Os Colombos
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
Fernando Pessoa
Colombo, que tentara durante anos o apoio do
rei de Portugal, acabaria por descobrir o Novo mundo sob a égide dos reis
católicos de Espanha; significa aqui as oportunidades perdidas, mas também que
a missão de Portugal vai mais além da dos “Colombos”.
“Outros haverão de ter / O que houvermos de
perder”
“Mas o que a eles não toca / É a magia que
evoca / O longe e faz dele história”
Este poema, que se situa na segunda parte da
obra a “ Mensagem” intitulada de Mar Português, substitui um outro chamado “Ironia”
que constava nas primeiras versões dessa obra.
O poema refere-se a Cristóvão Colombo que
foi o descobridor da América ao serviço dos reis de Espanha. Por isso mesmo
sabemos que há todo um contencioso entre Portugal e Espanha a propósito de
Colombo, que deveria ter descoberto a América em nome do rei de Portugal se
este, D. João II, não o tivesse rejeitado.
Não se referindo apenas a Cristóvão Colombo,
este poema fala ainda de todos os navegadores estrangeiros (chamados aqui
“Colombos”) cuja glória, diz, é apenas um reflexo da luz das descobertas
portuguesas. Neste poema, na minha opinião, existe um certo exagero quanto ao
nacionalismo, porque, como podemos ver na primeira estrofe, o poeta diz que os
outros navegadores só vão ter o que Portugal não quis, pois Portugal não podia
conquistar tudo.
Quanto à análise formal do poema é de
referir o uso de rima emparelhada, cujo esquema é aabb, esta rima pobre acentua
os feitos menores dos navegadores que não eram portugueses. Em relação ao estilo, é de salientar o discurso na
primeira pessoa do plural, como se fosse Portugal a falar, e ainda o uso da
metonímia, pois Colombo aparece em representação de todas as potências
estrangeiras que tentam apoderar-se do que é português.
Diogo Soares 12.º ano