quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Umas férias pelo Sul de Portugal e não só…



Como vos prometi, cá estou para vos contar como decorreram as minhas férias.


No Sudoeste alentejano

Dia 3 de Agosto, por volta das 8.30h, depois de termos programado o GPS rumo a S. Teotónio, concelho de Odemira, escolhendo o percurso mais curto e evitando estradas com portagens, lá fomos nós no nosso VW Golf 1.5 Turbo Diesel de 1991, viatura com 16 anos, um “todo o terreno” que conhece bem as maluquices do dono e que as suporta de bom grado (Que remédio!). Optámos por levar este carro, devido ao seu baixo consumo e se sucedesse alguma coisa, não ficaríamos com muita pena. Trata-se de um carro para todo o serviço, que nos serviu muito bem para calcorrearmos caminhos não muito aconselháveis a carros “normais”.
A menina do GPS, a Carolina (a voz que nos guia), lá nos indicou o melhor caminho, tendo apontado também a hora de chegada ao nosso destino. A viagem decorreu sem sobressaltos, não houve enganos, porque cada vez que não seguíamos as suas indicações, ela tratava logo de arranjar um percurso alternativo e se tal não fosse possível, a Carolina simplesmente nos aconselhava, repetindo insistentemente “Volte atrás, assim que for possível” até cumprirmos a sua ordem.
Chegámos a S. Teotónio antes do meio-dia e tratámos de procurar um restaurante para almoçarmos, escusado será dizer que estavam todos cheios, é que estava a decorrer o Festival do Sudoeste em Zambujeira do Mar e estava tudo lotado na vila e nos arredores. Pensámos em ir ao supermercado, mas quando perguntámos onde ficava, logo nos disseram que as bichas eram longas e que talvez arranjássemos comida para o jantar, ou, com um bocadinho de sorte, para o lanche.
Desistimos do supermercado e decidimos dar uma volta pela vila, podia ser que surgisse alguma coisa. Íamos numa das ruas mais largas, quando o meu marido avistou o Areco lá do sítio, uma colectividade (Grupo Desportivo Renascente de S. Teotónio), parou o carro dizendo que ali nos desenrascaríamos e foi lá dentro falar com o dirigente. Havia uma longa mesa, fora do edifício, cheia de gente que comia, bebia e cantava (Era grande a festa!).
Eu não estava muito convencida e a minha filha torcia o nariz, por isso, não entrámos, deixámo-nos ficar ali junto ao carro. Apareceu, passados alguns minutos, o meu marido a perguntar o que estávamos a fazer especadas a olhar, se já não tínhamos fome e que entrássemos. Assim foi, havia uma mesa vaga, mesmo por baixo do ar condicionado. Vinha mesmo a calhar, com o calor que estava!
O senhor Fernando Simão serviu-nos umas bifanas no pão. Era o que podia arranjar, porque com o festival não tinha mãos a medir. Eu fiquei a olhar para a quantidade de carne e de pão que estava em cima da mesa. Claro que estava à espera de um pãozinho pequeno, como os que servem aqui nos nossos cafés e aquilo dava para mais três pessoas. O meu marido gozava connosco, dizendo que era almoço e lanche. As fatias eram enormes e o pão alentejano é mais consistente e pesado do que o nosso, enche mais.
O senhor Fernando veio à mesa perguntar se estava tudo bem, pediu desculpa por não nos poder servir condignamente e informou que para o jantar ia fazer jardineira de vaca, se estivéssemos interessados, que aparecêssemos. A minha filha não gostou nada da ideia e disse logo que não gostava de jardineira, mas, mesmo assim, nós concordámos em voltar.
Eram três horas. Telefonámos ao Sr. José Inácio, o dono da casa que alugámos, marcámos um encontro e quando ele chegou, levou-nos ao Monte Sol e Vento.
O local é encantador. É um monte alentejano, com uma casinha branca delineada a azul, típica, com árvores e plantas bem tratadas (regadas duas vezes por dia pelo Sr. José, de manhã e ao entardecer) e uma charca. Instalámo-nos e fomos dar uma volta pelo monte, passeio muito agradável, embora estivesse muito calor. Depois, metemo-nos no carro e fomos a Zambujeira do Mar para ver a praia, não conseguimos lá chegar, eram bichas enormes de carros, uma confusão descomunal, voltámos atrás e dirigimo-nos para as praias mais a norte – Porto Covo e as suas belas praias, praia dos Aivados, praia do Malhão, praias de Vila Nova de Mil Fontes, praia das Furnas e praia Grande de Almograve.
Ficou logo decidido que, no dia seguinte, iríamos de manhã para Porto Covo e de tarde para a praia dos Aivados, porque enquanto não acabasse o festival, seria de todo impossível ficar em Zambujeira do Mar.





