A poética do ortónimo
Arte poética pessoana - A dor de pensar
A procura constante de racionalidade, por parte do ortónimo, leva, no entanto, o poeta a viver uma tragédia íntima que o dilacera: o querer sentir de forma racional. Este drama está explicitado em poemas como:
"Ela canta, pobre ceifeira," - O poema caracteriza o drama interior do sujeito poético por oposição à felicidade da ceifeira, tendo em conta as seguintes dualidades: consciência / inconsciência; felicidade /i infelicidade; euforia /disforia; sentir / pensar.
Num primeiro momento, o sujeito poético evoca o canto da ceifeira, evidenciando:
"Gato que brincas na rua" - Pessoa parte de uma imagem-símbolo, o gato, para chegar a uma reflexão:
"Ela canta, pobre ceifeira," - O poema caracteriza o drama interior do sujeito poético por oposição à felicidade da ceifeira, tendo em conta as seguintes dualidades: consciência / inconsciência; felicidade /i infelicidade; euforia /disforia; sentir / pensar.
Num primeiro momento, o sujeito poético evoca o canto da ceifeira, evidenciando:
- a suavidade;
- o carácter inconsciente da alegria da voz;
- a pureza;
- a harmonia;
- o contraste entre a dureza da "lida" do campo e a leveza do canto.
- desejo de permuta com a ceifeira;
- ânsia de ser inconsciente, mas preservando a consciência de o ser;
- vontade de intersecção - "Ah, poder ser tu, sendo eu!";
- desejo de dispersão.
"Gato que brincas na rua" - Pessoa parte de uma imagem-símbolo, o gato, para chegar a uma reflexão:
- a imagem-símbolo é o gato que brinca na rua, de forma instintiva e natural - "Como se fosse na cama";
- o sujeito poético inveja esse viver instintivo do gato, a sua irracionalidade e, consequentemente, a sua felicidade;
- a inevitável consciência da fragmentação interior domina o sujeito lírico - "vejo-me e estou sem mim";
- o processo de auto-análise é permanente - "Conheço-me e não sou eu".
- a incapacidade de conciliar o sentir e o pensar - "Cansa sentir quando se pensa";
- a solidão e a tristeza - "Há uma solidão imensa / (...) Neste momento insone e triste / (...) Pesa-me o informe real que existe";
- a indefinição - "Em que não sei quem hei-de ser";
- a constatação da incapacidade de viver - "E não poder viver assim. / (...) Ah, nada é isto, nada é assim!";
- a incapacidade de relacionamento com os outros e com o mundo - "Mas noite, frio, negror sem fim, / Mundo mudo, silêncio mudo".
- a indefinição - "Não sei ser triste a valer / Nem ser alegre deveras";
- a constatação de que não sabe ser - "Acreditem: não sei ser.";
- o prazer de "não sentir" - "Com que prazer me dá calma / (...) Florir sem ter coração!";
- a identificação entre "florir" e "pensar", porque ambos são superiores à "vontade" das flores e dos homens - "O que nela é florescer / Em nós é ter consciência. / (...) Vamos florir ou pensar.";
- a inevitabilidade da morte - "Surgem as patas dos deuses / E a ambos nos vêm calcar".
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