terça-feira, 30 de novembro de 2010

Frei Luís de Sousa - indícios de tragédia


Frei Luís de Sousa - Acto II (indícios de tragédia)

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A importância dos retratos

Os retratos da casa, para onde se mudou a família de Manuel de Sousa Coutinho, exercem um certo fascínio sobre Maria:

D.Sebastião - "(...) a ousadia reflectida que está naqueles olhos rasgados, no apertar daquela boca!…(...)"

Camões - "(...) aquele teu amigo com quem tu andaste lá pela Índia, nessa terra de prodígios e bizarrias, por onde ele ia… como é? ah, sim…

Nua mão sempre a espada e noutra a pena."

D. João de Portugal - "Aquele aspecto tão triste, aquela expressão de melancolia tão profunda… aquelas barbas tão negras e cerradas… e aquela mão que descansa na espada, como quem não tem outro arrimo, nem outro amor nesta vida… (...) " (enumeração)

A escolha destes três retratos, por parte de Garrett, tem uma intencionalidade subjacente:

· A escolha do retrato de Camões demonstra um gosto pela exaltação nacional, tipicamente romântico, visível em Os Lusíadas.

· A escolha do retrato de D. João de Portugal remete para o mito sebastianista.

· A escolha do retrato de D. Sebastião tem como objectivo representar a ideia do sebastianismo latente da época.

O reconhecimento

"MANUEL (sorrindo)

— Se tu sabes tudo, Maria, minha Maria! (amimando-a.) Mas não sabias ainda agora de quem era aquele retrato…

MARIA

— Sabia.

MANUEL

— Ah, você sabia e estava fingindo?

MARIA

(gravemente)

— Fingir, não, meu pai. A verdade… é que eu sabia de um saber cá de dentro; ninguém mo tinha dito; e eu queria ficar certa.

MANUEL

Então adivinhas, feiticeira. (Beija-a na testa.) Telmo, ide ver se chamais meu irmão; dizei-lhe que estou aqui.”

Neste excerto da Cena II, Manuel de Sousa Coutinho refere o carácter divinatório de Maria, (sublinhado).

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No excerto que se segue da Cena III faz-se uma alusão, por parte das duas personagens, a um provérbio: “O hábito não faz o monge”.

“MANUEL

— Ora ouve cá, filha. Tu tens uma grande propensão para achar maravilhas e mistérios nas coisas mais naturais e singelas. E Deus intregou tudo à nossa razão, menos os segredos de sua natureza inefável, os de seu amor e de sua justiça e misericórdia para connosco. Esses são os pontos sublimes e incompreensíveis da nossa fé! Esses crêem-se; tudo o mais examina-se. Mas vamos: (sorrindo) não dirão que sou da Ordem dos Pregadores? Há-de ser destas paredes, é unção da casa: que isto é quási um convento aqui, Maria… Para frades de S. Domingos não nos falta senão o hábito…

MARIA

— Que não faz o monge…

MANUEL

— Assim é, querida filha! (…)”

O Provérbio

O provérbio, sendo uma máxima característica da sabedoria popular, funciona como uma marca do Romantismo, onde se exalta tudo o que é nacional e popular. Este provérbio surge neste contexto com uma intencionalidade, uma vez que ele permite antever o destino final de Manuel Sousa Coutinho, que virá a abraçar a vida religiosa como Frei Luís de Sousa.

No diálogo entre pai e filha (cena II e III) ocorre uma revelação: Maria identifica o retrato de D. João de Portugal como sendo o do primeiro marido de sua mãe.

Manuel de Sousa Coutinho explica à filha, sem receios, que, embora ambos lamentem o triste destino de D. João, a sua morte permitiu a vida de Maria, sua querida filha.

Indícios de tragédia


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Intensificação dramática

Nas cenas V, VI e VII há uma variação do estado emocional de D. Madalena que confere um grande dramatismo às cenas.

Restabelecimento da calma “Estou boa já, não tenho nada…”, “As tristezas acabaram…”à Retoma do terror "- Sexta-feira! (aterrada) Ai que é sexta-feira!", “Logo hoje!...”, “— Oh, Maria, Maria… também tu me queres deixar! Também tu me desamparas… e hoje!" à Terror "— Cuidados!… Eu não tenho já cuidados. Tenho este medo, este horror de ficar só… de vir a achar-me só no mundo."

Manuel de Sousa Coutinho nega o paralelo entre a situação da Irmã Joana e a deles.

