Ah, padalada!
Estava de volta da passarada, de cola, de papéis mais ou menos coloridos, quando me veio à memória um tempo longínquo e feliz, guardado bem no fundo do baú das recordações da minha infância.
À frente da casa da minha mãe, havia um terreno enorme, sempre a subir que culminava lá no alto com duas ou três casinhas típicas, outrora brancas com barras azuis e bem arranjadas, com um pequeno jardim à frente. Eu já só recordo a tinta desbotada e arrancada daquelas paredes acinzentadas e o jardim mal cuidado, mas cheio de flores de todos os tipos, encavalitadas umas nas outras num grande emaranhado de cores e perfumes. Como era sempre a subir, depois das casas ficava o céu azul salpicado de nuvens brancas como cordeirinhos. No meio do terreno fértil, estava um poço, à nora, enorme, e um macho, de olhos vendados, rodopiava para tirar a água, durante todo o dia. Junto do poço havia dois ou três tanques onde as mulheres lavavam a roupa que estendiam logo ali ao pé, como se desfraldassem bandeiras. O dono dos terrenos e das casas chamava-se Rato e a mulher Rata, nunca soube se era uma alcunha, mas acredito que sim. O senhor Rato tinha uma irmã deficiente, a Celeste, de idade imprecisa, que envergava umas roupas largas, de cor indefinida.
O grande terreno era todos os anos cavado e sachado e depois totalmente semeado de trigo. Havia sempre muita gente a trabalhar ali. Os pássaros, naqueles dias, não paravam, redemoinhavam loucamente, à cata, primeiro, das minhocas desprevenidas que ficavam no cimo da terra fofa acabada de arar e, depois, das sementes acabadas de lançar. Cheirava a terra, a erva recém-cortada. As mulheres cantavam, enquanto lavavam a roupa e os homens contavam anedotas e histórias e riam a bom rir.
E logo pela manhã, ouvíamos a Celeste a gritar “Ah, padalada” e a bater tambor numas latas velhas e ferrugentas. Ela tinha dificuldade em pronunciar algumas palavras, por exemplo, bania todos os erres dos vocábulos e trocava o g pelo d. Os homens e os rapazes gostavam de a ouvir falar e faziam-lhe perguntas:
- Ó Celeste, há bocado a sirene dos bombeiros tocou tanto, sabes o que foi?
- Sei, sei – respondia ela, feliz – foi um fodo. Um dande fodo!
Todos se riam e ela ria também ingenuamente, sem saber porquê. Todos gostavam dela e ela era louca por crianças, defendia-nos sempre. O irmão não gostava de miúdos e não queria que brincássemos perto da sementeira para não a pisarmos, daí que se punha lá de cima a gritar connosco. A Celeste, com aquela voz meiga e as palavras totalmente enrodilhadas de cuspo, porque queria falar muito depressa, defendia-nos:
- Deixa os meninos, deixa, estão só a bincá. Eles não estadam nada! Eu tomo conta!
E o Rato vociferava algo que não entendíamos nem queríamos entender e, num espalhafato de gargalhadas, fazíamos uma roda com a Celeste e cantávamos. Ela era uma criança grande!
A Celeste era o nosso despertador. Logo pela manhã, mal o dia despontava, acordávamos ao som dos batuques e da sua voz de criança “Ah, padalada!” e era bom…
Os meus alunos do 7.º ano já andam todos atarefados a escrever textos poéticos, pois querem colocá-los na caixinha já corrigidos, "É para termos mais hipóteses de ganhar, professora!". Estão a ver! Os espertinhos querem que eu corrija os textos e só depois os colocarão na urna!
A corrente tradicional da lírica camoniana
A esparsa
A esparsa é uma forma poética de cariz triste e melancólico generalizada na Península Ibérica a partir do século XV, que não é precedida nem de glosa nem de mote. Ela é constituída por uma única estrofe, de redondilha maior, com oito a dezasseis versos.
Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões
Esta esparsa com versos de sete sílabas (redondilha maior), ritmo e rimas regulares traduz o queixume do sujeito poético que se julga perseguido pela má sorte. Ao colocar em evidência o contraste entre o bem e o mal, a sorte e o infortúnio, o castigo e o prémio, o sujeito lírico lastima-se, porque verifica que os maus triunfam sempre, sofrendo os bons os infortúnios deste mundo, e desespera com o seu próprio destino cruel, pois ao esforçar-se por ser mau não alcança a felicidade, continuando assim o seu sofrimento. Conclui, então, o sujeito poético que só para si o mundo está concertado.
Este poema retoma um tema recorrente na lírica camoniana, o desconcerto do mundo.
Se o mundo fosse como o “eu” lírico deseja, os bons seriam felizes e bem sucedidos e os maus sofreriam os infortúnios, a má sorte. O sujeito poético era bom, puro e humano, mas não conseguia livrar-se da má sorte, da tristeza, da infelicidade. Decide então ser mau para alcançar a felicidade sonhada, mas não consegue, é castigado. O “Eu” lírico não consegue praticar o mal de forma natural, porque ele não consegue ser aquilo que não é: mau. Ele será sempre bom e puro e qualquer maldade que pratique será por si condenada, porque para ele os bons devem ser recompensados e os maus castigados.
A Mena na cozinha
Peru estufado com alecrim
1 peito de peru e 1 perna
1 cebola
2 dentes de alho
1 ramo de alecrim
4 tomates maduros
vinho branco
azeite
sal
pimenta
1/2 malagueta grande
caldo de galinha
Bom apetite!
Trabalhitos:
7 comentários:
Olá Mena
Recordar é viver!
Mais uma vez fizeste-me recordar os meus alunos...a preparação para a chegada da Primavera.
Volto para jantar.
Bjs.
Que lindo texto!
E não há dúvida, como diz a Lisa, recordar é viver.
Gostei do trabalhinho.
E o menu parece-me óptimo.
Feliz dia da mulher.
Jinhos grandes.
Mena,
Como admiro esse seu talento...
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
-
Olá, amiga!
Desejo para você...
"...um mundo mais feminino, mais rosado e sensibilizado...
mais equilibrado e perfumado..."
Feliz Dia das Mulheres!...
Beijinhos.
Itabira - Brasil
boa noite,td bem?
adorei as novidades...
mas a tua história de infância...um encanto.
fica bem,jinhos****
Mulher...
Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis
Que divide sua alma em duas
Para carregar tamanha sensibilidade e força
Que ganha o mundo com sua coragem
Que traz paixão no olhar
Mulher,
Que luta pelos seus ideais,
Que dá a vida pela sua família
Mulher
Que ama incondicionalmente
Que se arruma, se perfuma
Que vence o cansaço
Mulher,
Que chora e que ri
Mulher que sonha...
Tantas Mulheres, belezas únicas, vivas,
Cheias de mistérios e encanto!
Mulheres que deveriam ser lembradas,
amadas, admiradas todos os dias...
Para você, Mulher tão especial...
Feliz Dia Internacional da Mulher!
(Anônimo)
Como é bom recordar...
Bjssssssss
Marilú
Mulher...
Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis
Que divide sua alma em duas
Para carregar tamanha sensibilidade e força
Que ganha o mundo com sua coragem
Que traz paixão no olhar
Mulher,
Que luta pelos seus ideais,
Que dá a vida pela sua família
Mulher
Que ama incondicionalmente
Que se arruma, se perfuma
Que vence o cansaço
Mulher,
Que chora e que ri
Mulher que sonha...
Tantas Mulheres, belezas únicas, vivas,
Cheias de mistérios e encanto!
Mulheres que deveriam ser lembradas,
amadas, admiradas todos os dias...
Para você, Mulher tão especial...
Feliz Dia Internacional da Mulher!
(Anônimo)
Como é bom recordar...
Bjssssssss
Marilú
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