domingo, 31 de outubro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes - Peroração



Sermão de Santo António aos Peixes

Peroração

O orador finaliza o sermão com a Peroração. Adverte agora Vieira os peixes, que eles foram excluídos do sacrifício sagrado. Eles não poderiam ir vivos ao sacrifício:
"cousa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares". Consola-os, muita sorte eles têm: "Peixes, dai muitas graças a Deus de vos livrar deste perigo, porque melhor é não chegar ao sacrifício, que chegar morto".

Antes de terminar o sermão, padre António Vieira dirige-se aos peixes num discurso intimista, confessa-se e faz mea culpa, por não conseguir cumprir com o fim para que foi criado. Os peixes podem aparecer diante de Deus, porque nunca o ofenderam. Pelo contrário, ele muito o tem ofendido:
"Ah que quase estou por dizer que me fora melhor ser como vós, pois de um homem que tinha as mesmas obrigações, disse a Suma Verdade, que "melhor lhe fora não nascer homem".

O pregador convida os peixes a louvar e dar graças a Deus por tê-los favorecido com tantas qualidades:
"Benedicite, cete, e omnia quae moventur in aqui, Domine: "Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos".

É um sermão ousado, mas também belo pelo seu poder descritivo, pela ironia, pelo sarcasmo, pela audácia crítica das suas afirmações e pela sua simbologia.


Alguns recursos estilísticos


Antíteses:

"Tanto pescar e tão pouco tremer!";

"No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (...)";

"(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que direitamente olhassem para baixo (...)";

"A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar (...)";

"(...) traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras.";

"(...) António (...) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano.";

"Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!"

Comparações:

"Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de Santo António.";

"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens.";

"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)";

"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)";

"(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas?";

"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!"

Paralelismos e anáforas:
"Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..."


"Deixa as praças, vai-se às praias;
deixa a terra, vai-se ao mar..."
"Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (...), se a língua de António, como rémora (...)
Quantos, embarcados na Nau Vingança (...), se a rémora da língua de António (...)
Quantos, navegando na Nau Cobiça (...), se a língua de António (...)
Quantos, na Nau Sensualidade (...), se a rémora da língua de António (...)"


"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"

"Se está nos limos, faz-se verde;
se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo (...)"

Ironia:
“Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar."

Metáforas:
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (...) se vêem e choram na terra tantos naufrágios."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!"
" (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)"
"(...) e o polvo dos próprios braços faz as cordas."

Trocadilhos:
"Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra."
"E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal."
"(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar."


Para saber mais, clica aqui!


A Mena na cozinha

Costeletas com maçã salteada

costeletas
batatas em palitos
maçãs
orégãos
sal
pimenta
vinho branco
alhos
louro

Tempere as costeletas com sal, alhos às rodelinhas, pimenta, vinho branco e pimenta. Reserve. Descasque as batatas e corte-as em palitos (também pode usar congeladas), leve-as ao forno em pirex untado com azeite ou margarina, temperadas com sal, pimenta e orégãos e regadas com um fio de azeite ou com nozinhas de margarina.

Descasque as maçãs e lamine-as. Leve ao lume numa frigideira com um pouco de azeite onde alourou um dentinho de alho. Tempere com sal, pimenta e orégãos e deixe alourar.
Frite as costeletas.

Sirva as costeletas com as batatas, as maçãs salteadas e salada de tomate.
Bom apetite!


Trabalhinho:



POEMA DE AGRADECIMENTO À " CORJA " ...

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa

POBRES DOS NOSSOS RICOS


A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.

Mas ricos sem riqueza.


Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.

Rico é quem possui meios de produção.


Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.

Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.


Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".

Aquilo que têm, não detêm.

Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.

É produto de roubo e de negociatas.


Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.

Vivem na obsessão de poderem ser roubados.


Necessitavam de forças policiais à altura.

Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.


Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.

Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)

MIA COUTO



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes - confirmação II




Sermão de Santo António aos Peixes

Confirmação

Depois de louvar as virtudes dos peixes, Padre António Vieira repreende os seus vícios:
"A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros."
Como é possível isso acontecer se são da mesma Pátria, todos criados na água e sendo irmãos, "vivais de vos comer".
E vai dizer-lhes como o próprio Santo Agostinho mostrou esse escândalo que acontece nos homens, mostrando o que se revela nos peixes; numa analogia surpreendente e quase em ira, em repetições sucessivas e num visualismo bem apelativo (recorrendo ao verbo "olhar") convida os peixes a olhar para a terra. Não é para os matos que eles devem olhar, é para a cidade, é lá que o "açougue" é maior, pior do que no sertão:
"Olhai peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos."