“MANUEL

— (…) Olha a condessa de Vimioso, esta Joana de Castro, que a nossa Maria tanto deseja conhecer… Olha se ela faria esses prantos, quando disse o último adeus ao marido…

MADALENA

— Vivos ambos… sem ofensa um do outro, querendo-se, estimando-se… e separar-se cada um para sua cova! Verem-se com a mortalha já vestida e… vivos, sãos… depois de tantos anos de amor… e convivência… condenarem-se a morrer longe um do outro, sós, sós! E quem sabe se nessa tremenda hora… arrependidos!…

JORGE

— Não o permitirá Deus assim… oh, não. Que horrível coisa seria!

MANUEL

— Não permite, não. Mas não pensemos mais neles: estão intregues a Deus… (Pausa.) E que temos nós com isso? A nossa situação é tão diferente(Pausa.) Em todas nos pode ele abençoar. Adeus, Madalena, adeus! Até logo. Maria já lá vai no cais a esta hora… Adeus! Jorge, não a deixes. (Abraçam-se: Madalena vai até fora da porta com ele).

A necessidade de Manuel de Sousa Coutinho diferenciar as duas situações comparadas, a da irmã Joana e a deles mesmos, sugere o seu receio: indício daquele que será o destino final desta família.

O monólogo de Frei Jorge

A figura de Frei Jorge assume uma certa importância, nestas cenas, por se encontrar só.

"CENA IX

JORGE (só)

— Eu faço por estar alegre, e queria vê-los contentes a eles… mas não sei já que diga do estado em que vejo minha cunhada, a filha… Até meu irmão o desconheço! A todos parece que o coração lhes adivinha desgraça… E eu quási que também já se me pega o mal. Deus seja connosco!"

Exemplo de serenidade e bom senso, Frei Jorge vem confirmar e anunciar o fim trágico, assumindo aqui o papel de coro.

O coro aparece nas tragédias gregas com a função de comentar o enredo das peças e anunciar o desenlace das mesmas sem nunca participar na acção.


A sexta-feira

A sexta-feira assume para D. madalena um carácter funesto. D. Madalena casa-se com D. João de Portugal numa sexta-feira. Numa sexta-feira, D. madalena conhece Manuel de Sousa Coutinho e de imediato se apaixona por ele, apesar de ainda estar casada com D. João. Mortificada pela culpa, vê esse dia como se fosse o dia do início da sua desgraça. D. João, juntamente com D. Sebastião, desaparece na Batalha de Alcácer Quibir que se trava numa sexta-feira de 1578. Esse desaparecimento veio permitir o amor de D. Madalena por Manuel de Sousa Coutinho. Manuel de Sousa Coutinho, já casado com D. Madalena, resolve incendiar a sua própria casa, obrigando-a a regressar à casa de seu primeiro marido e aí ficar mais perto do passado. Tudo isto a uma sexta-feira. O terror de ficar só numa sexta-feira na casa de seu antigo marido ainda mais se acentua, contribuindo para o evoluir dramático das cenas que preparam o clímax. Nesse mesmo dia, sexta-feira, surge alguém inesperado.


A Mena na cozinha


Maruca na caçarola

800 g de maruca
2 cebolas
200 g de ervilhas
0,5 dl de azeite
coentros
salsa
3 tomates
1 dente de alho
2 cenouras
0,5 dl de vinho branco
sal
pimenta

Leve ao lume brando uma cebola e o alho cortados às rodelas com o azeite. Por cima, coloque as postas de peixe e a outra cebola às rodelas. Tempere com sal e pimenta.

Agite a caçarola. Disponha os tomates aos pedaços, as ervilhas e as cenouras aos cubos. Regue com 0,5 dl de água e 0,5 dl de vinho branco. Tape a caçarola e deixe cozinhar durante 20 minutos.

Junte salsa e coentros e deixe apurar mais um pouco.

Sirva com batatinhas cozidas e salpique com coentros e salsa picados.
Bom apetite!


Trabalhinho:


domingo, 28 de novembro de 2010

Frei Luís de Sousa - elementos simbólicos...

Frei Luís de Sousa - Acto I (elementos simbólicos)

Cenas V e VI do Acto I


Num texto dramático a passagem de uma cena para a outra ocorre quando entra ou sai uma personagem.

Frei Jorge traz uma notícia que provoca inquietação nas personagens: os governadores decidem instalar-se na casa de Manuel de Sousa Coutinho.


