Em 1874, iniciam-se, em Paris, as exposições impressionistas, mas do Grupo do Leão é precisamente Cesário Verde, que nada tem a ver com a pintura, quem antecipa o impressionismo em Portugal.
Em literatura, o impressionismo manifesta-se pelo processo de atribuir à linguagem, às palavras, o mesmo efeito que as pinceladas de cor imprimem à tela, ou seja, o importante é exprimir as impressões que a observação do real suscita e não a figuração do real. Deste modo, para Cesário, importa mais a impressão que o objecto causa do que a enumeração pormenorizada de detalhes.
O poema De Tarde ilustra bem esta técnica impressionista e é, por muitos críticos, considerado equivalente a uma tela de Manet, particularmente a sua obra "Le déjeuner sur l'herbe":
O próprio poeta refere, no poema, a possibilidade de equivalência com uma pintura, quando diz tratar-se de "(...) uma coisa simplesmente bela / E que, sem ter história nem grandezas, / Em todo o caso dava uma aguarela".
É, assim, notória a preferência pelo acontecimento simples e prosaico, que nada tem de grandioso, o que, efectivamente, se assemelha às tendências estéticas dos meados do séc. XIX.
Podemos detectar esse carácter impressionista da linguagem de Cesário, nos quais se identifica esse modo de apreender o real através de impressões: cor, luz, movimento...
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.
Em literatura, o impressionismo manifesta-se pelo processo de atribuir à linguagem, às palavras, o mesmo efeito que as pinceladas de cor imprimem à tela, ou seja, o importante é exprimir as impressões que a observação do real suscita e não a figuração do real. Deste modo, para Cesário, importa mais a impressão que o objecto causa do que a enumeração pormenorizada de detalhes.
O poema De Tarde ilustra bem esta técnica impressionista e é, por muitos críticos, considerado equivalente a uma tela de Manet, particularmente a sua obra "Le déjeuner sur l'herbe":
Naquele “pic-nic” de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Temos neste poema:
- a captação de um flagrante do quotidiano burguês: uma determinada imagem, um instante que o sujeito poético surpreende - "Houve uma coisa simplesmente bela";
- as sugestões cromáticas, de que a visão é a principal responsável: "azul", "rubro", "púrpuro";
- a sugestão da luz - "inda o sol se via";
- as sugestões gustativas: "talhadas de melão, damascos / E pão-de-ló molhado em malvasia".
O próprio poeta refere, no poema, a possibilidade de equivalência com uma pintura, quando diz tratar-se de "(...) uma coisa simplesmente bela / E que, sem ter história nem grandezas, / Em todo o caso dava uma aguarela".
É, assim, notória a preferência pelo acontecimento simples e prosaico, que nada tem de grandioso, o que, efectivamente, se assemelha às tendências estéticas dos meados do séc. XIX.
Podemos detectar esse carácter impressionista da linguagem de Cesário, nos quais se identifica esse modo de apreender o real através de impressões: cor, luz, movimento...
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.
Num Bairro Moderno
Pinto quadros por letra, por sinais,
Tão luminosos como os do Levante,
Tão luminosos como os do Levante,
Nós
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
O Sentimento dum Ocidental
in Colecção Resumos da Porto Editora