quinta-feira, 17 de março de 2011

Realismo e naturalismo




Realismo


A escola literária do Realismo surge, na 2.ª metade do século XIX, como reacção aos excessos do Romantismo.

Afastando-se da tendência romântica para a imaginação e para a fuga da realidade, o autor realista procura representar, acima de tudo, a verdade absoluta e objectiva. O objectivismo recusa, então, o subjectivismo e individualismo românticos. Deste modo, o homem realista deixa de se centrar no seu EU para passar a preocupar-se em compreender a realidade que o rodeia. Para isso, serve-se da técnica da observação minuciosa dos factos, das impressões sensíveis e da atenção dada aos aspectos físicos e, principalmente, psicológicos do homem.

Esta preocupação pela observação minuciosa dos factos e da sua análise dá origem a narrativas longas e lentas, que pintam uma realidade com pormenor e sem esconder os aspectos menos agradáveis dos elementos retratados.

Para além da recusa do subjectivismo romântico, a reacção realista rejeita também os seus ideais, passando, por exemplo, a procurar a representação do momento presente e do quotidiano, ao contrário do Romantismo voltado para o passado histórico e para os nacionalismos.

Observando o presente com fidelidade, a literatura passa a ser um instrumento de denúncia social, onde se analisa criticamente os vícios da sociedade sua contemporânea, corporizados na classe dominante, a burguesia, retratada em personagens-tipo, e satirizando as instituições tradicionais conservadoras como a Família, a Igreja e o Estado. Na ficção realista, a personagem e a sua caracterização contribuem para a compreensão do enredo, pois é possível estabelecer uma relação entre as atitudes e comportamentos das personagens, descritas de maneira objectiva e lógica, e a sociedade da época.

A objectividade realista é conseguida a partir de uma linguagem simples e pouco rebuscada de compreensão imediata. Além disso, a tendência da descrição minuciosa e exacta não dá espaço à linguagem metafórica e hiperbólica dos românticos.


Realismo segundo Eça de Queirós

Segundo Eça de Queirós, na 4.ª Conferência do Casino a 12 de Junho de 1871, o Realismo é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reacção contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para que nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.

António Salgado Júnior, História das Conferências do Casino


PRINCIPAIS AUTORES DO PERÍODO REALISTA

- Portugal: Eça de Queirós, Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Júlio Lourenço Pinto…

- França: (país onde nasceu esse movimento) Gustave Flaubert, Balzac e Emile Zola.

- Inglaterra: William Thackeray e George Eliot.

- Rússia: Fiódor Dostoievski e Leon Tolstoi.


TEORIAS SOCIAIS E CIENTÍFICAS QUE DESPERTARAM UMA VISÃO MAIS OBJECTIVA E CRÍTICA DO MUNDO

- O positivismo de Augusto Comte.

Segundo Augusto Comte só é possível obter o verdadeiro conhecimento da realidade a partir dos métodos da rigorosa observação e da experimentação.

- O evolucionismo de Darwin.

Segundo este cientista, as espécies vivas são o resultado de um processo evolutivo em que a selecção natural desempenhou um papel determinante, pois só sobreviveram as espécies que souberam, ao longo da sua evolução, adaptar-se ao seu meio.

- O marxismo de Karl Marx.

Segundo Karl Marx, as relações de trabalho, isto é, as relações de produção, são o verdadeiro motor da História. Por isso, este autor propôs a transformação da sociedade capitalista, a partir de uma organização do proletariado, e reivindicou a melhoria das condições de vida do ser humano.

No Realismo e no Naturalismo, estas teorias traduziram-se numa fé na ciência, no progresso e na vontade de transformar a sociedade, denunciando os seus males.

Naturalismo


O Naturalismo constitui o período literário, da década de 80, que se segue ao Realismo. Este movimento estético partilha com o Realismo a ideia de que a Arte deve ser o retrato fiel da realidade, no entanto, influenciado pelo Positivismo de Comte e pela teoria evolucionista de Charles Darwin, o Naturalismo considera que o romancista não se deve limitar a observar os acontecimentos e expô-los, mas também a interpretar os factos e os fenómenos sociais, com o rigor próprio da ciência. Deste modo, o romance adquirirá um valor social e científico.

O escritor naturalista, tal como o Realismo, também se baseia na observação e descrição do meio social, contudo, acredita que o indivíduo é o resultado de influências do meio, da educação e de factores do momento histórico que condicionam o seu comportamento. Para os naturalistas, a hereditariedade, a educação e o meio passam a explicar os comportamentos desviantes do indivíduo, conferindo-se a responsabilidade desses comportamentos a factos externos como o meio e factores de ordem hereditária e educacional.

Tematicamente, esta escola literária debruçou-se sobre o adultério (como resultado de uma errada educação assente em princípios românticos); o jogo; o alcoolismo (como deformação do carácter); a criminalidade; a miséria e a doença (como por exemplo a loucura), mas sempre a partir duma análise rigorosa do meio social e sem descurar dos aspectos patológicos.

Os termos Realismo e Naturalismo são usados, muitas vezes, como sinónimos, isto porque, de facto, existem muitos pontos em comum entre o romance realista e o naturalista. Aliás, por vezes, é difícil classificar um autor ou uma obra, como pertencente a uma destas correntes literárias. Por exemplo, Eça de Queirós é considerado por alguns críticos realista e, por outros, naturalista.

No entanto, existem algumas diferenças. Por exemplo, enquanto o Realismo descreve e analisa o comportamento humano, o Naturalismo, fortemente influenciado pela teoria evolucionista de Charles Darwin, observa o homem por meio do método científico, tentando perceber as causas do seu comportamento, porque acredita que só através deste método científico se pode chegar ao conhecimento objectivo dos factos e das situações. O Naturalismo acredita que o comportamento humano é o resultado da confluência de factores determinantes (a hereditariedade, a educação e o ambiente) sobre os indivíduos e que estes condicionam as suas acções, o seu carácter e o seu próprio destino.

Assim, é possível concluir que o Naturalismo é um prolongamento do Realismo, só que mais intenso, pois ao aprofundar a visão científica do Realismo, torna-a ainda mais objectiva.

1 comentário:

D. disse...

Olá!
Obrigada, pela sua visita, também adorei o seu blog, está cada vez mais rico. ;)
Beijinho, volte sempre, será sempre bem vinda. :)
Diana.