Estranhámos o dia em que não veio. Nunca faltava e era dia de entregar os últimos testes. A professora de sociologia não era simpática, não sorria muito, mas era uma mulher justa, constante e sabia cativar quase três dezenas de adolescentes ensonados. A professora de sociologia era a minha professora preferida, por me ensinar as coisas que mais gostei de aprender e porque, num momento difícil dos meus 17 anos, teve um papel importantíssimo na minha vida.
Estranhámos o dia em que não veio. Estranhámos os testes que nunca nos foram entregues e estranhámos mais ainda que, apesar da ausência, as notas de sociologia estivessem afixadas na pauta num dia quente de verão. Fomos informados nessa mesma tarde que a nossa professora de sociologia se tinha suicidado. Antes de se matar a professora de sociologia corrigiu os teste e deu as notas.
Guardo a professora de sociologia nas minhas memórias com uma dor imensa por nunca lhe ter agradecido aquilo que representou na minha vida. Felizmente, há outros, a quem pude dizer como foram importantes.
Arrisco dizer que me lembro de todos os meus professores: os chatos, os fixes, os intelectuais, os divertidos, os que nunca se enganavam e os distraídos, os que faziam parte da mobília e os estagiários. Foram, todos eles, uns mais que outros, fundamentais na minha vida.
Sei quanto ganham os professores, sei as horas que trabalham. Cresci no corredores de uma escola, entre fórmulas de Física, enquanto esperava pelo fim das reuniões, sentada à porta do gabinete onde a minha mãe tirava dúvidas aos alunos. Sabia que na luz acesa pela noite fora estava a minha mãe a corrigir testes. Zanguei-me muitas vezes pelas ausência da minha mãe: “ainda está na escola”. Mas zango-me muito mais com aquilo que a minha mãe ganha depois de mais de 40 anos de trabalho.
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