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Na cena VIII, desenrola-se uma conversa exaltada entre D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, onde as opiniões divergem.

D. Madalena demonstra muito receio em regressar a casa do seu primeiro marido, deixando perceber um certo sentimento de culpa por ter amado D. Manuel, enquanto era casada com D. João.

D. Madalena é uma personagem que se caracteriza pelas suas paixões exaltadas, pelos seus receios e premonições, pela sua fragilidade e pelo seu desejo de fugir ao destino. Estas características fazem dela uma personagem romântica.

O romantismo nas personagens de Frei Luís de Sousa

Características românticas

Personagens

Desejo de liberdade ansiando quebrar todas as correntes que prendem a liberdade do eu.

Madalena, Maria,

Manuel de Sousa Coutinho

Pessimismo, melancolia, desespero, terror, angústia de existir, superstição, sentimentos obsessivos e de culpa, premonições.


D. Madalena

Evasão ou fuga para mundos imaginários, sonho, devaneio.

Madalena, Maria, Telmo

Nacionalismo, culto da ideologia patriótica, coragem.

Manuel de Sousa Coutinho

Defesa da Pátria e da justiça.

Irreverência humana.

Protótipo de mulher-anjo fragilizada.


Maria


Manuel de Sousa Coutinho utiliza alguns argumentos para convencer D. Madalena a ir para casa do seu antigo marido:

“MANUEL

Rezaremos por alma de D. João de Portugal nessa devota capela que é parte da sua casa; e não hajas medo que nos venha perseguir neste mundo aquela santa alma que está no céu, e que em tão santa batalha, pelejando por seu Deus e por seu rei, acabou mártir às mãos dos infiéis. Vamos, D. Madalena de Vilhena, lembrai-vos de quem sois e de quem vindes, senhorae não me tires, querida mulher, com vãs quimeras de crianças, a tranquilidade do espírito e a força do coração, que as preciso inteiras nesta hora.”


Há uma mudança de tratamento de vós, que ele usa para apelar ao seu estatuto social, para tu, que demonstra a proximidade afectiva entre marido e mulher.

Manuel de Sousa Coutinho, ao incendiar a sua própria casa, diz: "- Ilumino a minha casa para receber os muito poderosos e excelentes senhores governadores destes reinos...(...)", utilizando a ironia.

"MANUEL

— Meu pai morreu desastrosamente caindo sobre a sua própria espada. Quem sabe se eu morrerei nas chamas ateadas por minhas mãos?"

Tendo em conta a frase sublinhada no texto, percebe-se que Manuel de Sousa Coutinho, em tom de fatalidade, parece preparar o seu próprio destino.

Manuel de Sousa Coutinho decide incendiar a sua casa num acto patriótico. Ao destruir a sua própria casa, Manuel de Sousa Coutinho encontra um modo de responder à afronta dos governadores, representantes da coroa espanhola que decidiram instalar-se no seu palácio.

A obra “Frei Luís de Sousa” apresenta vários elementos carregados de simbologia. Garrett dá-nos indicações sobre o espaço, logo no início do primeiro acto, através de uma didascália. A acção inicia-se numa sala ampla. São feitas referências à luminosidade, assim como a diversos elementos coloridos que representam uma certa alegria e até felicidade vividas naquela casa. Um outro elemento simbólico presente na sala é o retrato de Manuel de Sousa Coutinho que assume grande importância ao ser destruído pelo fogo, indiciando uma desgraça. O elemento fogo simboliza a destruição que vem impor uma mudança espacial que vai influenciar o destino de todas as personagens.


A simbologia dos números encontra-se também muito presente nesta obra. A referência ao número 13, a idade de Maria, não augura sorte. O número 7, como os sete anos em busca de D. João de Portugal, e o seu múltiplo, 14, como os anos do segundo casamento de D. Madalena simbolizam um fim de ciclo, por um lado, e, por outro, o destino e a fatalidade.



Trabalhinho:

A Mena na cozinha

Tortilha de kibe

sobras de Kibe
6 ovos
sal
pimenta
salsa picada
1 dente de alho picadinho
batata frita palha

Com um garfo desfie as sobras do Kibe. Junte-lhe os ovos batidos, temperados com sal, pimenta e o alhinho picado. Mexa bem.

Adicione a salsa picada e as batatas palha, envolva muito bem.

Leve ao lume.
Sirva com uma boa salada mista.
Bom apetite!