do holocausto que testemunham o que viveram, anos depois de o terem vivido; peças escritas por poetas de todo o mundo que quiseram dessa forma associar-se aos testemunhos de quem sobreviveu ao horror nazi.
Reunimos assim documentos históricos, fontes historiográficas e narrativas literárias. Seja qual for, contudo, a proveniência e o contexto que deram origem a estes poemas, todos transportam uma única mensagem: a de que a escrita desempenha uma função redentora e esclarecedora na vida de quem escreve.
Que, quando atravessamos tempos de cólera, a escrita representa uma medicina quotidiana que acalma e ensina. Uma forma de tentar perceber e de tentar captar uma conciliação entre as sombras e a luz. Uma busca pelas melhores palavras, as que definam com natural clareza a melhor forma de ultrapassar os nossos pavores e as nossas aflições.
A escrita poética, como toda a arte, passa a ser entendida como o mecanismo confidencial, a ferramenta privada, que se manuseia para construir um conhecimento, continuamente emendado, de todas as coisas e de nós mesmos.
Janusz Korczak, sobrevivente do Holocausto
A oração do Ghetto
Pai nosso que estais no céu
Esta oração foi talhada em fome e miséria
O pão nosso de cada dia
Pão.
Avrom Sutzkever, sobrevivente do Holocausto
July 10, 1944
Já viram, em campos de neve, Judeus congelados
fila a fila? Formas de mármore azul estendidas
Sem respirar, sem morrer.
Algures, a centelha de uma alma gelada – bulício
De peixe num poço gelado. Em ninhada. Discurso
E silêncio são um só. A neve nocturna encerra
O sol
Um sorriso brilha imóvel de um lábio gelado de rosa.
Bebé e mãe, lado a lado. Estranho
Que o seu mamilo secou.
Punho, fincado no gelo, de um velho nu: o
Poder por terminar da sua mão. Já provei
Morte de todas as formas. Nada surpreende.
No entanto, a geada em Julho neste calor – um maluco
Assalto na rua. Eu e um carniceiro
Cara a cara. Judeus congelados num lugar nevado.
Mármore cobre a minha pele. As palavras esmorecem. A luz
Cresce magra. Estou congelado. Enraizado num lugar
Como o homem velho nu quebrado pelo gelo.
Dunio Bernhaut, sobrevivente do Holocausto
Serei capaz de me lembrar para sempre?
Serei eu capaz de me esquecer
Ou a sentença é perpétua e ditada conclusivamente?
Irão as memórias desvanecer?
Pode o tormento diminuir?
Ou é um ciclo interminável como ao sabor de uma maré?
Libertar-me-á a tristeza?
Poderei alguma vez sentir alegria
Ou o destino ainda reserva um truque inclemente ?
Reconhecer-me-á alguém?
Posso eu ser visto através da névoa
Ou a imagem é evasiva, um labirinto intrincado?
Será que a minha vida servirá um propósito?
Foi ela cuidadosamente planeada
Ou é apenas o destino a juntar mais um grânulo de areia?
Como visões sombrias escondidas em medo
Quase todas as respostas fugidias, opacas e encobertas
Mas estas tão translúcidas através de um manto de arrependimento:
Alexander Kimel , sobrevivente do Holocausto
(A acção no ghetto de Rohatyn, Março de 1942)
Quererei eu recordar?
O ghetto em paz, antes do raide.
As crianças a tremer como folhas ao vento.
As mães procurando um pedaço de pão.
Sombras, com pernas inchadas, movendo-se com medo.
Não, não me quero lembrar, mas como posso eu esquecer?
Quererei eu recordar a criação do Inferno?
Os gritos dos salteadores, excitados com a caça.
Choros dos feridos, suplicando por vida.
As caras das mães vincadas de dor.
Escondendo os seus filhos, destroçados de medo
Não, não me quero lembrar, mas como posso eu esquecer?
Quererei eu recordar, o meu temido regresso?
Famílias desaparecidas em pleno dia.
