"O mito é o nada que é tudo"
Esta frase de Fernando Pessoa explica e sintetiza todo o espírito da Mensagem. Numa época de descrédito nacional, só a recuperação de um mito pode fazer ressurgir das cinzas uma nação. No próprio ano em que publicou a Mensagem (1934), declara o poeta: "Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, por cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império." (Entrevista a Augusto da Costa).
Mas já em 1912, em artigos publicados na revista "Águia", Pessoa se revela sebastianista, prevendo o aparecimento de um Super-Camões que seria o cantor do Quinto Império, de índole cultural. Por outras palavras, a grandeza desse império seria inseparável da grandeza literária: não se compreendia um Super-Portugal sem um Super-Poeta. Daí o facto do poeta muitas vezes pensar em Camões, que ele apreciava mais como épico do que como lírico. Mas como o Quinto Império seria um Super-Portugal, maior do que o próprio Portugal dos descobrimentos, o cantor desse império seria um Super-Camões. As citações poéticas mais arrojadas de Pessoa, o Interseccionismo, o Sensacionismo, a criação dos heterónimos, projectando o poeta para uma super-modernidade, a própria publicação da Mensagem (poema épico-lírico), são acontecimentos que não podem desligar-se desta intenção de Pessoa: ser ele próprio esse Super-Camões. Gaspar Simões considera mesmo a Mensagem como a justificação da profecia do Super-Camões. Talvez por isso, surgem em Pessoa por vezes, certas expressões depreciativas em relação ao nosso épico. Apesar disso, e talvez por isso, como veremos em alguns textos da Mensagem, a sombra tutelar de Camões projecta-se claramente nesta admirável obra de Pessoa. Ao fim e ao cabo, foram os dois únicos poetas portugueses que souberam e puderam criar, à luz de uma super-inteligência, um universo artístico próprio porque genial, acomodado à época de cada um.
A Mensagem, publicada em 1934, é uma colectânea de poemas nacionalistas e sebastianistas, no geral mais breves do que as outras produções poéticas do autor, mas de grande densidade sintética, alguns dos quais muita gente já retém na memória, tal a sua sedução proveniente não só das metáforas e imagens inéditas, mas também de uma admirável musicalidade e da frequência de sugestivas expressões aforísticas.
A estruturação da Mensagem revela, como o seu conteúdo, a sua índole sebastianista. Divide-se em três partes - Brasão, Mar Português, O Encoberto - , o que corresponde a: os fundadores (a origem), a realização (a vida), a morte (fim das energias). Esta estrutura tripartida é simbólica. Com efeito, desenha-se aqui a história cíclica de um povo: o nascimento, o apogeu e a morte. Simplesmente a morte permite o ressurgimento das cinzas. Anuncia-se, pois, um novo ciclo. Na dramática crise de um povo, desabrocham já os germens do Quinto Império. Atentemos nos títulos dos últimos poemas da terceira parte da Mensagem: Noite, Tormenta, Calma, Antemanhã, Nevoeiro. A noite e a tormenta apontam para a pátria em destruição; a calma, a antemanhã e o nevoeiro apontam já para um ressurgir de energias e sugerem presságios positivos. Note-se que manhã e nevoeiro são palavras ligadas à vinda de D. Sebastião.
De notar também que todos os heróis que desfilam ao longo da Mensagem perseguem uma missão que os transcende. Assim o fundador da nacionalidade, o conde D. Henrique, é visto como um instrumento nas mãos de Deus: "Deus é o agente. / O herói a si assiste, vário / E inconsciente". É sempre uma missão vinda do Alto que se move os heróis da Mensagem: "Aqui ao leme sou mais do que eu" - diz o navegador ao Mostrengo.
Mas à era dos heróis sucede a era da decadência nacional que atinge o auge com a morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir. É então que o malogrado rei se transforma, como diz Dalila da Costa, "num super eu nacional - o Desejado".
