A toalha, o risco e a uniformização da língua
A minha mãe telefonou-me e pediu-me que fosse urgentemente lá a casa.
Perguntei se havia algum problema, que não, que estava tudo bem, mas que fosse,
que era importante.
E lá fui. Apresentou-me uma toalha que bordou e pediu-me para ver se
havia algum risco na toalha, uma mancha... Olhei-a espantada: um risco?
- Sim um risco, uma sujidade, uma nódoa... Sei lá!
Virei e revirei a toalha, inspeccionei-a ao milímetro. Nada de risco nem
de nódoa nem de mancha... Nada! Apenas um bordado perfeitíssimo.
- Não encontro risco nenhum.
- Nem eu e, olha, já lavei a toalha duas vezes.
Pus um ar inquiridor e admirado, com a sobrancelha a apontar para o céu.
- A vizinha diz que a toalha tem um risco e até já ma pediu para o
tirar.
- A vizinha diz que a toalha tem um risco!?
- Ela viu a toalha no estendal, à janela...
A minha sobrancelha subiu mais ainda, e na minha testa desenharam-se uma
quantidade de linhas inquisidoras...
- A vizinha conseguiu ver um risco na toalha que estava à janela a enxugar?
Que olhos abençoados ela tem!
- Pois, mas eu não encontro risco nenhum e já estou a dar em doida.
- Olha lá, a vizinha, de quem falas, é aquela que é brasileira?
- É, é mesmo essa! Que chata, deve achar que eu não sei lavar a roupa!
Vê lá tu que me pediu a toalha para tirar o risco!
Desmanchei-me a rir.
- Tu ris?
- Ó mãe, ela só quer passar o desenho da toalha, porque quer, com certeza,
fazer uma toalha igual à tua. Ela não quis dizer que tu não sabes lavar a roupa
nem que a toalha tem um risco...
- Não?...
- Não! Podes ficar descansada.
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