sábado, 25 de agosto de 2007

Uma história com flores (a aventura chega ao fim)

Na manhã do quarto dia, o Gladíolo levantou-se, alinhou as suas belas pétalas vermelhas, sacudiu as suas longas folhas verdes e, sem dizer nada a ninguém, partiu. Seguiu o conselho do velho Girassol sábio e dirigiu-se para norte, queria conhecer as flores das montanhas, dos montes e das serras. O caminho a percorrer era longo e sinuoso, mas o Gladíolo lá ia pé ante pé, descansando muitas vezes pelo caminho, apanhando, de vez em quando, boleia do vento que o levava quase pelo ar.
Durante a sua longa caminhada, ele conheceu os lírios do campo de belas flores brancas, amarelas e roxas; encontrou-se com as giestas, plantas de flores amarelas ou brancas; sentiu o perfume forte do alecrim, arbusto de flores miudinhas de cor azulada ou branca; viu as flores pequenas e brancas das urzes. Passou por montes e vales, subiu e desceu montanhas, mas o que mais o impressionou foi a bela serra coberta por um grande e belo lençol verde. Nunca tinha visto tanto verde! Tantos tons de verde! Todo o horizonte tinha sido pintado com os verdes mais bonitos e brilhantes do mundo!
O Gladíolo ia subindo a serra completamente maravilhado, olhando aqueles caminhos bordados de verde, as encostas arborizadas e escorrendo água muito limpa e fresca, as belas cascatas que pareciam cantar ao descer pelos rochedos de granito.
- Ah! Como é bela a natureza! – exclamava o Gladíolo, tonto com tanta beleza, com tanto verde. – Será aqui o paraíso?
Ali, naquela grandiosa serra, conheceu o pinheiro-silvestre; viu as grandes matas de carvalho roble; conversou longamente com o azereiro, o azevinho e o medronheiro; sentou-se junto às ribeiras para descansar à sombra dos amieiros. Todas as árvores lhe pareciam igualmente belas, igualmente majestosas.
Quando regressar ao meu jardim, hei-de contar aos meus amigos esta beleza, estes verdes, estes perfumes, este silêncio – pensava o Gladíolo, fascinado e feliz.
E continuava a subir a serra, todo alegre. Tinha de conhecer todas as plantas, arbustos e até as ervas mais insignificantes que contribuíam para aquela beleza tão singular. Estava tão contente que lhe apetecia abraçar todas as plantas que encontrava pelo caminho. E se bem o pensou, melhor o fez! Abraçou os tojos, as giestas, a urze branca, as tramazeiras, a carqueja, o zimbro. E quando chegou ao cimo da serra, deitou-se a descansar debaixo de uma grande bétula, olhando sempre para toda aquela quantidade de verdes e reparou que por entre as pedras cresciam ainda várias plantas e ervas minúsculas. Foi ali, debaixo daquela bétula que o Gladíolo adormeceu e sonhou com o seu pequeno jardim, tão longe e tão perto, porque o tinha bem guardado no seu coração.
Durante seis dias, o Gladíolo vagueou pela serra completamente maravilhado com a sua beleza e grandiosidade. Mas, ao pôr-do-sol do sétimo dia, resolveu regressar a casa: tinha saudades dos seus amigos, do seu cantinho…
- Vou descer esta bela serra e voltar ao jardim das mil flores – disse ele à Bétula, sua companheira nas últimas noites.
A árvore olhou-o com tristeza, descruzou os seus ramos e apontando em seu redor, exclamou com voz meiga, mas tristonha:
- Vamos ter saudades tuas!
- Eu também vou sentir saudades de todos vós – concordou o Gladíolo, olhando à sua volta.
– Não vou esquecê-los nunca! – acrescentou ele com a voz trémula de emoção.
Na manhã seguinte, muito cedo, ainda todos dormiam, o Gladíolo iniciou a sua longa viagem de regresso. Não se despediu de ninguém e começou a descer, com pezinhos de lã, a bela e frondosa serra, agora, coberta por uma fina cortina de neblina que a tornava ainda mais bonita, mais misteriosa, de verdes difusos e esbatidos. Voltava a casa mais sábio e menos emproado, já não se sentia uma flor muito importante. Aprendeu que todas as flores, árvores, plantas… são igualmente importantes e têm o seu lugar na natureza.
Tinha passado dias maravilhosos, tinha conhecido muitas árvores, arbustos, plantas, flores e ervas, tinha feito muitos amigos.
- Valeu a pena aquela pequena mentira! – exclamava o Gladíolo, recordando a noite em que deixara o jardim das mil flores, para conhecer o mundo.


