segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Quem conta um conto, acrescenta um ponto!

Teófilo Braga

O CEGO E O MOÇO

Um cego andava pedindo esmola pela mão de um moço; a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça. O moço pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo na sacola e ia comendo a linguiça muito à sorrelfa. O cego, desconfiado, pelo caminho começa a bradar com o moço:

– Ó grande tratante, cheira-me a linguiça! Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.

– Pela minha salvação, que não deram senão pão.

– Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio!

E começou a bater com o bordão no moço pancadas de criar bicho. O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas havia de pagar. Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço embicou o cego para um tronco, e grita-lhe:

– Salta, que é rego. O cego vai para saltar e bate com os focinhos no sobreiro. Grita ele:

– Ó rapaz do diabo! Que te racho.

Diz-lhe ele:

Pois cheira-lhe o pão a linguiça,

E não lhe cheira o sobreiro à cortiça?


Rec. de Teófilo Braga



O conto é sempre uma narrativa pouco extensa e a sua brevidade tem implicações estruturais: reduzido número de personagens; concentração do espaço e do tempo; acção simples e decorrendo de forma mais ou menos linear.

O conto é hoje uma forma literária reconhecida e utilizada por inúmeros escritores, mas a sua origem é bem mais humilde. Na verdade, nasceu entre o povo anónimo. Começou por ser um relato simples e despretensioso de situações imaginárias, destinado a ocupar os momentos de lazer.

Dada a sua origem popular, o conto não tem propriamente um autor, entendido como um ser humano determinado, ainda que desconhecido. Na realidade, ele constitui uma criação colectiva, dado que cada "contador" lhe introduz inevitavelmente pequenas alterações ("Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto.").

Mas, é bom ter consciência de que os contos populares com que hoje nos defrontamos são diferentes daqueles que, durante séculos, foram transmitidos oralmente de geração em geração. Em primeiro lugar, porque o seu registo por escrito implicou necessariamente alguma reelaboração. Em segundo lugar, porque no acto de narração oral o código linguístico era acompanhado por outros códigos, variáveis de contador para contador e irreproduzíveis na escrita (a entoação, a ênfase, os movimentos corporais, a mímica...).

Também, não podemos esquecer que o auditório estava fisicamente presente e condicionava o acto de narração, fazendo comentários ou perguntas e restringindo, com a sua censura implícita, a imaginação criadora do contador. É essa censura latente que ajuda a compreender a permanência dos elementos essenciais, independentemente do tempo e do espaço.

Estrutura

De origem oral, o conto tem quase sempre uma estrutura muito simples e fixa. As próprias fórmulas inicial ("Era uma vez...") e final ("...e foram felizes para sempre.") revelam isso. Essa estrutura pode ser traduzida da seguinte forma:

Ordem existente - situação inicial;

Ordem perturbada - a situação de equilíbrio inicial é destruída, o que dá origem a uma série de peripécias que só se interrompem com o aparecimento de uma força rectificadora;

Ordem restabelecida.


Outros seguem ainda outra estrutura: Interdição; transgressão; complicação; resolução.


Personagens


A caracterização das personagens é sumária e estereotipada: os heróis concentram em si os traços positivos, enquanto os vilões evidenciam todos os aspectos negativos da personalidade humana. Dessa maneira personifica-se o bem e o mal e manifesta-se insistentemente a vitória do primeiro sobre o segundo.

A caracterização indirecta prevalece sobre a directa, visto que é sobretudo pelas suas acções que as personagens revelam o seu carácter.



Tempo e espaço


A fórmula inicial ("Era uma vez..." ou outra equivalente) remete para o passado e, desse modo, funciona como um sinal de que se vai passar do mundo real para um mundo irreal, o mundo da fantasia, onde tudo é possível. Esse mergulho no imaginário termina, por vezes, com a fórmula final: "...e viveram felizes para sempre."

Ao longo do conto, as indicações de natureza temporal são sempre limitadas e vagas, não permitindo determinar com rigor a duração da acção ou a localização num contexto histórico preciso. O mesmo acontece relativamente ao espaço: um palácio, uma casa, uma fonte, uma floresta, um caminho...

Na verdade, as vagas referências espácio-temporais aparecem apenas porque são uma exigência da narrativa, visto que nada acontece fora do tempo e do espaço. Não é o onde nem o quando que interessa, mas sim o que acontece, a acção. As próprias personagens são um mero suporte da acção, daí a sua caracterização estereotipada.

A conjugação dessas características (personagens estereotipadas e espaço e tempo indeterminados) concede às histórias um carácter atemporal e universal, que permite a sua reactualização permanente: é algo que poderia acontecer em qualquer tempo e em qualquer lugar a qualquer pessoa.



Simbologia


Os contos tradicionais estão carregados de simbologia: dizem mais do que parecem dizer. A manifestação mais evidente é a referência sistemática ao número três, símbolo da perfeição desde tempos imemoriais. Mas há mais... A rosa aparece como símbolo do amor puro e total. O beijo desperta e faz renascer. A heroína é frequentemente a mais nova (e por isso a mais pura e inocente) e afirma-se por oposição às irmãs mais velhas e mesmo aos pais. O herói quase sempre tem que enfrentar uma série de provas antes de alcançar o objecto - símbolo do amadurecimento que fará dele um homem. Outras vezes sai da casa paterna em busca da autonomia.


Funções do conto

Em maior ou menor grau, o conto popular tinha as seguintes funções: preencher os tempos de lazer; propor aos ouvintes modelos de comportamento; transmitir os valores e concepções do mundo próprios daquela sociedade.

Em síntese, podemos dizer que os contos tinham (têm) uma função de entretenimento e uma função educativa, didáctica. Por um lado, constituíam uma das formas de ocupar os tempos livres, geralmente os serões, reforçando os laços de convivialidade entre os membros da comunidade e despertando a imaginação dos assistentes; por meio deles era possível compensar a dureza e a monotonia da vida quotidiana, fugindo para mundos distantes e vivendo papéis e situações empolgantes. Por outro, concediam aos mais velhos um instrumento privilegiado para levarem os mais novos a interiorizarem valores e comportamentos considerados aceitáveis.


Classificação dos contos populares

São muitos os temas tratados nos contos populares, podemos reduzi-los a cinco tipos: maravilhosos ou de encantamento; de exemplo; religiosos ou morais; de animais; etiológicos (relativos à fundação de um local).





Prémio


Recebi este prémio da Sónia

Obrigada, Sónia!


Aqui fica para quem quiser levar.





A Mena na Cozinha

Coelho com feijão preto

1 coelho (marinado em vinha-d'alhos
)
feijão preto cozido
2 cenouras grandes
3 tomates maduros
azeite
1 cebola
1 malagueta grande ou pimenta (se preferir)
gengibre
vinho tinto
coentros
sal

Leve ao lume um tacho com azeite e a cebola picada e deixe alourar um pouco.

Corte os tomates de forma grosseira, adicione ao refogado e mexa.

Corte as cenouras aos cubos e junte ao preparado, regando em seguida com um pouco de vinho que usou na marinada.

Pique os coentros, um pouco de gengibre e a malagueta, ponha no tacho e mexa para ligar os ingredientes. Deixe apurar 2 ou 3 minutos.

Junte depois o coelho com a marinada.
Deixe cozinhar durante 45 minutos.

Finalmente adicione o feijão preto cozido. Mexa ao de leve, apenas para o feijão ganhar sabor. Deixe apurar 5 minutos

e sirva com salada e acompanhado com um bom vinho tinto alentejano.




Trabalhinhos:

Colar Hello Kitty

Anel "estrela"


Embalagem para um presente



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