E a vinda do encoberto iniciará um novo ciclo, o mais glorioso da nossa história - o Quinto Império. E quanto mais as coisas se degradam em Portugal, mais perto Fernando Pessoa vê a chegada do Salvador, conforme o último poema da Mensagem:
Mas já em 1912, em artigos publicados na revista "Águia", Pessoa se revela sebastianista, prevendo o aparecimento de um Super-Camões que seria o cantor do Quinto Império, de índole cultural. Por outras palavras, a grandeza desse império seria inseparável da grandeza literária: não se compreendia um Super-Portugal sem um Super-Poeta. Daí o facto do poeta muitas vezes pensar em Camões, que ele apreciava mais como épico do que como lírico. Mas como o Quinto Império seria um Super-Portugal, maior do que o próprio Portugal dos descobrimentos, o cantor desse império seria um Super-Camões. As citações poéticas mais arrojadas de Pessoa, o Interseccionismo, o Sensacionismo, a criação dos heterónimos, projectando o poeta para uma super-modernidade, a própria publicação da Mensagem (poema épico-lírico), são acontecimentos que não podem desligar-se desta intenção de Pessoa: ser ele próprio esse Super-Camões. Gaspar Simões considera mesmo a Mensagem como a justificação da profecia do Super-Camões. Talvez por isso, surgem em Pessoa por vezes, certas expressões depreciativas em relação ao nosso épico. Apesar disso, e talvez por isso, como veremos em alguns textos da Mensagem, a sombra tutelar de Camões projecta-se claramente nesta admirável obra de Pessoa. Ao fim e ao cabo, foram os dois únicos poetas portugueses que souberam e puderam criar, à luz de uma super-inteligência, um universo artístico próprio porque genial, acomodado à época de cada um.
A Mensagem, publicada em 1934, é uma colectânea de poemas nacionalistas e sebastianistas, no geral mais breves do que as outras produções poéticas do autor, mas de grande densidade sintética, alguns dos quais muita gente já retém na memória, tal a sua sedução proveniente não só das metáforas e imagens inéditas, mas também de uma admirável musicalidade e da frequência de sugestivas expressões aforísticas.
A estruturação da Mensagem revela, como o seu conteúdo, a sua índole sebastianista. Divide-se em três partes - Brasão, Mar Português, O Encoberto - , o que corresponde a: os fundadores (a origem), a realização (a vida), a morte (fim das energias). Esta estrutura tripartida é simbólica. Com efeito, desenha-se aqui a história cíclica de um povo: o nascimento, o apogeu e a morte. Simplesmente a morte permite o ressurgimento das cinzas. Anuncia-se, pois, um novo ciclo. Na dramática crise de um povo, desabrocham já os germens do Quinto Império. Atentemos nos títulos dos últimos poemas da terceira parte da Mensagem: Noite, Tormenta, Calma, Antemanhã, Nevoeiro. A noite e a tormenta apontam para a pátria em destruição; a calma, a antemanhã e o nevoeiro apontam já para um ressurgir de energias e sugerem presságios positivos. Note-se que manhã e nevoeiro são palavras ligadas à vinda de D. Sebastião.
De notar também que todos os heróis que desfilam ao longo da Mensagem perseguem uma missão que os transcende. Assim o fundador da nacionalidade, o conde D. Henrique, é visto como um instrumento nas mãos de Deus: "Deus é o agente. / O herói a si assiste, vário / E inconsciente". É sempre uma missão vinda do Alto que se move os heróis da Mensagem: "Aqui ao leme sou mais do que eu" - diz o navegador ao Mostrengo.
Mas à era dos heróis sucede a era da decadência nacional que atinge o auge com a morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir. É então que o malogrado rei se transforma, como diz Dalila da Costa, "num super eu nacional - o Desejado".
E a vinda do encoberto iniciará um novo ciclo, o mais glorioso da nossa história - o Quinto Império. E quanto mais as coisas se degradam em Portugal, mais perto Fernando Pessoa vê a chegada do Salvador, conforme o último poema da Mensagem:
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