Fim

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Uma história com flores (O amigo sábio)

Pois é, a aventura do Gladíolo continua! Que outras flores conhecerá ele? Fará outros amigos? Encontrará, finalmente, flores mais bonitas, mais perfumadas, mais exóticas e mais sofisticadas do que as do seu jardim?
Vamos ver...


De repente, os Malmequeres pararam, porque avistaram uma grande extensão de terra pintada de amarelo.
O Gladíolo, muito espantado, perguntou:
- O que é aquilo? Tanto amarelo!
Uma Papoila atrevida, rindo da ignorância do seu novo amigo, respondeu prontamente:
- São Girassóis. Estas grandes flores amarelas são cultivadas para se lhe extraírem as sementes que servem de alimento às aves.
O Gladíolo estava completamente fascinado com a grandeza daquelas flores. Nunca tinha visto flores tão grandes, tão dominadoras. Não eram bonitas! Mas havia algo nelas que deslumbrava.
- Os Girassóis viram-se sempre para o sol, adoram a luz solar – informou um Malmequer.
O Gladíolo continuava encantado. Acabara de conhecer, talvez, a maior flor do mundo!
Um Girassol, ao voltar-se para o sol, ouviu a conversa das flores e baixou-se um pouco. Ele ficou intrigadíssimo com a presença do Gladíolo, ali, no campo. Que estranho! Uma flor tão sofisticada, ali! Por fim, decidiu perguntar:
- Que faz um Gladíolo, aqui, num campo de girassóis?
- Eu deixei o meu jardim para conhecer o mundo e todas as flores que existem.
- Existem milhares de flores espalhadas pelos cinco Continentes, duvido que as consigas conhecer todas.
- Hoje já não posso conhecer mais ninguém – disse o Gladíolo, com um ar muito cansado – está a escurecer.
- Sim. É melhor arranjarem um sítio para pernoitarem – disse o Girassol, olhando para baixo, para aquelas pequenas flores.
As flores acomodaram-se debaixo dos grandes girassóis que lhes serviram de telhado e o Gladíolo pensou que era a primeira vez que dormia fora do jardim, longe dos seus amigos.
O sol desaparecera totalmente, o céu parecia uma grande toalha negra bordada com mil estrelas douradas. Ouviam-se os grilos e as cigarras a cantar à desgarrada. Um mocho piava de longe a longe. Tudo dormia profundamente menos o Gladíolo que olhava o céu estrelado e ouvia atentamente todos os barulhos do campo. Quando voltar ao meu jardim, vou contar a todos como são brilhantes as estrelas do céu vistas do campo, como cantam bem os animais do campo, como são simples as flores do campo, como são grandes os girassóis… e foi assim, a pensar no seu jardim e nas coisas novas que conhecera, que o Gladíolo adormeceu.
As flores do campo acordaram muito cedo, lavaram a cara com o orvalho da manhã e preparavam-se para acordar o seu novo e belo amigo, quando repararam que ele já não estava no lugar onde o haviam deixado. Olharam em redor e viram-no a conversar com um Girassol que pelo aspecto parecia já entradote na idade e este dizia:
- Gladíolo, creio que é muito ambicioso esse teu projecto de conhecer todas as flores do mundo. Há milhares de espécies de flores, além disso, o mundo é grande, muito grande. Não terás tempo, durante toda a tua existência, de o conhecer.
O Gladíolo ouvia atentamente aquelas palavras sábias do Girassol. Ele podia não ser uma flor bonita nem sofisticada, mas era inteligente e parecia conhecer muitas coisas, era, portanto, uma flor culta.
- Se fosse eu, procurava conhecer as matas, os montes, as montanhas e a serra. Lá encontrarás muitas plantas, arbustos, flores e até árvores que nunca viste, que não existem no teu jardim. Não esperes conhecer flores tão bonitas, tão vistosas e tão perfumadas como as do teu jardim. As flores são todas diferentes mas, lá no fundo, todas possuem a sua beleza, o seu perfume, o seu encanto, basta estarmos atentos.
O Gladíolo estava fascinado com a sabedoria e simpatia do velho Girassol. Ele deve conhecer muitas flores, muitas plantas, muitas árvores…
- As minhas sementes correm todo o planeta para alimentarem aves raras e exóticas: papagaios, araras… sei lá! Por isso, sei que o mundo é muito grande e possui muitas qualidades de flores: umas raras, outras vulgares, umas bonitas, outras menos belas, umas vistosas e sem perfume, outras sem graça e muito perfumadas. Pensa bem no que acabei de te dizer?!... – pediu o Girassol, voltando-se para um raio de sol quente que espreitava por entre as nuvens de algodão.
O Gladíolo e as flores do campo decidiram permanecer no campo de girassóis algum tempo.
Durante três dias, não se cansaram de ouvir o Girassol contar as suas histórias, as suas façanhas, os seus conhecimentos, as suas vitórias e derrotas…