Num discurso interpelativo, intimista, argumentativo e convincente e recorrendo à anáfora, repetição do verbo "ver" no princípio das frases, alerta os peixes para o frenesim que se apodera dos homens, sempre a tentarem explorar o outro:
"Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego. Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."

Com várias espécies de peixe, padre António Vieira continua a construir várias alegorias, várias simbologias, criticando ferozmente vários tipos de colonos que martirizavam, exploravam os índios e se opunham à sua libertação. Chama a atenção para os hábitos e a vida dos peixes. Não se parecem eles com os homens, nos seus vícios, nas suas ambições, nos seus erros, na sua traição?:
"As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia... Se está nos limos faz-se verde; se está na areia faz-se branco... E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços, de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende".

A confirmação está implícita na censura à prepotência e domínio dos grandes, que como os peixes, vivem da exploração e do sacrifício dos mais pequenos.
O próprio Deus promete vingança. Ele próprio o afirma:
"Cuidais, diz Deus, que não há-de vir tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade?"

Nem é só comerem-se uns aos outros, o pior é que os grandes comem os pequenos: "Qui devorant plebem meam, ut cibum panis." Numa hipérbole devastadora, o pregador recorre às palavras de Deus. O pior é que os comem de qualquer modo "que os engolem e devoram". Confirma ele como se processa essa mortandade, essa crueldade, através de uma oração subordinada causal:
"porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam".

Vieira interpela os peixes sobre isto, se eles acham bem? Com o movimento das cabeças, eles pasmam perante o que ouvem, pelo facto de haver assim tanta injustiça e maldade, mas faz-lhes compreender que é isso que eles fazem também. Os grandes comem cardumes inteiros:
"Pois isso mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os mais pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros."

É numa crítica felina que o nosso orador avisará os peixes que serão também castigados, como Deus castiga os homens, não ouvem eles os remeiros queixarem-se daqueles que vão para o Brasil que em vez de governarem pensam só em enriquecer, "Os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos."


Antropofagia: hábito de comer carne humana; canibalismo.
Antropofagia social: exploração do Homem pelo próprio Homem.

Padre António Vieira acusa os Homens através da primeira repreensão aos peixes: "Vós vos comeis uns aos outros". O seu objectivo é atingir os Homens que também se comem uns aos outros: Tapuias (antropofagia) / Brancos (antropofagia social) - exploram-se uns aos outros; (antropofagia do povo) - os maiores comem os mais pequenos.

Vieira denuncia um outro tipo de antropofagia através da citação latina: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis (os que devoram o meu povo, como um pedaço de pão):
- Quem devora: "(...) os (...) que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros."
- Quem é devorado: "(...) são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos."
- Como é devorado: "(...) não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; e isto é o que padecem os pequenos."

Segunda repreensão:
Os peixes são facilmente enganados pela ignorância e pela cegueira, que não os deixa perceber que o pedaço de pano atado ao anzol é um isco e que se o morderem conduzi-los-á à morte.
Os homens cometem o mesmo engano, são iscados em Portugal pela vaidade de pertencer a uma Ordem, que funciona como um indicador de uma determinada posição na hierarquia social.
Quem pesca as vidas aos homens do Maranhão?
- O comerciante que vende tecidos vindos de Portugal.
Com o quê?
- Tecidos fora de moda e de má qualidade.
Como?
- Aumentando os preços dos tecidos, como se tivessem grande qualidade.
Quais são os homens desta terra que se deixam enganar?
- Os cegos pela vaidade.
Qual é a consequência?
- Endividam-se e todo o trabalho de um ano é levado.


A Mena na cozinha

Frango assado com limão

1 frango

sumo de 3 limões

sal

manteiga

pimenta

Corte o frango ao meio ou aos pedaços e coloque-o num pirex untado com manteiga. Tempere com o sumo de limão, sal e pimenta. Deixe de um dia para o outro. No dia seguinte, espalhe bocados de manteiga por cima do frango e leve-o a assar em forno quente durante 45 minutos. Desligue o forno e deixe ficar mais 10 minutos. Sirva o molho à parte.

Sirva com legumes cozidos.

Bom apetite!



Trabalhinho: