Primeiro
foi um olhar, depois um sorriso contido, um doce pestanejar verde... Os olhos
afastaram-se. Ela enrubesceu. Torceu as mãos. De repente, não sabia o que fazer
com elas. Baixou os olhos, enterrando-os no chão.
Ele riu
do seu embaraço, parecia-lhe uma menina que acabara de fazer uma traquinice.
Aproximou-se. Como ela mantinha a cabeça baixa, com um dedo, levantou-lhe o
queixo. Sorriu-lhe descaradamente. Ela levantou os olhos e franziu a testa.
Levantou a sobrancelha esquerda, questionando, fazendo uma, muitas... perguntas
mudas... Ele continuava a sorrir-lhe. Ela inclinou um pouco o rosto, olhando-o
de lado, à espera de respostas.
Sonhou
tanto com aquele encontro e agora parecia uma pateta. Não sabia o que fazer, o
que dizer.
- Não sabes
onde colocar as mãos? – perguntou-lhe, algo divertido.
Ela não
respondeu, sorriu. Ele estendeu-lhe a sua mão:
- Uma vem
para aqui! É da minha... A outra logo achará o que fazer.
Sem saber
porquê, deu-lhe a mão. Ele agarrou-a, afagou-a, apertou-lhe os dedos.
- Tens umas
mãos bonitas, dedos compridos, unhas bem feitas... Tens mãos de artista! És,
com certeza, muito habilidosa.
Sorriu-lhe.
Ele
levou-lhe a mão aos lábios e beijou-lha levemente.
- É suave a
tua pele. Vamos.
Puxou-a
pela mão e correram pela estrada como dois miúdos.
- Vou
mostrar-te uma coisa.
O sol
descia lentamente. O dia corava. Lá ao longe a água rebrilhava. Era o rio que
desaguava no mar, onde o doce licor se misturava com a água salgada. E o sol
deitava-se sobre as águas num colorido cintilante, faiscante.
- Que
lindo!
Pararam a
olhar o horizonte tingido, deslumbrados.
Ao seu
redor, passavam apressadas as pessoas que tinham urgência em chegar a casa. Não
olhavam o rio nem o sol e até eles lhes eram totalmente invisíveis.
De mãos
dadas, ficaram a olhar para a linha que tocava o céu.
- Tenho
vontade de te beijar!
Largou-lhe
a mão, virou-a para si. Ficaram frente-a-frente. A luz do pôr-do-sol flamejava
à volta dela. A brisa suave agitava-lhe os cabelos louros. Parecia-lhe irreal, uma ilusão, um sonho... Pestanejou várias
vezes para se certificar que era real...
- És tão
bonita! – disse num tom sério.
Ela
sorriu. Os olhos de ambos encontraram-se. Ele sorriu. Puxou-a para si, pela
cintura, e beijou-a suavemente.
- Os teus
lábios parecem de veludo.
Apertou-a
mais contra si e ela deixou-se ir. De repente, já não havia rio nem mar nem
sol... Tudo desaparecera.
Abriu os
olhos, passou as mãos pelo cabelo, pela boca a arder, a pulsar...
As
pessoas corriam. Lá longe, o sol afogava-se no mar sem um grito, sem um ai...
Ergueu-se,
compôs a blusa que lhe descaía do ombro. Sorriu. Olhou em redor. Estava só. Ao
lado, uma multidão azafamada... Todos tinham pressa de chegar a casa!
1 comentário:
Adorei o texto.
Uma história linda, apesar de simples.
Rita, tem uma óptima semana.
Beijos.
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