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma história com flores (a aventura continua)

O Gladíolo achou aquelas flores pouco atraentes. Tinham pétalas pequenas e brancas muito abertas e um botão amarelo no meio! Pensando bem… não tinham muita graça aquelas flores, não senhor!
Os Malmequeres, ao descobrirem as Papoilas, ergueram-se um pouco mais e sorriram: as suas amigas vinham, certamente, fazer-lhes uma visita.
- Olá, há quanto tempo! – exclamaram os Malmequeres com voz melodiosa e doce.
- Viemos para vos apresentar um amigo. É o Gladíolo, ele anda a viajar e quer conhecer todas as flores do mundo! – disseram as Papoilas, abanando os seus vestidos rodados.
O Gladíolo já estava a ficar desanimado: ele queria conhecer flores bonitas e perfumadas, flores mais bonitas e mais perfumadas do que as do jardim das mil flores e até agora só conhecera flores sem graça, sem perfume e sem classe.
Um dos Malmequeres do campo, como que adivinhando o pensamento do novo amigo, disse:
- As flores do campo são muito simples, não usam vestidos de tecidos raros e caros nem coroas. Os nossos vestidos e saias são geralmente de chita, de tecidos baratos, mas confortáveis. Lembra-te que ninguém nos colhe para ornamentar jarras, jarrões ou para fazer arranjos florais. O Gladíolo olhava as flores do campo muito espantado. Ele não sabia que havia flores que não serviam para enfeitar as salas, as casas, os jardins. Tudo aquilo era novo para ele. Para que serviam elas afinal?
Mais uma vez, o Malmequer pareceu adivinhar o seu pensamento e disse muito alegre e confiante:
- Nós enfeitamos espaços maiores, campos inteiros, grandes campos de trigo, de centeio, de aveia… - e acrescentou – nunca viste um campo de girassóis?
- Não. Nunca ouvi falar em tais flores. Como são? Onde vivem? Para que servem? – perguntava o Gladíolo, muito interessado.
- Se quiseres, nós vamos contigo. Levar-te-emos até ao maior campo de girassóis que conhecemos – disse um Malmequer muito franzino e encolhido.
E lá foram eles: os Malmequeres à frente, a seguir o Gladíolo muito direito e arrumadinho e atrás as Papoilas que balançavam as suas saias ao vento. As árvores, os pássaros, as borboletas, as abelhas, todos olhavam aquela fila de flores que seguia em frente sem olhar para nada nem para ninguém.
As flores iam muito felizes e animadas, conversando sobre as suas experiências: o Gladíolo falava do jardim das mil flores, das tulipas de todas as cores, das rosas perfumadas, dos cravos coloridos, das orquídeas exóticas, de todos os seus amigos; descrevia o grande jardim rodeado de muros altos, o fresco e largo lago de águas cristalinas, as árvores frondosas e altas, as belas plantas verdes, as estátuas de bronze que o enfeitavam, o grande e velho portão verde. As Papoilas e os Malmequeres estavam encantados com o mundo encantado do seu novo amigo e não se cansavam de dizer:
- Deve ser lindo o teu jardim!
E tinham pena de não terem nada assim tão lindo para contarem. As Papoilas falaram sobre a brisa fresca do vento, sobre o orvalho das manhãs, sobre o calor do sol, sobre o trigo loiro que vivia com elas e sobre o “dia da espiga”. Os Malmequeres ficaram tristes, porque achavam que não tinham nada de belo para contar. Gostariam de ter coisas extraordinárias para dizer, mas tinham uma existência pobre, sem festas, sem passeios, sem jardins, sem campos de trigo para enfeitar…