A vala comum nublada com o vapor do sangue
Mães à procura dos seus filhos, em vão.
A dor do Ghetto corta como uma faca.
Não, não me quero lembrar, mas como posso eu esquecer?
Quererei eu recordar, o lamento da noite?
As portas pontapeadas, penas rasgadas a flutuar.
A noite que cheira a sangue derretendo a neve.
Enquanto a lua por compaixão, indica o caminho.
Às sombras desfiguradas, procurando familiares.
Não, não me quero lembrar, mas como posso eu esquecer?
Quererei eu recordar, este mundo virado ao contrário?
Onde os defuntos são abençoados com uma morte rápida
Enquanto os vivos são condenados a uma curta e medonha vida,
E a uma longa, tortuosa viagem até um lugar sem nome,
Convertendo Almas Vivas em cinzas e gás.
Não. Eu Tenho de Recordar e Nunca Te Deixar Esquecer?
Martin Niemoller
(pastor protestante, prisioneiro em Sachsenhausen durante mais de sete anos)
E não sobrou ninguém
Quando os nazis levaram os comunistas,
eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas,
eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus,
eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
Barbara Sonek, Estados Unidos da América
Nós brincámos, nós rimos
Nós éramos amados.
Fomos arrancados dos braços dos nossos
Pais e atirados ao fogo.
Não éramos mais do que crianças.
Nós tínhamos um futuro. Nós íamos ser
Advogados, rabis, esposas, professores, mães.
Nós tínhamos sonhos, depois ficámos sem esperança.
Fomos levados no escuro da noite
Como gado em carroças, sem ar para respirar
Abafados, a chorar, esfomeados, a morrer.
Separados de um mundo que não voltaria.
Das cinzas, ouçam a nossa súplica. Esta
atrocidade à Humanidade não pode acontecer
outra vez. Lembrem-se de nós, porque nós fomos as
crianças cujos sonhos e vidas nos
foram roubados.
Sudeep Pagedar, Índia
Como é que tu
Explicas aquela palavra
A um rapaz
De dez anos
Que, um dia,
O ouve mencionado
Por parentes seus?
E mesmo que
Tu consigas
Fazê-lo
Entender o que
Realmente significa,
Tu também lhe dizes que
Porque ele é
UM JUDEU ALEMÃO
Talvez, um dia
Ele poderá ser
Incluído nela…?
Ou dever-se-á
Simplesmente, não lhe
Dizer, para que
Ele se mantenha calmo
E não perca
O sono por causa disso?
Mas o que é o sono
Perante a morte?
Talvez a Morte seja maior,
Talvez os dois sejam o mesmo;
Nós não o sabemos ainda
Mas vamos saber, ao fim do dia;
As Câmaras estão ainda a algumas horas de distância.
“Morrer, dormir… dormir, porventura sonhar”
Como sabia Shakespeare disto?
Conheceu ele algum judeu
Que foi também perseguido?
Talvez ele estivesse errado,
Talvez estivesse certo…
Em todo o caso, suspeito que descobriremos
Esta noite.
Gershon Hepner, Alemanha
“Voltará a existir outro holocausto?”
Perguntaram ao Rabi de Lubavitch
Não lhe foi difícil responder
“Claro que vai acontecer. O Homem é selvagem.”
“Quando voltará a acontecer?”, inquiriram eles.
“Morgen in der frih, ”, disse ele
Amanhã, de manhãzinha, concluiu
E milhões já estão mortos
Aconteceu no Ruanda e no Sudão
À medida que olhámos em silêncio
“Não podia acontecer aqui”, dizemos nós. Pode,
E milhões mais desaparecerão em breve.
4 comentários:
Olá, amiga, tô passando para dar um oi,
deixar um grande beijo pra você,
e agradecer pelos carinhosos
comentários que deixa em meu blog.
Thaís
selosetrocas.blogspot.com
thaisecoisas.blogspot.com
Lindos trabalhos! Parabéns!
É essencial ter-se memória!
Não é mesmo para esquecer, mfc!
Oi Thais!
bj
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