quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Origem da língua Portuguesa




Origem da língua portuguesa: latim vulgar

Já reparaste que o português do séc. XVI, que é usado no Auto da Barca do Inferno, é muito diferente do actual?
Conhecer a origem e a evolução da língua portuguesa pode ajudar-te a compreender o porquê da utilização de certas palavras.
O português provem do latim, língua que se falava na região do Lácio, cuja capital era Roma. Os romanos através das suas conquistas construíram um grande império, levando a que muitos povos conquistados passassem a falar o latim. No séc. III antes de Cristo, os romanos conquistaram também a Península Ibérica. Como os soldados que ocupavam os territórios conquistados eram quase todos incultos e iletrados, o latim que falavam era o latim vulgar, usado por pessoas com pouca instrução e, por isso, muito diferente do latim falado pelas pessoas mais cultas que se expressavam no chamado latim erudito. 
Foi através do latim vulgar, que se ia espalhando pelas terras conquistadas pelos romanos e misturando com as línguas já faladas nesses locais, que algumas línguas foram nascendo. As que se formaram a partir do latim designam-se por línguas novilatinas e são o português, o castelhano, o francês, o italiano e o romeno.
Noção de estrato, substrato e superstrato
A língua actual não é só constituída pelo latim. Como acabámos de ver, quando os romanos conquistavam um novo território, nele já habitavam outros povos que tinham a sua própria língua. Estes passavam a misturar a sua língua com o latim vulgar, dando origem às diferentes línguas. Mais tarde, outros povos chegaram a esses territórios, trazendo também a sua influência. Assim, a língua que hoje falamos parece construída em várias camadas ou estratos.
Estrato 
Designa a língua que se impôs numa determinada região, sobrepondo-se às que já existiam e às que surgiram mais tarde.
A maioria das palavras portuguesas é de origem latina.
Substrato 
Refere-se às línguas que já existiam antes do estrato e que deixaram as suas influências, pois não desapareceram completamente. No caso da língua portuguesa, o substrato mais importante é o céltico. Exemplos de palavras de origem celta são: camisa, cabana, dólmen, etc.
Superstrato
Refere-se às línguas que surgiram depois do estrato, através de povos que ocuparam essas regiões, deixando também as suas influências. Os superstratos germânicos e árabe são os que mais marcaram a língua portuguesa. Dos germânicos ficaram vocábulos relacionados com actividades guerreiras: guerra, bandeira, dardo, etc.
Os árabes deixaram muitas palavras, normalmente começadas por “al”: algarismo, álgebra, Alcácer do Sal, Algarve, etc..
Palavras divergentes e convergentes
Como viste, o latim vulgar esteve na origem da língua portuguesa.
Mas, durante o séc. XVI, o século do Renascimento, em que se procurou imitar a civilização greco-latina, adoptaram-se palavras novas retiradas directamente do latim erudito ou clássico
Diz-se então que estas palavras chegaram por via erudita, porque entraram tardiamente na língua portuguesa, entre os sécs. XVI e XIX, e que, por isso, sofreram poucas alterações. 
As palavras que entraram por via erudita estão, normalmente, mais próximas do étimo latino, porque não sofreram tantas evoluções.
As palavras que entraram no nosso léxico, aquando da romanização e que, por isso, sofreram várias evoluções ao longo dos tempos, diz-se que chegaram até nós por via popular, porque se afastam muito do étimo latino.
Exemplo: plenum > cheio (via popular); pleno (via erudita).
arenam > areia (via popular); arena (via erudita)

Pode verificar-se o inverso: 
Palavras iguais, provenientes de étimos latinos diferentes e com significados diferentes.
Exemplo: rivu  →  rio (substantivo)
rideo  →  rio (verbo rir)
sanu  →  são (adjectivo)
sunt  →  são (verbo)
sanctu →  são (adjectivo)
As palavras com étimos latinos e significados diferentes que dão origem a palavras que, embora com significados diferentes, têm a mesma forma, o mesmo significante (som), dizem-se CONVERGENTES.
As palavras que provêm do mesmo étimo latino, com formas diferentes(via popular e erudita) e significados iguais dizem-se DIVERGENTES.

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