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Uma história com flores (continuação)

Olá!
Cá estou eu, outra vez, como prometi, para dar seguimento ao conto. Espero que estejam a gostar da história. Eu gosto muito e, por isso mesmo, decidi partilhá-la convosco.




A Hera mais velha pediu às outras que se calassem e, resoluta, disse:
- Embora as leis sejam para ser sempre cumpridas, hoje vamos abrir uma excepção, porque se trata de um caso de vida ou de morte. Vamos abrir o portão e deixar sair o senhor Gladíolo para que ele possa ir ver a sua tia. - E acrescentou – não quero que ninguém saiba desta minha decisão. Não quero que pensem que agora já se pode sair, sem autorização, do jardim das mil flores.
Todos concordaram, acenando a cabeça.
Os Pirilampos correram para o portão, muito contentes, muito brilhantes e com a sua luz, agora intensa, iluminaram todo o caminho que ficava para além do velho portão e corriam sem parar para cá e para lá, à espera do Gladíolo que se deixara ficar no mesmo lugar quieto e calado, ainda sem perceber muito bem o que se estava a passar.
A Hera de cem anos, ao ver o Gladíolo ali especado sem se mexer, disse:
- Senhor Gladíolo, o portão está aberto, o senhor pode sair e ir visitar a sua tia, mas, por favor, não se demore muito.
- Sim, sim… - balbuciava o Gladíolo com os olhos muito abertos de espanto – sim… eu vou… muito obrigado por tudo… eu não vou demorar, não senhor…
O Gladíolo avançou e com três passos alcançou o portão verde do pequeno mundo em que sempre viveu e de onde nunca tinha saído. Estava verdadeiramente feliz e ansioso por conhecer tudo o que ficava para além daquele belo jardim florido. Agora que estava do lado de fora daqueles quatro muros de pedra e que o portão se fechava de novo, deixando-o do outro lado daquele pequeno mundo colorido e perfumado, cheio de pequenos seres que iam agora viver sem a sua presença, ele começava já a sentir medo da solidão.
- Será que se vão esquecer de mim? – interrogava-se o Gladíolo já com saudades dos seus amigos.
- Não… ninguém me esquecerá. Tenho a certeza! Todos irão sentir a minha falta e desejar que eu volte rapidamente – afirmava baixinho o Gladíolo, muito convicto.
O Gladíolo começou a caminhar lentamente entre as velhas árvores de grandes e frondosas copas que ladeavam aquele longo caminho desconhecido e sentia-se realmente muito só.
- Não devia ter vindo sozinho, devia ter trazido alguém para me fazer companhia, para conversar… - pensava ele, caminhando sempre sem olhar para trás.
O dia clareava, o sol debruçava-se sobre a terra iluminando-a e aquecendo-a. Os pássaros deixavam os seus ninhos, voando à doida num chilreado constante e ruidoso. Mil borboletas coloridas esvoaçavam sobre as papoilas de um campo de trigo loiro. Vários insectos zumbiam perto de uma fonte de água clara e fresca que corria em fio.
O Gladíolo observava tudo com muita atenção. Afinal, tudo aquilo era novo para ele!
- Que flores tão estranhas, com pétalas tão finas que se machucam até com a leve brisa que se faz sentir! – pensava o Gladíolo, admirado, olhando insistentemente para as papoilas.
As Papoilas, quando se aperceberam do olhar indiscreto do Gladíolo, curvaram-se um pouco envergonhadas, escondendo as suas pétalas vermelhas, maculadas de negro, entre as suas folhas verdes recortadas.
O Gladíolo, muito intrigado e cheio de curiosidade, decidiu meter conversa com aquelas flores que lhe pareciam vulgares, mas ao mesmo tempo tão frágeis, de pé fino e peloso.
- Olá! Como se chamam? – perguntou.
- Somos Papoilas! – exclamaram elas todas em coro, com voz fina. – Somos flores do campo espontâneas e nascemos nos trigais. Como vês enfeitamos qualquer campo com os nossos vestidos de seda vermelha.
- E tu, de onde vens? – perguntaram as Papoilas já mais à vontade.
- Eu venho do jardim das mil flores e ando a viajar. Quero conhecer o mundo e todas as flores que o povoam – respondeu muito animado, o Gladíolo, com voz cantante.
- Se quiseres… nós podemos apresentar-te outras flores do campo! – disse entusiasmada uma papoila que parecia muito nova, pois tinha ainda a sua saia de pétalas vermelhas muito amarrotada.
O Gladíolo não pareceu ficar muito satisfeito com a ideia, ele preferia conhecer flores mais chiques, daquelas que se vestem de veludos e de sedas finas, lisas e brilhantes, de boa qualidade, sem manchas nem rugas. Antes de responder, pensou… pensou… e concluiu que não perdia nada em conhecer as tais flores do campo.
- Está bem… as senhoras podem apresentar-me a todas as flores do campo – decidiu, contente por ter encontrado novas amigas, embora continuasse a achá-las um pouco vulgares e sem graça com aqueles vestidos de seda barata e amarrotada.
O Gladíolo avançou pelo campo de trigo e juntou-se às papoilas que tentavam alisar as saias dos seus vestidos escarlates.
- Vamos! – ordenou o Gladíolo muito direito, muito bonito, com as suas pétalas muito frescas e brilhantes e apontando, com as suas folhas finas e longas, o caminho.
E lá foram todos pelo campo fora, em procissão, conversando e rindo.
- Lá estão eles! – disse uma Papoila, indicando um recinto povoado de flores pequenas com caules pequeninos.
- Como se chamam? - indagou o Gladíolo, quando as avistou.
- São Malmequeres do campo – respondeu a Papoila mais nova.



