Diário de uma tarde
Ontem passei uma tarde no hospital
acompanhada por várias pessoas de boa saúde, umas tantas de pouca saúde, outras
com achaques mais, ou menos, graves e, pasme-se, por dezenas de moscas. É certo
que, felizmente, já não entro num hospital público há muito tempo! Graças a
Deus sofro só de boa saúde. Passei aquelas horas de espera angustiosa a enxotar
moscas teimosas.
Já passei horas, noites, dias, quando os
meus filhos eram pequenos, no hospital e nunca... nunca... nunca vi sequer uma
mosquinha morta por lá, quanto mais dezenas delas, vivas, vivinhas e a voar todas contentes. Era uma festa!
Mas, isto não é tudo... E uma pessoa vai
ficando mais e mais pasmada: não, não há só moscas na entrada do hospital, no
local onde esperamos e esperamos e esperamos que nos chamem... Aí, com portas a abrir e a fechar de minuto a minuto, enfim! O pior e, nestas coisas, embora não se espere, surge sempre algo pior! Entra-se para o
gabinete médico e lá as temos num corrupio esvoaçante a darem-nos as
boas-vindas... Quando podemos acenar e sacudi-las, é chato, mas pronto,
conseguimos mantê-las à distância... Mas se estamos "proibidos" de
nos mexer, o caso torna-se numa verdadeira tortura. Pousam-nos nas mãos, na
cara, na cabeça, nos olhos, na boca, nas feridas... Já toda a gente se viu a braços com estes
insectos pestilentos e teimosos, todos sabem do que estou a falar.
Seguidamente, há que passar à sala de
Raio X e, claro que as nossas anfitriãs, as mesquinhas mosquinhas, também por
lá andam numa azáfama nunca vista... Portanto, nem aí estamos a salvo! A seguir, passa-se mais um tempito no
corredor, na companhia de mais uns tantos doentes deitados em macas, entre ais
e gemidos e, claro, entre as nossas amigas moscas... O desespero a crescer e a dança das moscas em cima dos doentes também! As feridas pareciam-lhes, quiçá... um banquete, pois elas, teimosamente, passeavam-se por cima do sangue que teimava em escorrer perna abaixo... ou colavam-se nos golpes expostos. Enxotá-las? Tarefa mais do que difícil para quem não se pode mexer, para quem está completamente imobilizado...
Finalmente, chega a hora da
mini-cirurgia! Será agora que me vou ver livre das moscas teimosas? E, chegando
à sala das micro-cirurgias, quem é que aparece imediatamente a dar as
boas-vindas? Já nem preciso de vos dizer! As moscas, as moscas que, pelos
vistos, tomaram conta do hospital! Mas, expliquem-me lá: aquela sala não deveria estar
super-limpa, super-esterilizada? Como é que uma médica está a coser uma perna a
um paciente e as moscas andam por lá, a vadiar, a escarafunchar, por cima da
ferida? É ou não é de pasmar? O que é que se passa com os nossos hospitais? Será
que há alguém que me possa esclarecer?
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