quinta-feira, 26 de maio de 2011

Os Maias - Maria Monforte

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Maria Monforte

“Numa tarde, estando no Marrare, vira parar defronte, à porta de Mme. Levailant, uma caleche azul onde vinha um velho de chapéu branco, e uma senhora loira, embrulhada num chale de Cashmira.

O velho, baixote e reforçado, de barba muito grisalha talhada por baixo do queixo, uma face tisnada de antigo embarcadiço e o ar gauche, desceu todo encostado ao trintanário como se um reumatismo o tolhesse, entrou arrastando a perna o portal da modista; e ela voltando de vagar a cabeça olhou um momento o Marrare.

Sob as rosinhas que ornavam o seu chapéu preto os cabelos loiros, dum oiro fulvo, ondeavam de leve sobre a testa curta e clássica: os olhos maravilhosos iluminavam-na toda; a friagem fazia-lhe mais pálida a carnação de mármore: e com o seu perfil grave de estátua, o modelado nobre dos ombros e dos braços que o chale cingia - pareceu a Pedro nesses instantes alguma coisa de imortal e superior à terra.”

Caracterização de Maria Monforte:

Testa: “curta e clássica”;

Olhos: “maravilhosos iluminavam-na toda”;

Cabelos: “cabelos loiros, dum oiro fulvo, ondeavam de leve”;

Pele: “mais pálida a carnação de mármore”;

Temperamento: “perfil grave de estátua”;

O amado vê-a como: “alguma coisa de imortal e superior à terra”.

A caracterização de Maria Monforte sugere uma beleza renascentista que correspondia à representação de uma mulher de olhos claros e luminosos, de longos e ondulados cabelos de oiro, de pele branca e delicada, de um temperamento sereno e de uma beleza celestial perfeita que a tornavam objecto de contemplação espiritual.

Recursos expressivos de que se serve o narrador para caracterizar Maria Monforte:

- a comparação que sugere a sua idealização;

- a dupla adjectivação que qualifica uma parte de seu rosto e explicita a sua beleza renascentista;

- o adjectivo no grau comparativo de superioridade que sublinha a brancura da sua pele;

- o adjectivo abstracto que qualifica os seus olhos e remete para o carácter celestial e angelical da sua beleza;

- o diminutivo que remete para a sua feminilidade.

Jogo de contrastes de que Eça se serve para realçar a beleza renascentista de Maria Monforte

O jogo de contrastes é conseguido a partir do carácter cromático da linguagem de Eça, isto é, o modo como explora as cores:

- o doirado dos cabelos de Maria Monforte é realçado ao contrastar com a cor preta do chapéu que usa.

- a brancura da pele de Monforte é realçada ao contrastar com a "face tisnada” de seu pai.

- a diferença entre as personagens descritas nesta passagem é conseguida a partir do contraste entre o branco do chapéu do pai que realça a sua pele morena e o preto do chapéu de Maria Monforte que realça a sua tez branca.

Maria Monforte é uma mulher sensual, inútil, egoísta, excessiva, leitora de novelas que apelavam ao mundo da paixão e fantasia. Revela-se leviana e amoral, e é nela que radicam todas as desgraças da família Maia.


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