Continua

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Nas férias: Uma história com flores

Olá!
Estamos de volta. Já estávamos com saudades deste tempo incerto, depois de ter "torrado" com o calor que fazia lá para baixo. Depois vos conto...
Agora, para relaxar um pouco, vou contar-vos uma história.

Andava a arrumar papéis e livros. Muitos livros e papéis têm os professores para arrumar nesta altura do ano e o pior é que se mantêm no seu lugar, nas estantes, arrumadinhos, por tão pouco tempo! Mas, estava a dizer que estava a arrumar papéis, papéis e mais papéis… quando reparei num texto, escrito pelo meu filho há pelo menos nove anos (ele frequentava ainda o 6.º ano de escolaridade), fruto de um trabalho de casa, pedido pela professora M. M. S., a propósito da leitura/análise do conto de Sophia de Mello Breyner, O Rapaz de Bronze. O texto é uma história, protagonizada por flores. Depois de uma leitura atenta do referido texto, decidi, partilhá-lo convosco.
Aqui vos deixo, então, uma história com flores, escrita por uma criança de onze anos.


Era uma vez um gladíolo vermelho, cor da paixão, que já estava cansado de estar naquele jardim, sempre no mesmo sítio, sempre à espera de ser colhido para enfeitar uma sala qualquer.
- Não vou esperar mais! – pensou o Gladíolo.
Compôs as lindas pétalas das suas flores dispostas em espiga e decidiu partir.
Afinal, ele não conhecia nada, nem ninguém. Só aquele jardim, de onde nunca saíra: via sempre as mesmas flores, as mesmas plantas, o mesmo lago, os mesmos pássaros…
- Já é tempo de conhecer o mundo!
E lá foi ele, muito feliz, a saltitar pé ante pé.
Era bom que ninguém desse por isso!
Ele queria sair dali sem deixar saudades, sem se despedir de ninguém, nem da sua amiga Orquídea.
O Gladíolo aproveitou a hora em que estavam todos a dormir para sair. Ele não queria dizer onde ia, com quem ia, por onde ia… nada!
- Afinal, ninguém tem nada a ver com a minha vida. Eu sou muito importante e não tenho de dar satisfações a ninguém – pensava o Gladíolo, enquanto se dirigia para o grande portão verde do jardim.
Mas, havia um problema! Como passar o portão sem que as suas guardiãs o vissem?
As Heras, plantas trepadeiras de folhas brilhantes em forma de coração, guardavam e cuidavam daquele jardim. Elas trepavam, arrastavam-se e rastejavam por todo o lado: pelos muros, pelo chão, em redor das árvores; enleavam-se nas outras plantas e flores, não as deixando fugir, nem afastar dali; conheciam todas as flores, plantas e árvores; atiravam os seus longos braços e apanhavam e expulsavam todos os intrusos que, sorrateiramente, queriam entrar ali sem autorização.
Também ele iria ter dificuldade em passar por elas sem ser visto, sem ser alvo de um longo interrogatório.
- Vai ser difícil passar pelas heras! – dizia o Gladíolo, pensando alto.
E continuava a matutar, a cismar, tinha de arranjar uma boa desculpa para poder sair sem ser confrontado com perguntas a que não queria responder.
- Poderei dizer-lhes que vou visitar alguém da família, talvez elas acreditem e não façam mais perguntas. De todo o modo, tenho de tentar! Não posso deixar morrer o meu sonho!
Então, encheu-se de coragem e avançou os poucos metros que lhe faltavam para alcançar o lindo portão verde, guardado pelas velhas heras matreiras que rondavam aquela área, não deixando ninguém aproximar-se.
