Fui ao cabeleireiro. Quando vou ao cabeleireiro, aproveito para pintar as unhas dos pés, das mãos... Odeio perder tempo! E estar no cabeleireiro só a arranjar o cabelo é uma seca! Ler revistas, podia ser uma boa ideia, mas é uma perda de tempo. Não se aprende nada! Estava então de volta do telemóvel a ler os emails, algo bastante mais útil do que ler revistas de escândalos, de codrelhices, cusquices, chatices... enquanto um me secava o cabelo e a outra me pintava as unhas dos meus pezinhos de cinderela (como ela diz!)...
Ao meu lado, sentou-se uma senhora para pintar o cabelo. Olhou-me pelo espelho, com atenção, observei-a do mesmo modo, mas sem grande interesse. Os emails eram muitos e havia que aproveitar o tempo!
- Estudei em Óbidos! No 9.º ano, tive uma professora de francês que me desesperava... a mim e aos meus colegas! No Inverno, as aulas eram dadas com as janelas fechadas e era um suplício.
Olhei para o espelho, para a cara da senhora ao meu lado, procurei traços conhecidos. Nada! E ela tornou:
- Era a árvore de natal! Sempre muito bem ornamentada! Penduricalhos e fios e fitas e laços...
Levantei a cabeça e procurei no espelho os olhos da minha companheira de cabeleireiro, daquela manhã... Os seus olhos nada me diziam! Ela apercebeu-se do meu olhar e virou-se para mim.
- A árvore de natal usava, além dos muitos ornamentos, um perfume poderosíssimo, deixava um cheirete na sala e um rasto nos corredores que nos intoxicava a todos.
Sorri e ela sorriu!
- A seguir, tínhamos Português. A professora era novinha. Dava aulas de porta e janelas abertas com frio ou sem frio, por causa do perfume enjoativo que ficava e persistia impregnado na sala.
Rimos ambas com vontade!
- Lembra-se?
- Claro! Como me poderia esquecer?
- Mal a professora de francês saía, nós abríamos as janelas todas e a porta, tudo escancarado! No Inverno, era terrível, mas bem pior era o aroma que aspirávamos durante a aula. Depois, era respirar a plenos pulmões o ar, a corrente de ar... A aula de Português era uma benção, era fresca e reparadora... E havia a sua voz!
- A minha voz! Engraçado, os meus alunos e ex-alunos falam muitas vezes na minha voz!
- Quando a vi, reconheci-a logo e a sua voz é igual. Acho que a reconheceria só pela voz, se não estivesse igual.
- Igual! Sabes uma coisa? O que os meus alunos e ex-alunos têm em comum é a simpatia! Mas, estamos aqui a falar e... lamento muito... não consigo lembrar-me de ti!
- É natural, a professora era uma, nós trinta! Tânia, sou a Tânia.
- Sim. Tive uma Tânia em Óbidos!
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