domingo, 26 de outubro de 2014

Cultivar o hábito de ler



A mãe de um aluno perguntou-me o que deveria fazer para que o seu filho ganhasse hábitos de leitura. Conversei alguns minutos com ela e fiz algumas perguntas sobre o quotidiano do filho e o da família. Ouvi-a, pensei e respondi que não havia uma fórmula mágica, que o hábito de leitura não se adquiria com 15 anos...
Não era a resposta que ela esperava! Vi na sua cara que esperava uma solução para o seu problema, melhor para o problema do seu filho: não lê nada, livros nem vê-los! Lá vai lendo as legendas dos filmes!...
O hábito de leitura começa na mais tenra idade, de pequenino é que se torce o pepino, com pequenas observações em relação ao mundo dos livros, com a apresentação à criança das letras... E tudo isto se inicia muito antes de ela aprender a ler.
Os meus filhos conviveram com livros, com textos e com letras desde sempre. Quando ia às compras com eles, o primeiro lugar em que passávamos era na secção de livros... Era um local de paragem obrigatória! Escolhíamos um livro, um revista adequada à sua idade e, depois, partíamos, então, às compras. Sentados no carrinho de compras, iam-me contando histórias, tendo em conta as imagens e iam perguntando “Que letra é esta?” “E esta? “E esta?”...
Chegados a casa, eles aguardavam a hora em que nos sentávamos na sala para ler: o pai, o jornal; eu, os meus romances. Eles traziam os seus livrinhos de histórias, sentavam-se ao nosso lado e descreviam as imagens que surgiam nas páginas, apontavam as letras que conheciam e associavam às imagens e iam soletrando palavras que conheciam com aquelas letras: L de Luís, A de Ana, M de mãe... e por aí fora... E qual era o meu papel nesta atitude deles? Nenhum!
As crianças imitam-nos em tudo! Ele via o pai a fazer a barba e queria fazer também, ela via-me no computador e queria digitar, ele via o pai a conduzir o carro e queria dirigir fazendo barulho com a boca no banco do condutor do nosso carro. Eles viam-nos a ler e seguiram-nos os passos. É a ordem natural!
Quando me dei conta, eles já identificavam um monte de letras em palavras que lhes eram conhecidas. Os meus filhos despertaram para o mundo das letras e dos livros sem a minha interferência directa, mas pelo exemplo.

Planta-se, cultiva-se o hábito de ler, semeando letras, palavras e histórias. Os leitores não se formam com metodologias, mas com exemplos... Isto, para que não tenhamos de perguntar o que fazer para que um adolescente de 15 anos adquira hábitos de leitura.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

SOTugas - Outubro


A Manuela adora orar antes da comezaina...


A acompanhá-la o Redes, porque nestas coisas... quantos mais rezarem melhor... A união faz a força!


Deixa-me concentrar para não ficar com cara de caso... hummm, como a de uns e de outros...


Um sorrisinho fica sempre bem!


Três sorrisos ainda é melhor... Melhor que orar!


Tenho cá um jeito para ficar de olhos fechados... falta de caminha.


Cara de segunda, depois de aturar... Enfim!


Ainda há forças para uns sorrisos leves...


Deixa-me abrir bem os olhos, apanhas-me sempre na sorna... quer dizer, a dever umas horas à cama!



Duas em uma, nem tempo houve para pestanejar!


O meu cabelo lavarinto com champô da LR fica sedoso, brilhante... Vejam!


E pronto, a dormir é que ela está bem. E que boquinha é essa?


Keep calm and smiling!


Aviso já que fico sempre mal nas fotos!


Eu tenho é muita garganta! Vou cantar um fadinho!


Vou afinar a garganta... Me aguardem!


Bolas, não se pode dizer nada!


Eu rio, ele sorri! É muito comedido o Sr. Redes sem rede!


Afasta a máquina, por favor! Gosto de me ver ao longe!



Cu-cu!


Olha eu aqui!


Ah! Acabou! Agora só há mais no próximo mês!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Quando o ministério não tem juízo, o corpo docente é que paga

RICARDO ARAÚJO PEREIRA
Quando o ministério não tem juízo, o corpo docente é que paga
Eu tinha 14 anos e considerava que se estava a perder demasiado tempo com ainfluência da continentalidade nas amplitudes térmicas. Portanto, fiz o que tinha a fazer. Fui à horta que havia por trás dos campos de futebol e apanhei um gafanhoto. Antes de o professor de geografia chegar, coloquei o gafanhoto debaixo da sua secretária. Não resultou. Assim que o professor as sentou, o gafanhoto saltou para a janela e saiu da sala. O professor nem chegou a vê-lo. E passou mais 50 minutos a falar impunemente sobre o facto de as zonas costeiras serem mais amenas que as áreas do interior.
Aos 14 anos ninguém sabe imaginar estratagemas que transtornem verdadeiramente a vida dos professores. Aos 62, Nuno Crato, o ministro da Educação, tem a maturidade que me faltava para inventar as melhores partidas. Primeiro, colocou professores de Coimbra, por exemplo, em Faro. Esperou que alugassem casa, que instalassem a família. que adaptassem a vida à nova realidade. Depois, anunciou que tinha havido um engano e que a colocação havia sido anulada. Isto é que é uma partida. Não sei se o ministro aceita sugestões, mas talvez fosse engraçado que, quando o professor se dirigisse ao ministério para se informar sobre as suas alternativas, lhe entregassem um envelope com um gafanhoto lá dentro. Como sempre, os professores não têm sentido de humor suficiente para entrar na brincadeira. Levam a mal, protestam, queixam-se. Resistem a ver esta baIbúrdia como uma oportunidade. Eu, sendo professor, aproveitava o estilo de vida que o ministério proporciona e adquiria imediatamente 20 ovelhas. O nomadismo é ideal para a pastorícia, e as constantes mudanças na colocação contribuiriam para que eu ficasse com um rebanho forte e lucrativo. Quanto menos aulas desse, mais tempo teria para vender lã, queijo e borregos.
Há quem ofereça o corpo à ciência. Neste momento, os professoras podem oferecer o corpo à educação, na medida em que as suas vidas parecem um daqueles problemas matemáticos: «o professor A é do Algarve e vai dar aulas para Trás-os­-Montes. O professor B é de Lisboa e vai dar aulas para Braga. Após consultarem a intemet, descobrem no mesmo dia que foram colocados por engano. Sabendo que ambos tomam o comboio das 8h20, qual chega primeiro ao centro de emprego?». Nem todos temos a honra de poder dar um contributo tão grande para o bem da Humanidade. Os professores têm e ainda reclamam.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O manicómio


O grotesco do caos em que o início do ano lectivo se transformou vai do cómico ao dramático. Sob a tónica da insensatez do desvairado que o dirige, o Ministério da Educação e Ciência assemelha-se a um manicómio gerido pelos doentes. A última paciente, a directora-geral da Administração Escolar, decidiu sambar na cara de milhares de alunos, pais e professores: com a coragem própria dos cobardes, mandou os directores despedirem os professores anteriormente contratados. Sim, esses mesmos em que o leitor está a pensar. Aqueles a quem o ministro Crato (entretanto desaparecido atrás da palavra que não tem) garantiu, na casa da democracia, que não teriam qualquer espécie de prejuízo quando ele, ministro incompetente, corrigisse o enorme disparate para que acabava de pedir a desculpa da nação.

Leio que são 150 nestas condições. Contratos antes assinados, agora rasgados. Como o daquela colega de Bragança, colocada em Constância a 12 de Setembro e reenviada para Vila Real de Santo António a 3 de Outubro. Casa alugada com caução perdida. Filha a mudar de escola outra vez. Confiança no Estado caída na lama, a reclamar, pelo menos em nome da decência mínima e última, que algo aconteça. Porque não se trata da consciência que o ministro não tem. Trata-se da obrigação republicana de quem o nomeou.

Retomo o que já anteriormente escrevi. Navegar por entre a teia kafkiana da legislação aplicável aos concursos de professores é um desesperante exercício de resistência. Só legisladores mentalmente insanos e socialmente perversos a podem ter concebido, acrescentando sempre uma nova injustiça à anteriormente perpetrada. Leiam as 1347 páginas das listas de subcritérios, agora tornadas públicas, verdadeiro hino à liberdade de disparatar, e ousem dizer-me que não tenho razão.

Os concursos de professores tornaram-se coreografias sinistras, danças macabras de lugares para despedir docentes. É isso que está em causa. Não as reais necessidades das escolas, muito menos as do país vindouro.

A distorção nas representações sobre as condições de exercício da profissão docente, ardilosamente passada pelo Governo para a sociedade em geral, atingiu o limite do suportável e ameaça hoje a própria integridade profissional dos professores, que não se têm afirmado suficientemente vigorosos para destruir estereótipos desvalorizantes. Com tristeza o digo, mas a classe dos professores manifesta-se cada vez mais como uma classe de dependências. E quem assim se deixa aculturar, dificilmente compreenderá o valor da independência e aceitará pagar o seu custo.

Quando o Papa proclama, em boa hora, que não há mães solteiras, mas tão-só mães, nós, classe docente desunida, demoramos, primeiro, e somos inconsequentes, depois, a dizer que não há professores de primeira e professores de segunda, mas tão só professores. Caímos na armadilha de calar as aspirações legítimas de uns com o retrocesso das aquisições de outros, contentes por termos evitado o vandalismo maior que o Governo projectava para todos. Enquanto isto, a colega de Bragança enche o carro com as tralhas de mais uma mudança de casa e ruma a Vila Real de Santo António, engolindo a raiva. Sem que uma solidariedade operante, atempada, impeça que a calquem.

O que este Governo mudou no sistema de ensino português terá consequências cujo alcance não está a ser percebido pela maioria dos portugueses. Mas há um universo, o dos professores, que se assume como espectador num processo em que é actor. Por omissão, concedo. Com gradientes diversos de responsabilidade, volto a conceder. Mas com o ónus global de não dizer não. Um não veemente quanto necessário para pôr cobro aos dislates de uma política que nos reconduz ao passado e nos recusa o futuro. A crise financeira e económica não justifica o pacifismo reinante face à crise da democracia. Os sindicatos, as associações profissionais, os directores de escola e os professores, pese embora o que têm feito, o que dizem e escrevem, acabam por ser espectadores num processo em que, historicamente, serão julgados como actores. Actores de uma tolerância malquista, que vai poupando a besta que não os poupa.

A arrogância, o ódio aos professores, a ignorância sobre a realidade do sistema educativo e das escolas e a impreparação política e técnica são os eixos identificadores daquilo que poderemos designar por bloco central de governo da Educação da última década. Se apelarmos à memória, salta à vista a convergência ideológica entre Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato, relativamente ao papel dos professores. Uma ou outra divergência quanto a processos não apaga o essencial. Do outro lado da barricada, a classe dos professores não interiorizou, enquanto tal, a dimensão política da sua profissão. E, em momentos vitais das lutas a que tem ido, soçobrou por isso.

Santana Castilho