- Alto aí! Quem vem lá? – perguntaram as Heras em coro.
O Gladíolo manteve-se calado por instantes e pensou:
- Já é noite cerrada, talvez elas não me reconheçam e eu passe despercebido.
Mas logo, as suas vozes grossas e pausadas se fizeram ouvir como um longo eco:
- Pára! Não podes sair sem autorização. Aproxima-te devagar.
- Chamem os Pirilampos, chamem os Pirilampos – gritaram, seguidamente, cheias de autoridade.
Os Pirilampos, pequenos insectos que imitem luz na escuridão, eram os lampiões do jardim. Eles circulavam por todo o lado, iluminando cada recanto e estavam sempre às ordens das Heras para as ajudarem a reconhecer os intrusos que queriam penetrar naquele recinto florido e todos os que pretendiam sair sem licença.
Mal ouviram o chamado das Heras, os Pirilampos apareceram, vindos de todos os cantos do jardim como uma chuva de pequenas luzinhas.
O Gladíolo, de repente, viu-se rodeado de mil pequenos focos de luz que o iluminavam de alto a baixo.
As Heras cercaram logo o Gladíolo, agarraram-no e começaram todas, ao mesmo tempo, a fazer-lhe perguntas:
- Para onde vais?
- Porque saíste do teu lugar?
- Queres deixar o jardim que é o teu lar?
- Vais abandonar todos os teus amigos?
O Gladíolo já estava tonto com tantas perguntas, mas o pior era não saber o que responder a cada uma delas. Começou por balbuciar a medo que pretendia somente visitar uma tia que estava gravemente doente. A sua voz tremia tanto que nem a si próprio conseguia convencer.
A hera mais velha ergueu-se do meio das outras, com um ar muito autoritário, porque tinha mais de cem anos e era ela quem passava as licenças de saída a todas as flores, plantas e árvores do jardim e disse:
- Não deu entrada no meu gabinete qualquer pedido de saída em seu nome, senhor Gladíolo. E como o senhor sabe sem a devida permissão, assinada e carimbada por mim, não pode sair.
O Gladíolo tentava ensaiar uma boa desculpa, mas não conseguia lembrar-se de nada que fosse bastante convincente e que não deixasse qualquer dúvida na mente daquela hera teimosa e mandona. Sabia apenas que queria sair dali, que tinha de realizar o seu belo e agora longínquo sonho. Que fazer? Que dizer? Ele não tinha qualquer ideia… Só sabia que queria conhecer o mundo, conhecer outras plantas, outras árvores, outras flores, outros lagos, outros pássaros, outros insectos, outros jardins… Lá no fundo do seu coração, ele sabia que ia ser difícil convencer as Heras de que saía apenas por pouco tempo, que seria apenas uma visitinha rápida a um familiar enfermo.
- Tenho de tentar – pensou ele. – Não tenho nada a perder!
- Senhora Hera, eu sei que é de lei pedir autorização para sair do jardim, mas as Abelhas trouxeram até mim uma triste notícia e eu não tive nem tenho tempo para pedir a licença que me permitirá sair do jardim. – disse o Gladíolo, muito convincente e senhor de si.
As Abelhas eram as mensageiras das flores: elas traziam e levavam as mensagens; segredavam aos ouvidos das flores todas as novidades que ouviam nos outros jardins; comunicavam notícias boas e notícias más. As flores adoravam as abelhas e esperavam sempre ansiosamente a sua chegada, porque estas, além de serem excelentes mensageiras, também lhes limpavam o pólen, aquele pó amarelo, que lhes sujam as suas lindas pétalas. Assim, com as Abelhas como amigas, elas estavam sempre bem informadas e mantinham limpas e belas as suas lindas pétalas coloridas.
- Ah! Então a culpa é das Abelhas! – exclamou a Hera mais velha.
- Que triste notícia lhe trouxeram elas? – perguntou outra, muito curiosa, logo de seguida.
O Gladíolo ordenou as suas lindas flores, alinhou as suas folhas finas e compridas e com voz segura disse:
- A minha tia está muito doente, quase a morrer e eu queria vê-la. É uma irmã da minha mãe de quem eu gosto muito!
A velha Hera que tinha sempre resposta para tudo e que achava que as leis eram para serem cumpridas, ripostou:
- Senhor Gladíolo, a licença pede-se e em três dias o senhor sabe a resposta ao seu pedido.
O Gladíolo não ficou calado e respondeu prontamente, bastante indignado:
- Três dias? É muito! Ela pode morrer antes disso. Não há tempo a perder! Eu tenho de ir antes que seja tarde de mais! Se não me deixarem ir, serão vocês as únicas responsáveis…
As Heras olharam umas para as outras preocupadas, mas não muito convencidas. Os Pirilampos, que voltejavam sem parar em redor do Gladíolo, pararam por instantes inquietos e expectantes. As Heras mostravam-se, agora, muito perturbadas. Elas não queriam passar por cima da lei.
- As leis devem ser sempre cumpridas – dizia pausadamente, martelando cada sílaba, a Hera mais velha.
- E se a tia morre? – perguntou outra Hera cheia de pena do Gladíolo que a olhava cada vez mais consternado.
- Ele nunca mais a verá – afirmou a Hera com mais de cem anos.
- Não podemos fazer mesmo nada? – perguntaram as outras Heras em coro.
O Gladíolo mantinha-se calado, curvado, à espera.
Os Pirilampos permaneciam parados à volta do Gladíolo, tristes e quase sem luz.
Tudo estava silencioso naquele jardim: as flores, as árvores, as ervas, todas as plantas dormiam profundamente; a água do lago, muito quieta, brilhava à luz da lua, parecendo um grande espelho oval; os pássaros, recolhidos nos seus ninhos, dormitavam aconchegados.
Só perto do velho portão verde havia vida: as Heras discutiam, porque não concordavam umas com as outras e ralhavam e gritavam alto, já descontroladas; o Gladíolo, muito calado e quieto, ora olhava para umas, ora olhava para outras, sem saber o que dizer ou fazer; os Pirilampos recomeçaram a voar muito baixinho e muito devagar, iluminando apenas a cara tristonha do Gladíolo.
...


Continua

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Férias

É já amanhã que vou de férias, bem merecidas por sinal.

Foi um longo ano, duro e cansativo, mas correu muito bem - para mim e para os meus alunos, principalmente os do 9.º ano que "brilharam" no exame nacional. Nem todos os professores se podem gabar de não terem tido negativas no exame, não é? Portaram-se muito bem, os meus alunos, e merecem também umas férias excelentes.

Bem, como vou estar ausente durante um tempinho, não queria partir sem vos deixar umas "coisinhas giras", ideias para usar na praia e não só. Também à beira-mar sabe bem estar bonita, podemos sempre realçar a nossa beleza natural com um pequeno ornamento para avivar a nossa linda cor de Verão.

Entretanto, vou rumo ao Sul à procura de inspiração, ânimo e força para enfrentar, depois, com renovada energia, mais um ano de trabalho.


Até breve!